Antequam noveris, a laudando et vituperando abstine. Tutum silentium praemium.

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01 a 07 de junho de 2015

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Problemão – Advérbio, conjunção e substantivo masculino, mal, em nosso idioma desde 1255, e o seu parônimo mau, adjetivo, interjeição e substantivo masculino, em nosso idioma desde a mesma época, fazem que muita gente boa escorregue nos textos jornalísticos. Inda outro dia, brilhante comentarista política escreveu: “Ficou mau para o governo”. Deve ter pensado no mau governo da gerenta incompetenta e trocou mal por mau.

Todo santo dia dou graças aos deuses por não saber português. Isto porque não há nada mais chato do que texto de gramático. O sujeito sabe tanto, estudou tanto, que se confunde e me faz lembrar de um amigo, recém-formado em agronomia, que resolveu plantar roça de milho na fazenda do sogro. O velho administrador plantou pelo método tradicional, enquanto o jovem agrônomo usou todos os conhecimentos da moderna Agronomia.

Na colheita, o administrador obteve o rendimento normal e o agrônomo não colheu a metade. Arrasado, foi consultar o velho administrador sobre os seus erros no plantio e na condução da lavoura, ouvindo a seguinte explicação: “É que o senhor, doutor, botou muita ciência naquela roça”.

Texto com muita gramática perde a palatabilidade, mas há coisas básicas: mau e mal, ao encontro e de encontro, a distância e à distância de 100 quilômetros etc. É por isso que existe o ensino a distância em que a faculdade fica à distância de mil quilômetros do estudante.

Do milho à pipoca devo constatar que os leitores cartesianos são chatos. Se você não gosta de um partido político ou de um governo, meu caso com o PT, tudo que recebe contra o partido e o governo deve ser repassado via e-mail. Verdade ou não, pouco importa: é receber e repassar. Aí o cartesiano constata que a crítica foi “montada”, que a professora do vídeo repassado não pode ser tão analfabeta. É, bebé? O analfabetismo plantado no vídeo é pinto diante da ladroeira verdadeira, sem disfarces, sem ambages, aprontada pelo pessoal ligado ao pai do Lulinha e à mãe da Paula. 


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Estugarda – Magistrados são humanos. Alguns delinquem, outros podem ficar malucos, alguns já eram malucos quando aprovados nos exames que avaliam os conhecimentos jurídicos sem filtrar os casos psiquiátricos. Sendo humanos podem errar, mas há mecanismos que corrigem os erros nas instâncias superiores. Last but not least, são obrigados a julgar de acordo com as leis, que não foram escritas por eles e sim pelos senhores e senhoras do poder legislativo, não necessariamente versados nos assuntos sobre os quais legislam.

No Google, o dicionário Linguee tem uma porção de traduções de last but not least para o português: “finalmente”, “por último”, “em último lugar, mas não menos importante”, “também” e as mais que o leitor queira pensar, quando o importante, o fulcro deste alto philosophar, é o seguinte: muitas leis são idiotas e os magistrados são obrigados a julgar por elas.

Há juízes, desembargadores e ministros, alguns do Supremo Tribunal Federal, assaz originais. No Tribunal de Justiça do Rio há um desembargador notabilizado por sua vocação absolvente: absolvente feminino, masculino e neutro. Marqueteiro, fez carreira absolvendo todo mundo. Tivemos outro dia o caso de um juiz federal que dirigiu um Porsche, deu uma voltinha num veículo fabricado em Estugarda, Alemanha, pela Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG, geralmente abreviada para PORSCHE AG ou somente PORSCHE, uma das principais marcas de automóveis esportivos do mundo criada na Áustria e, hoje, sediada na Alemanha em Stuttgart, que os portugueses chamam de Estugarda.

Pelo “crime” de dar uma voltinha no carro apreendido na sala de visitas da residência do mineiro Eike F. Batista, desejo de nove entre dez brasileiros portadores de Carteira Nacional de Habilitação, o juiz federal foi crucificado pela mídia e pelas “redes sociais”. É verdade que também surrupiou algum dinheiro que estava guardado em sua vara, isto é, na vara federal. Menos que um milhão de reais, uma espécie de troco diante dos roubos descobertos pela Operação Lava-Jato.  Donde se conclui que é melhor não concluir nada e deixar como está para ver como é que fica.


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Orientação – Saber onde está e o caminho que deve seguir é preocupação das mais louváveis do homem sério. Antes de o GPS ter sido vulgarizado, famoso jornalista mineiro, casado com uma senhora francesa que dirige muitíssimo bem, viajava no banco do carona com duas bússolas: uma americana, outra alemã. São hilariantes as histórias contadas pelos amigos que viajaram com o casal nos Estados Unidos, sempre que as bússolas do jornalista não concordavam com as ruas das cidades divididas conforme os pontos cardeais. Tanto quanto o conheço, desconfio de que hoje viaja orientado por três GPS dos mais caros à venda no mercado.

No hipercentro de São Paulo, lá se vão alguns anos, dia quente, automóvel sem ar-refrigerado, vidros abertos, sinal fechado, a mulher ao volante e o jornalista com duas bússolas e vários mapas, um assaltante encostou a moto, apontou o revólver e levou o relógio Cartier da conductrice. Seu marido e senhor só deu pelo assalto depois que já estavam longe, mas foi tranquilizado com a notícia de que o Cartier era falso e tinha custado 60 reais.

Nesta minha espantosa ignorância, pensei que feminino 

de chauffeur fosse chauffeuseChauffeuse existe, mas significa fauteuil, chaise basse très confortable, poltrona. Talqualmente aquela que me aguarda na sala para fumar o primeiro charutinho do dia. 


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Comparações – É chato transcrever tabelas que falam mal dos brasileiros, quando se sabe que fomos eficientíssimos em várias áreas como no futebol de antigamente, no arco e flecha e ainda somos no frevo e no samba. Temos agora o estudo feito pela organização americana The Conference Board que reparte o PIB, conjunto de bens e serviços, por pessoas ocupadas, mostrando que nas Américas só estamos à frente da Bolívia, glorioso país superiormente presidido pelo cocalero Juan Evo Morales Ayma.

Em US$ por paridade de poder de compra, o boliviano produz 10.786 contra os admiráveis 19.833 do brasileiro. Infelizmente a comparação não se limita à Bolívia. Vejamos os 19.833 do brasileiro comparados com os 20.105 do colombiano, com os 22.242 do peruano, com os 31.284 do uruguaio, com os 42.113 do chileno e com os 114.014 do norte-americano. Dividindo 114.014 por 19.833 minha calculadora chinesa de nove reais informa: 5.748. Sinal de que multiplicando o PIB do brasileiro por 5.784 temos a produtividade das pessoas que trabalham nos Estados Unidos.

Dez anos atrás estive hospedado na casa de amigos em Miami, Flórida. Os donos da casa saíam para trabalhar e o philosopho estava quieto numa poltrona, fumando seu primeiro charuto do dia, quando “adentrou” o recinto uma faxineira colombiana, que fazia a faxina da casa dúplex uma vez por semana, das 8h às 16h.

Chegou de carro, cumprimentou-me em inglês, respondi em portunhol, e a moça começou a trabalhar: US$ 80 por dia, que os donos da casa deixaram em cima de uma cômoda. Nem lhe conto, caro e preclaro leitor, o que vi a colombiana fazendo enquanto não saí para almoçar num shopping próximo. Lavou, secou e passou toda a roupa da casa, aspirou, espanejou, alimpou vidros, louças, talheres, banheiros, aguou as plantas, um fenômeno.


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Ferocidade – Quatro da matina, depois de seis horas bem dormidas, o philosopho diante do computador. E-mails lidos e respondidos, lembrei-me de que Houaiss aventava a hipótese de ter existido o verbo convinhar quando abonou o adjetivo de dois gêneros convinhável, datado de 1278, que significa conveniente. Fui ao Google, cliquei convinhar e há pouco mais de 100 entradas, algumas em blogs transcrevendo textos meus de 2010, uma empresa chamada Convinhar Cia. Ltd., acho que mexicana, e uma entrevista de Ana Salgado à SIC, televisão portuguesa.

Pois muito bem: são inimagináveis a ferocidade, os palavrões, o xingatório dos cavalheiros e damas, presumivelmente portugueses, à moça entrevistada pela SIC. Antes da internet, como é que as pessoas extravasavam essa ferocidade? Sim, porque sempre existiu um sem conto de pessoas que se manifestam, por exemplo, nos loucos ferocíssimos que aderem ao Estado Islâmico.

Assustado com o que li nos tais comentários, liguei a tevê a tempo de ouvir que a senhora Cristina Elisabet Fernández de Kirchner estava completando 12 anos de kirchnerismo na Argentina. Seu marido e senhor, Néstor Carlos Kirchner, presidiu o país de 25 de maio de 2003 até 10 de dezembro 2007 e ela a partir de 10 de dezembro de 2007.

Fico imaginando a senhora Juan Evo Morales Ayma ocupando a presidência da Bolívia e a advogada e deputada Cilia Flores, que “contrajo matrimonio” em 2013 com Nicolás Maduro Moro, conduzindo os destinos da Venezuela. O Brasil, como sempre, deixou passar o cavalo arreado sem aproveitar a ótima oportunidade. Poderíamos ter à frente do governo a senhora Marisa Letícia Lula da Silva, nascida Marisa Letícia Rocco Casa, que tem passaporte italiano, é mãe de lindos filhos e tem, di-lo a Wikipédia, as seguintes condecorações: Grã-Cruz da Ordem do Mérito Real, durante a visita do rei Haroldo V e da rainha Sônia da Noruega, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Duvido que não tenha a Medalha da Inconfidência: todo mundo tem.


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Milagre! – Sei que minha proeza é absolutamente idiota e pode ser feita, mais depressa, por meninos de sete anos, mas fiquei tão orgulhoso da tarefa que me lembrei de um filme do Fernandel contrabandeando vinho em tonéis transportados por um quadrúpede.

Fernand Joseph Désiré Contandin (1903-1971), o Fernandel, disse ao fiscal da alfândega que havia água nos tonéis. Descoberto o vinho, exclamou: “Miracolo!”. Foi o grito que dei na manhã do dia 22 de fevereiro, ao acabar de mudar para o horário normal todos os relógios eletrônicos aqui de casa, que são três, mais os dois de pulso e os dois da cozinha.

Os quatro últimos sempre estiveram à altura do meu saber, que é nenhum, mas os eletrônicos são complicadíssimos. Pensei chamar o técnico em informática, sempre ocupado, que leva dias para aparecer. Seriam dias sem os eletrônicos, que fazem falta nos lugares em que foram entronizados. Daí a ousadia de tentar ajustá-los na manhã do dia 22.

Só me falta, agora, aprender a fazer ovos mexidos. Fi-los a vida inteira, é certo, sempre horríveis: qualquer idiota faz. Tenho observado a comadre trabalhando, agora que aprendeu a fazer os ovos que aprecio. É craque na cozinha, ama cozinhar, mas empacava nos ovos mexidos porque mexia muito e os pedacinhos não tinham a dignidade requerida pelo prato. Qualquer dia tento imitá-la, temendo, de antemão, os respingos inevitáveis.


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Manicomiais – No Brasil, obram muitíssimo bem aqueles que combatem as internações manicomiais, isto é, relativas a manicômio, hospital, estabelecimento para internação e tratamento de loucos, hospício. São hoje desnecessárias, a partir do momento em que todas as formas de loucura reconhecidas pela American Psychiatric Association passaram a ser louvadas, neste país grande e bobo, pela mídia impressa, falada e televisada. Se o sujeito ouve vozes é sensitivo, se lava as mãos de cinco em cinco minutos é limpo, se tem a certeza de ser perseguido é prudente, dizendo-se mestre em rituais ancestrais é um iluminado – e o negócio vai por aí. Temos agora no bairro carioca de Laranjeiras um grupo que resgatou rituais ancestrais, venera um líder, adota a poligamia e vive num casarão “como no deserto – mas sem abrir mão de ar-condicionado e wi-fi”, como li na revista O Globo.

Impossível resumir a matéria de Joana Dale, por isso me limito à chamada da editora Gabriela Goulart: “A Tribo Navi foi criada há quatro anos a partir da Academia da Cabala, uma escola conceituada na cidade nos anos 90. O fundador (de ambas) é Mario Meir, 42 anos, neto do imortal Álvaro Moreyra (morto em 1964),  nascido e criado na Zona Sul carioca, duas faculdades particulares incompletas no caminho. Professor de música e terapeuta espiritual, ele, sua família e alguns integrantes do seu grupo vivem num imponente casarão em Laranjeiras, onde resgatam rituais ancestrais. Explica-se: dançam em redor da fogueira, aprendem a usar arco e flecha, praticam a poligamia”.

Constato que morrendo em 1964, Álvaro Moreyra foi poupado de conhecer o neto gordo e tatuado, cabeludo, que pratica o “ritual da carne” comprando a carne no supermercado. E o meu espaço felizmente zé fini.


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Bacalhoadas – Resolvi escrever sobre mala diplomática – envelope, caixa, contentor ou qualquer outro volume utilizado pelas missões diplomáticas para envio e recebimento de documentos e objetos destinados ao uso oficial coberto pelas imunidades diplomáticas. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas rege as normas de utilização da mala, que não pode ser aberta ou retida, e o negócio vai por aí sem que seja respeitado. Na alfândega brasileira há mercadorias retidas, aguardando julgamento, de um país que tem por aqui 10 diplomatas: são 100 toneladas de produtos supostamente “diplomáticos”, enquanto os EUA, com mil funcionários, trouxeram somente 10 toneladas no mesmo período.

Foi o que vi no Google junto com as fotos de UM MONTE DE DINHEIRO no blog do Garotinho, que suponho seja o esposo da senhora Rosinha Garotinho, a ambos dois ex-governadores do Rio de Janeiro. Em seu blog, o ilustre homem público informa que “uma montanha de euros entrou em Portugal na mala diplomática de Rosemary Noronha”.

Se me não falha a memória, Rosemary Noronha, a Rose, foi aquela que se hospedou no quarto vermelho de uma de nossas embaixadas na Europa (o embaixador continua solto), tinha passaporte diplomático e só viajava no avião presidencial deste país grande, bobo e corrupto quando a excelentíssima senhora dona Marisa Letícia não embarcava com o seu marido e senhor.

Por aqui tudo termina em águas de bacalhau e o peixe teleósteo, no caso daquele bagulho, não deve ter bom cheiro, mas vale o ditado: Para quem é, bacalhau basta. Em latim macarrônico fica melhor: Cui datum erit, baccalaureus sufficit. Compete ao leitor, se latinista, corrigir a frase.

Horroriza-me o jornalismo preocupado em divulgar quem dormiu com quem, onde, quando, como e por quê. Essa última explicação é dispensável: dormiu por dinheiro. Mesmo um bagulho como a senhora citada não se deitaria com um bêbado corrupto se o lubrificante do relacionamento não fosse o dinheiro.

Procurei bacalhau no tradukka.com, que informa: em alemão é kabeljau, em búlgaro tpecka e em galês penfras. Cheguei às 331 palavras sem falar da Val e do novo presidente da Petrobras. Em rigor, tudo que Val e Rose façam não nos diz respeito, salvo pelo fato de ser feito com o dinheiro dos nossos impostos, em aviões oficiais, embaixadas et cetera.


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Tevê – Dia 20 de abril, dez da manhã, GloboNews. Magros, bem-apessoados, o rapaz e a moça anunciam: “Edição das dez horas com o melhor desta segunda-feira”.

Encanta-me começar a semana com as notícias sobre o que há de melhor no mundo, mas a primeira é de assustar: fala da reunião da União Europeia para tratar dos fugitivos norte-africanos que estão chegando à Itália nos barcos que não afundam no Mediterrâneo. E o apresentador informa que sobe de 700 para 900 mil o número de mortos no naufrágio da véspera.

Putzgrila! Uma embarcação com 900 mil passageiros só pode ser a maior do mundo: são seis Maracanãs dos bons tempos. Pouco depois, no mesmo TP, os apresentadores reduzem o número de afogados para 900 pessoas.

TP é o diminutivo televisivo para TelePrompTer, dispositivo formado por tela ou rolo de papel rotativo, adaptável à câmara, usado para expor um texto em letras grandes e permitir, assim, que um locutor ou ator o leia com facilidade.

Depois dessa melhor notícia, os apresentadores informam que a polícia de São Paulo continua procurando os suspeitos da chacina da noite de sábado, quando oito torcedores do Corinthians foram mortos com tiros de pistolas de uso privativo das Forças Armadas.

Homessa! Não seria mais inteligente, em vez de procurar os suspeitos, procurar os autores da chacina? Faz diferença um tiro disparado de arma “privativa” ou de revólver calibre .38?

Em seguida, no mesmo noticiário, uma sucessão de desastres nas estradas do Brasil inteiro com o respectivo número de mortos e feridos, as enchentes em Belém do Pará e nos rios amazônicos mostrando que a turma sabe selecionar o que há de melhor para o noticiário de segunda-feira.

 

FONTE: Jornal da ImprenÇa.


1 Comentário(s)

  1. Suely B Leal

    9 de junho de 2015 às 14:05

    Dura lex sede lex… ( ??? ).

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