Composto de vitaminas A, D e E, de uso veterinário, é vendido ilegalmente, o que mostra falhas na fiscalização
Brasília – É difícil medir com exatidão o poder devastador das “bombas” e demais substâncias usadas para melhorar a performance na atividade física. Não há no Brasil números sobre mortos ou internados por esse motivo. O que se tem, de concreto, é o drama silencioso vivido por pais, mães, irmãos, filhos, maridos e mulheres. Entre os produtos mais letais estão os de uso veterinário — muitos com venda limitada e controlada. Só em 2012, a Polícia Federal apreendeu 1.110 medicamentos ilegais para animais. A fiscalização é falha nos pontos de venda.
Mike Jefferson Silveira de Lira não teve a mesma sorte. O rapaz, de 26 anos, morador de São José do Rio Preto (SP), se achava franzino, apesar do abdômen definido, dos braços musculosos e da força acima da média. Segurança de uma boate, o rapaz já usava esteróides quando recebeu o conselho de um amigo para injetar nos braços anabolizantes para cavalos. Mike não teve nenhuma dificuldade para comprar o produto, de uso restrito veterinário.
O Equi-boost, indicado pelo amigo do segurança, é um esteroide exclusivo para animais de competição. Com a primeira injeção, o jovem já começou a se sentir fraco e chegou a desmaiar. Mike aplicou novamente o anabolizante e teve três paradas cardíacas. Morreu em casa, no colo da mãe, deixando uma filha de apenas 1 ano.
A morte ocorreu em setembro de 2009, e somente agora, quase quatro anos depois, a família teve forças para entrar na Justiça contra a empresa agropecuária que vendeu o anabolizante de cavalo a Mike. “Venderam sem receita, sem sequer questionar por que ele poderia querer um remédio de cavalo”, acusa a mãe do jovem morto. A Polícia Civil, que investigava o caso à época, chegou a pedir a exumação do corpo do rapaz um mês após a sua morte. Mas o laboratório que fez os exames no cadáver alegou que não tinha material específico para identificar a presença do anabolizante.
O Ministério da Agricultura é responsável por fiscalizar os cerca de 35 mil estabelecimentos que vendem remédios veterinários no Brasil. Coordenador substituto da área na pasta, Egon Vieira da Silva reconhece as dificuldades. “Mal conseguimos visitar todas as casas uma vez por ano. Dependemos das secretarias de Agricultura dos estados ou de denúncias”, lamenta Egon. De acordo com ele, ciente das ilegalidades na venda dos produtos, o governo reviu a lista de substâncias de uso e comercialização proibidos recentemente: de cerca de 30 itens, a relação passou a ter 120.