Antequam noveris, a laudando et vituperando abstine. Tutum silentium praemium.

Pezões, Incrível, Celebridades, Palavras, Baianadas, Silêncio, Jornalismo e Receita

13 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Pezões – Calçando 44/45, perdi a conta dos sapatos 44 que comprei influenciado pelo vendedor da loja. Na hora da compra cabiam, mas em casa teimavam em apertar os calos que nunca tive.

Certa feita, na saudosa Casa Moreira da travessa do Ouvidor, no Rio, encomendando calçados sob medida, comentei o tamanho dos meus pés. O vendedor pediu licença, foi à prateleira dos produtos encomendados e voltou de lá com um mocassim que aceitava meu pé com sapato e tudo. Encomenda de um norte-americano. Presumo que o número fosse cinquenta e muitos.

Do Pezão, político brasileiro, sabemos que ajudou Sérgio Cabral a afundar o Estado do Rio. Além dos pés muito grandes, que não chegam a ser crimes, pode estar envolvido com a Lava-Jato, assunto da competência da Justiça.

Mau poeta, Filinto de Almeida, fundador da Academia Brasileira de Letras, foi convidado por ser casado com Júlia Lopes de Almeida, escritora de escol, que não pôde ocupar a cadeira número 3 por ser mulher. A partir de então, Filinto conviveu com o apelido de Acadêmico Consorte. Só muitos anos mais tarde a ABL passou a eleger mulheres.

Relendo o suelto acima, não consigo entender a relação entre pés grandes e Acadêmico Consorte. Só pode ser caduquice.

Incrível – Paulista de Itapetininga, 41 anos, neto de imigrantes japoneses, Toshio Shimada é dos tatuadores mais famosos do Brasil, tem estúdio em São Paulo e participou da Tattoo Week no Rio. Entrevistado por Clarissa Pains, do Globo, Toshio informou que apesar de tatuar os outros desde os seus 10 aninhos e de ter sido premiado na Irlanda e em Portugal, não tem nenhuma tattoo no seu corpo: “Percebi que a tatuagem pode trazer muito estigma e não quero que as pessoas me julguem só ao me olhar. Considero que é apenas o meu trabalho, a minha vida profissional” /…/ “Todos estranham, mas o mais importante são os trabalhos que faço, e não o que tenho desenhado na pele” /…/ “A  tatuagem é algo permanente, e a minha vida muda muito. Não acho que combine comigo”.

Homessa! Foi das coisas mais extraordinárias que li nos últimos tempos – e olhem que tenho lido coisas fantásticas. Como fantástica é a onda tattoo que tomou conta do planeta. Sei que os tatuados se lixam para minhas opiniões. Ainda assim, insisto: são imbecis completos.

Celebridades – O rapaz despontou como prodígio numa rede de tevê e foi contratado pela concorrente ganhando 300 mil reais. Não deu ibope e voltou à primeira rede faturando 80 mil mensais. No finalzinho do ano, descrevendo o assassinato de jovem motorista do Uber, que trabalhava em São Paulo para pagar seus estudos universitários, o prodígio informou que o universitário foi morto pelos tiros de um “inescrupuloso” assaltante.

Portanto, assaltante desprovido de escrúpulos, ao contrário dos demais criminosos que devem ter consciência dotada de sentido moral, caráter íntegro, atitudes cuidadosas e cheias de zelo. De improviso, ao vivo e em cores, muitos apresentadores de nossas redes de tevê subvertem a lógica, o bom senso e o sofrido idioma.

A imbecilidade é tanta que o lexema “suspeito”, substantivo ou adjetivo, serve para substituir autor, réu confesso, disco-madre, disco voador, pastor evangélico, cão pastor, arcebispo, escopeta – serve para tudo e mais alguma coisa.

O sujeito é fotografado e filmado matando, confessa que matou e continua suspeito. E o PM que matou o embaixador da Grécia, réu confesso, “está sujeito a ser expulso da corporação”, como admitiu o narrador de uma tevê.

Palavras – Do latim medieval condominium ‘copropriedade’, por influência do inglês condominium, com o mesmo significado, o lexicólogo brasileiro chegou ao condômino, ‘cada um dos proprietários de apartamentos em um prédio’, ou, na rubrica termo jurídico, ‘indivíduo que com outro, ou outros, exerce o direito de propriedade sobre um bem não dividido; coproprietário’.

Bobagens dicionarizadas. Neste país grande e bobo, condômino significa ‘inimigo próximo’. Nos condomínios de luxo, assim como nos prédios de classe média baixa, o que se vê é briga por qualquer motivo, ou por falta de motivos. Os seres humanos são inviáveis, inexplicáveis, rancorosos, mesmo quando se juntam na imbeciloide admiração por Lady Gaga.

A bem da verdade, que remonta principalmente à terminologia grega, considerando que não acredito na verdade bíblica relacionada com a palavra de Deus, devo admitir a existência de almas caridosas. Uma delas, na manhã de 8 de fevereiro, trouxe da portaria para enfiar por baixo da minha porta o exemplar de um dos jornais que assino.

Baianadas – Sou do tempo em que os deputados baianos queriam falar: “Vou falar pouco, pra falar do coco,/ Se a turma aguenta, eu falo da pimenta,/ E se estrilar, eu meto um vatapá,/ Sou deputado baiano,/ Eu quero é falar!”.

Hoje, na falação da Odebrecht, só faltam a Dinamarca, a Noruega, o papa Francisco e Salman Bin Abdul Aziz Al Saud, o rei da Arábia Saudita, cujo hino diz em árabe, língua da família camito-semítica: “Não há outra divindade além de Alá, e Maomé é o seu profeta”.

A empreiteira baiana atingiu o paroxismo da safadeza no reino da baianada, regionalismo brasileiro, pejorativo, substantivo feminino datado de 1889: “erro ou inobservância de regras ou costumes; coisa malfeita”.

Silêncio… – Eike permanece em silêncio. Seu advogado se diz convencido de que Eike não cometeu crime algum. O advogado de Sérgio Cabral Filho também afirma que seu cliente é inocente. Os criminalistas, quanto mais ricos e famosos, consideram o Código Penal simples conjunto de leis pensadas para ferrar os pobres.

Jornalismo – O “Bom Dia, Brasil” de sexta-feira, 10 de fevereiro, torceu para a PM do Rio repetir o doloroso espetáculo da PM capixaba, que completava cinco dias. Espalhou helicópteros, equipes de reportagem, fez o diabo para filmar quartéis, portarias de quartéis, tudo que pudesse indicar a repetição no Estado do Rio daquilo que se via no Espírito Santo. De preferência com o número de homicídios multiplicado por 100, que era para o seu jornalismo ficar nos conformes. Acabou dando razão aos que dizem que certos jornalistas nasceram para moscas, sempre atrás de sangue e merda.

Receita – Com 400 g de champignon, 5/4 de cebola picada, 1 copo de água, 5 dentes de alho, 100 ml de leite, sal a gosto, 1/2 xícara de azeite, 400 g de filé mignon, 400 g de massa folhada, 150 g de presunto de Parma, 3 gemas batidas, 1/2 xícara de vinho do Porto, louro, pimenta branca, louro, alecrim e vinagre balsâmico a gosto você pode fazer bifes Wellington para quatro pessoas.

Muitíssimo a propósito, um cavalheiro chamado Wellington Moreira Franco, nascido no Piauí, não pode ser acusado de nada, é inimputável. Wellington pode ser nome da capital da Nova Zelândia, de lorde ou duque britânico, de bife, de tudo que não seja piauiense.

 

 

Fortunas, Concursados, AC, AP, RR, Bíblia, Novidade? e Lindezas

9 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Fortunas – Sobrevivendo à provação banguense, Sérgio e Eike terão caraminguás suficientes para duas ou três gerações. De bobos não têm nada. Seus cobres espalhados por aí são muito difíceis de localizar. Com as delações premiadas, então, a Automobili Lamborghini S.p.A, sediada no município de Modena de Sant’Agata Bolognese, em Itália, não fará para as encomendas.

Cês devem ter visto que escrevi “em Itália” para o chiquê ficar nos conformes da indústria fundada por Ferruccio Lamborghini em maio de 1963.

Muitas fortunas, contudo, acabam sem deixar vestígios. Pertenço ao ramo pobre de uma família riquíssima. Meu bisavô e seu irmão, bilionários, perderam tudo no encilhamento, “Período após a proclamação da República (1889-1891) quando, em decorrência da expansão de crédito para empresas industriais, houve criação de numerosas sociedades anônimas e intensa especulação com ações” (Aurélio).

Os terrenos das imensas casas dos irmãos Almeida e Silva ocupavam meio bairro de Botafogo, no Rio. Meu bisavô morreu logo depois do encilhamento, mas seu irmão sobreviveu e recompôs sua fortuna. Por via de consequência, como gostava de dizer o saudoso Aureliano Chaves, o degas nunca passou a caviar e Dom Perignon como seus primos.

Tirante nosso exemplo, tenho visto centenas de fortunas que desaparecem da noite para o dia: fortunas sérias amealhadas em negócios honestos. Ao contrário do que dizem e pensam os despeitados, muita gente enrica trabalhando. E perde a fortuna num átimo.

Fico triste, mas acontece. Em rigor, só existe uma forma de não perder a fortuna: não ficar muito rico.

Concursados – Vira e mexe o pessoal da tevê fala de funcionários concursados, como se os concursos públicos garantissem a honradez, a dignidade e outras obrigações de todos os cidadãos e cidadoas, sejam ou não concursados.

Aprovação num concurso brasileiro geralmente implica três situações: conhecer as matérias, ter sorte ou ter conhecimento das questões antes da realização das provas. Portanto, os funcionários concursados são estudiosos, ou sortudos, ou vigaristas, o que absolutamente não que dizer que todos os estudiosos tenham caráter.

Conheço pessoalmente um magistrado, que o Brasil inteiro conhece de nome e dos feitos. No dia de uma das provas, sua mãe me contou que o filho só sabia um ponto dos 60 possíveis. Por isso, recusou-se a embarcar no bonde que o levaria ao local da prova. Foi metido à força no bonde por sua mãe e teve a sorte de cair o único ponto sabido. É magistrado aposentado depois de se notabilizar numa série de episódios discutíveis e/ou escandalosos, um dos quais nunca foi registrado pela imprensa: teve um filho com a cozinheira.

Philosopho pensante, continuo defendendo nomeações como aquelas dos procuradores do antigo Distrito Federal, então chamados Marajás da República. Não havia concursos, mas indicações pelo prestígio das famílias dos rapazes. Vencimentos nababescos. Mexer com um deles significava afrontar a República. Quando começaram os concursos o negócio entrou no esquema dos estudiosos, sortudos ou picaretas.

AC, AP, RR – Ajudado pelo Google constato que o Acre tem 816.687 habitantes, contra 782.295 do Amapá e 514.229 de Roraima, respectivamente 4%, 4% e 2% da população brasileira.

Roraima só existe para eleger três senadores, mas as populações praticamente iguais do Acre e do Amapá suscitam alto philosophar. Como explicar que o Acre tenha produzido diversos cidadãos ilustres, enquanto o Amapá é avaro de filhos que se enquadrem na lista dos notáveis? Não digo simpáticos e conhecidos como a bonita Fernandinha Takai, nascida na Serra do Navio, AP, mas ilustres como os acreanos Jarbas Passarinho e Adib Jatene.

Bíblia – Quase todos os bandidos presos, depois de roubar milhões de euros, reais e dólares, levam com eles para a Papuda, Bangu e Curitiba seus exemplares da Bíblia, como a imprensa tem noticiado.

Bandidos ainda soltos, riquíssimos, milionários, fizeram suas fortunas citando a Bíblia, exibindo a Bíblia nas diversas denominações evangélicas, até no imenso templo juiz-forano que proíbe a depilação axilar, genital e “locomotora” de suas fiéis, além de recomendar o sexo conjugal através de buraquinhos feitos nas vestes do crente e de sua amada escudeira.

Tenho uma Bíblia que nunca li. Fosse mais moço, juro que leria o conjunto dos textos sagrados do Antigo e do Novo Testamento para escapar do pauperismo em que sempre vivi.

Novidade? – Reprisando vídeos de pessoas saqueando as cargas de caminhões tombados,o Bom Dia, Brasil, edição do dia 24 de janeiro, censurou o crime de saque como se fosse grande novidade. Gaúcho de Santa Maria, 63 anos, o senhor Chico Pinheiro (pensei que fosse mineiro) aventou a hipótese de os brasileiros passarem a roubar as cargas ainda dentro dos caminhões.

Ora, bolas: em 1996, quando me mudei para Belo Horizonte, a Coca-Cola já utilizava caminhões fechados para distribuir seus produtos pelos bares do bairro em que fui morar. Motivo: nos caminhões até então usados, os engradados eram roubados assim que os veículos paravam.

E tem mais uma coisa: há 60 anos, fumante de cachimbos (e charutos), tornei-me proprietário de um metro cúbico de latas Half and Half, tabaco para cachimbos. Um metro cúbico, isto é, dezenas de latas, algumas amassadas, resultado de um caminhão que capotou em Itaguaí, RJ, com a carga contrabandeada.

Meu sócio na granja de galinhas, próxima da trombada dos contrabandistas, comprou a imensa caixa de papelão de um vizinho saqueador e me deu o fumo de presente. Na escala das penas hoje cominadas ao crime de saque, não creio que a minha fosse mais que pequena multa. Fumei o Half and Half das latas amassadas e dei as outras de presente.

Lindezas – Noite passada, uma lua que era um queijo! Não me canso de admirar lindezas, linduras, formosuras, belezas como as luas cheias e as primeiras-damas da Argentina, do Brasil e dos Estados Unidos da América.

 

 

O França, Vocação, Fashion, Pesos, Poesia, Crimes e Análise

8 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

O França – Duas moças nascidas em Patos de Minas trabalharam muitos anos em nosso apartamento de Copacabana. A cozinheira bonita, alta, magra, negra, que sua colega chamava de Negrinha; a copeira-arrumadeira feia, mulata escura, alta, sempre acima do peso. Com a separação dos meus pais, as duas procuraram novos empregos e continuaram muito amigas de todos nós. A feia foi trabalhar como salgadeira em restaurante de altíssimo luxo, enquanto a bonita continuou nas cozinhas domésticas lá mesmo em Copacabana. De vez em quando nos falávamos pelo telefone. Acho que morreu solteira.

A salgadeira, pouco tempo depois de começar no restaurante, passou a falar do França, um chef muito famoso, dos mais famosos da gastronomia mundial, que estaria namorando. Ninguém acreditava. Peço licença para não dizer o seu nome, que ainda está vivo. Era mais moço que a namorada.

França pra cá, França pra lá, temos a patense dona de um apartamento de dois quartos em Botafogo, prédio com elevador, apartamento com telefone para falar com o França, que lhe telefonava do mundo inteiro. Telefone no Rio custava uma fortuna. A convite da proprietária conheci o apartamento, todo mobiliado pelo França. Nossa amiga patense devia ter algum bizu que o chef descobriu, temperou, comeu e gostou.

Vocação – Invejo as pessoas que têm o dom da autodefesa, do autoelogio, que sabem justificar todas as besteiras que fazem. Mudam-se para lugares inviáveis, informam que os lugares são ótimos e acabam voltando aos pousos normais sem admitir as besteiras que fizeram. Metem-se em determinadas atividades, insistem, quebram a cara e se retiram justificando o período em que perderam o seu e tomaram o tempo dos outros. Enquanto a mim, lamento informar que nunca soube explicar o caminhão de asneiras que fiz e continuo fazendo. Nasci vocacionado para fazer burrices e tenho cumprido essa vocação à risca.

Fashion – O atual inverno fez surgir no Hemisfério Norte um tipo de agasalho dos mais feios já inventados pelo homem. É um casaco, que também pode ser um colete, de tecidos brilhantes e diversos gomos horizontais, quase sempre arredondados, mas já vi alguns retangulares e uns poucos verticais. O jornalista Jorge Pontual comprou um vermelho, brilhante, que deveria ser proibido de aparecer na tevê. Outros há de diversas cores, na maioria pretos, igualmente horríveis.

Seriam baratos? Será que esquentam mais que os agasalhos decentes? Tecidos incombustíveis? Hei de apurar. Por enquanto, não consigo entender o sucesso daquela bosta gomada.

Pesos – É justo e louvável que os desfiles de moda passem a incluir jovens normoponderadas, ou pouco acima do peso normal, para acabar com a ditadura das macérrimas. Mulheres esqueléticas contrariam a ordem natural das coisas, sendo embora muito interessantes em determinadas circunstâncias que me abstenho de especificar porque sou pudico prá dedéu.

Circunstâncias em que as normoponderadas e as ligeiramente acima do peso normal também são interessantíssimas. Em rigor só me assustavam as obesas, que pronuncio com /é/ embora Houaiss, magríssimo, esquelético, também admitisse o /ê/.

Com é ou ê a obesidade da maioria das senhoras faveladas é impressionante. Inexplicável, outrossim, é a obesidade de alguns comentaristas esportivos que palpitam nos programas da GloboNews. Têm barrigas incompatíveis com os esportes, mas palpitam como se fossem Sílfides.

Nas faveladas as gorduras se avizinham da obesidade mórbida e há gente que gosta. Tive colegas de trabalho no BB que adoravam obesas. Um deles, dono de automóvel da marca Henry Jr, oferecia carona às muito gordas que via nos pontos de ônibus. Antes de deixar a obesa em casa passava pelo motel da Avenida Niemeyer, no final do Leblon, para uma sessão de violoncelo. Trata-se do sexo sentado na cama com a eleita fazendo as vezes do instrumento de cordas dotado de instrumento de sopro. Numa noite de chuva torrencial, Vicente sofreu o diabo para explicar à mãe dos seus quatro filhos o motivo da ida à Avenida Niemeyer, onde uma pedra despencada destruiu boa parte do Henry Jr.

Outro colega, compositor conhecido, conferia todas as gordas baianas que vendiam acarajés na Avenida Rio Branco. E sustentava, com a autoridade de sua gula, que não há almoço melhor do que o produzido com o suor que escorre dos seios da baiana obesa e nua, quando cozinha a refeição no barraco da favela. Sempre duro, vendia seus sambinhas aos compositores badalados, mas consta como coautor em muitos deles.

Assisti a uma cena inesquecível na tarde em que tomamos um elevador do Edifício Visconde de Itaboraí até ao 21º andar. Prédio que fica na esquina das avenidas Rio Branco com Presidente Vargas. Junto conosco entrou imensa baiana avisando que, abandonada por ele, pretendia saltar lá de cima. E ele, muito sério: “Mulher que é amiga minha não se suicida no meu local de trabalho”. A baiana, felizmente, tomou o elevador de volta e foi cuidar dos seus acarajés.

Poesia – “Quero fazer das tuas coxas/ Fones de ouvido/ Que me isolem do mundo/ Na busca essencial”.

Crimes – Governos militares cometem crimes abomináveis que ninguém comenta, com a honrosa exceção aqui do degas. Os argentinos deixaram viva a família Kirchner, com os resultados que o mundo viu. Os brasileiros prenderam e soltaram o jornalista mineiro Rui Goethe da Costa Falcão, hoje presidente nacional do Partido dos Trabalhadores. Que se pode dizer de um regime que poupa um Rui Falcão?

Análise – Os eventos capixabas transmitem várias lições. Criada em 2004 para atender às necessidades emergenciais dos estados nos quais sejam necessárias, a Força Nacional de Segurança Pública, formada pelos melhores policiais e bombeiros dos grupos de elite dos estados, que passam por um rigoroso treinamento no Batalhão de Pronta Resposta (BPR), nem sempre conhecem as ruas e os bairros das cidades para as quais são enviadas. E o GPS das arruaças, dos saques e dos homicídios ainda não foi inventado.

Por outro lado, policiamento urbano nunca foi função das Forças Armadas aqui e no Burundi, passando por Washington, Macau e Moscou. O assunto é complexo e se encaixa na pergunta feita pelo sobrinho de Mara Luquet: “Quer dizer, tia, que na falta da polícia a população age assim?”.

 

 

Pesquisas, Inveja, Advances, Imprensa e Espanto

7 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Pesquisas – Por qualquer motivo e até por falta de assunto a mídia mundial vive divulgando resultados de pesquisas. Amanheci o dia 6 de fevereiro informado de que 80% dos adolescentes brasileiros não fazem exercícios por culpa dos celulares. Presumo que sejam adolescentes de classe média alta para cima, considerando que as faturas dos celulares são mais que salgadas.

Pesquisas e pesquisadores podem acertar, sem que estejam a salvo dos erros mesmo quando competentes e bem-intencionados. Mas o tema deste belo suelto sempre me remete ao caso que ouvi do Dr. Aloysio, médico de senhoras, que trabalhava no Hospital Miguel Couto.

Naquele tempo, o Miguel Couto era vizinho de uma das maiores favelas do Rio, a Praia do Pinto, em tudo e por tudo diferente das favelas atuais. Barracos paupérrimos, não havia o ódio e a violência que se vê hoje em dia. Perdi a conta das vezes que atravessei a Praia do Pinto montando cavalo da Hípica. A reação dos favelados era de admiração pelo tamanho dos cavalos. Meu saudoso Bisturi tinha 1,84m de altura na cernelha. Hoje, o ginete é sequestrado e o cavalo vira churrasco.

Pois foi naqueles idos que a Prefeitura resolveu fazer uma pesquisa para conhecer a clientela do Miguel Couto. Formulário de várias folhas que os médicos precisavam preencher.

Primeira paciente do dia, uma favelada gorda, usando brincos e turbante, metida num vestido estampado. Nome, naturalidade, idade, filhos etc. e o Dr. Aloysio preenchendo a primeira folha. Em seguida, a pergunta: “Com que idade sua mãe teve a menarca?”.

“O quê?”, perguntou a boa senhora e o médico explicou: “Com que idade sua mãe teve a primeira menstruação?”. “O quê?” assustou-se de novo. E o médico: “Com que idade sua mãe ficou de chico?”.

“Sei não… E a sua?” quis saber a paciente. O Dr. Aloysio jogou fora a pilha de pesquisas, todos os médicos se recusaram a preencher os formulários e até hoje a Prefeitura do Rio não sabe a idade do primeiro chico da mãe de ninguém.

Inveja – Com inveja da pedofilia de 7% dos padres na Austrália, os monges budistas investem na metanfetamina, substância derivada da anfetamina usada como estimulante do sistema nervoso e no tratamento da obesidade.

Domingo, 5 de fevereiro, um monge budista birmanês foi preso depois que as autoridades encontraram mais de 4 milhões de metanfetaminas escondidas no seu mosteiro.

Quando foi preso, a polícia encontrou 400 mil comprimidos em seu carro, explicou à France Press o agente Kyaw Mya Win, da polícia da província de Maungdaw. Que se pode esperar de um monge que tem automóvel?

Revistando o mosteiro, os policiais encontraram 4,2 milhões de comprimidos escondidos. Em 2016, as autoridades apreenderam 98 milhões de comprimidos da droga sintética em Mianmar (Birmânia), país que acaba de sair de décadas de ditadura e é um dos centros de passagem do tráfico de drogas no Sudeste Asiático. Em 2015 foram apreendidos 50 milhões de comprimidos.

Laos, Tailândia e Mianmar lideraram a produção de ópio e heroína durante anos, antes do Afeganistão se tornar o maior produtor. Em 2013, cerca de trinta monges tailandeses tiveram que abandonar os hábitos pelo hábito de consumir drogas. Trocadilho infame, concordo, mas fiquei chocado com a notícia porque simpatizava com o budismo e tudo que se conta de Buda, Siddharta Gautama (563-483 a.C.). Simpatizava porque é religião que não professa a existência de nenhum deus, congeminando com o meu ateísmo.

Buda defendia a possibilidade de alcançar o nirvana através de um estado de bem-aventurança integral. Monges birmaneses, com os seus automóveis, trocaram o nirvana pelas drogas sintéticas.

Advances – Em inglês fica mais chique: advances. Cuidemos dos avanços na telefonia. Universitário, morando em Copacabana, precisei de pistolão para conseguir um telefone fixo, daqueles pretos, com fio. O presidente da Câmara dos Vereadores do Distrito Federal levou-me em seu carro oficial à sede da Companhia Telefônica Brasileira, a CTB, que logo instalou o telefone em minha casa.

Em 1970 morei quatro anos sem telefone nas Serras Fluminenses. A cabine mais próxima (PSI) ficava a meia hora de automóvel e a gente vivia.

Cinquentão, morando numa das avenidas principais de Juiz de Fora, só consegui telefone porque tinha um amigo-irmão trabalhando no gabinete do ministro das Comunicações. Fio puxado pelos postes da avenida e de outras duas ruas ao longo de dois quilômetros.

Os primeiros celulares do Rio custavam cerca de nove mil dólares, eram imensos, pesados e não funcionavam na maior parte da cidade. Em JF, meu primeiro celular custou caro e ainda não era dos pequenos quando me mudei para BH em 1996. Não cabia no bolso da calça, exigindo suporte no cinto.

Depois que virou smart (inteligente, esperto, elegante, astuto, moderno, vivo, fino, arguto, espertalhão, ativo, dinâmico, agudo e mais 17 traduções, salve o Tradutor Google!), o telefone móvel ficou impossível. Serve para quase tudo, até para funcionar como telefone. Como também serve para a Polícia Federal, com tecnologia israelense, descobrir gatunagens antigas.

E aí caímos no mar das delações premiadas. O que significa dizer que o sujeito rouba bilhões, faz a delação, devolve milhões e vai viver como paxá com a fortuna que sobrou. Paxá motorizado via Lamborghini Huracán RWD Spyder.

Imprensa  Donald J. Trump vive criticando boa parte da mídia do seu país. A julgar pelo que se viu e se vê por aqui, é provável que o presidente americano tenha carradas de razão. Sérgio Cabral Filho, Édison Lobão, Cláudia Cruz, Rui Falcão, Franklin Martins são jornalistas.

Espanto – Barbárie é pouco para explicar o Brasil de hoje. Esqueça os presídios e pense no que se viu em Natal, no que se vê em diversas cidades capixabas e nos ônibus de Belo Horizonte circulando com dois policiais por veículo para tentar evitar a repetição dos nove mil roubos e furtos anotados no ano passado. Belo Horizonte não fica na Síria nem no Afeganistão: continua sendo a capital de todos os mineiros.

 

 

 

Clima, Mistério?, Preços, Alternativas, Troca e Naturismo

6 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Clima – Caminhões-pipa, secas terríveis, cisternas vazias, lavradores na miséria, tudo isso acabaria se os prefeitos nordestinos tivessem a cautela de contratar os serviços da Fundação Cacique Cobra Coral, que foi criada por Ângelo Scritori e tem à frente sua filha Adelaide, também médium que “incorpora o espírito e mentor Cacique Cobra Coral, que também já teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln”, como vejo no Google.

Trata-se de “entidade científica esotérica especializada em fenômenos climáticos” (sic), que teria sido contratada pelo então prefeito José Serra, de São Paulo, e recontratada agora pelo prefeito João Doria, tanto quanto se possa acreditar nos jornais. Semanas atrás, os mesmos jornais nos contavam que a Fundação estaria sendo transferida para a China, mas agora informam que o clima chinês será controlado via internet.

Presencial ou a distância, sem o controle do cacique os climas do planeta aprontam cada uma que vou de contar. João Doria deve ter inimigos figadais, cavalheiros que têm por ele esse sentimento rancoroso. Só isso explica a divulgação de certas notícias. Fossem verdadeiras, a contratação do afamanado cacique seria caso de imediata internação psiquiátrica com direito aos choques elétricos, que tinham sido abolidos mas voltaram a ser aplicados nas cabeças de muitos internos.

Mistério? – O “mistério da Urca”, investigação policial sobre a origem das notas de R$ 50 e R$ 100 que apareceram no mar da Urca, bairro carioca, não tem mistério algum.

Já expliquei aqui (ou teria sido alhures?), que o  mar da Urca local vem sendo utilizado há décadas para transferência de dinheiro vivo. Respeitado político brasileiro, famosíssimo, que morreu com fama de honesto, recebia no mar da Urca, embarcado na lancha oceânica de uma empreiteira, pacotes e mais pacotes de dinheiro vivo. Não invento: quem me contou foi um dos donos da empreiteira.

Não podendo embarcar no cais do Iate Clube, o político embarcava perto de uma ponte na Urca, de terno e gravata, sorridente: “Oba, mulherinhas para nós!”. Sim, havia garotas de programa contratadas para entreter o estadista, uísques e refeições dos melhores restaurantes cariocas.

Pequeno empreiteiro, por outro lado, me disse que nunca fez uma obra em determinado estado da federação que não desse 10% ao referido estadista.

O dinheiro que apareceu boiando na Urca e foi recolhido por diversos nadadores, portanto, nada tem de misterioso. Só pode ter sido o resultado de um pacote que caiu no mar durante a transferência do corruptor para o corrupto.

Preços – Fevereiro de 2017, cidade mineira de 600 mil habitantes, dois supermercados imensos na mesma avenida, um mineiro, outro multinacional. No multinacional os potes de sorvetes Häagen-Dazs custam R$ 22,50, enquanto no mineiro sorvetes iguais custam R$ 34,50. Pode?

Alternativas – A mídia pegou no pé de uma assessora do Trump, quando falou de “fatos alternativos”. Parece-me que a moça não inventou moda. Até mesmo a verdade – coisa, fato ou evento real – não está livre das alternativas. Parece una, singular, indivisível, mas a verdade bíblica – e Trump, ao assumir a presidência, jurou com a mão sobre a Bíblia – provém de pontos de vista bem diferentes da noção ocidental, que remonta principalmente à terminologia grega. Para os gregos a verdade é a concordância entre o pensamento e a realidade, a própria realidade enquanto se revela ao espírito. Temos aspiração tipicamente grega à clareza, à compreensão teórica e intelectual.

A concepção bíblica da verdade, porém, é existencial; corresponde a um desejo prático de conhecimento para a vida. Na própria Bíblia a noção evoluiu: no judaísmo e no NT o termo verdade é cada vez mais relacionado com a lei, a revelação, a palavra de Deus.

Donde se conclui que também a verdade pode ser alternativa, justificando os fatos alternativos citados pela assessora de Trump.

Troca – Natuza Nery trocou a Folha pela GloboNews. Fez muito bem. Todo profissional que deixa a Folha, mesmo demitido como o degas, faz muito bem. Jornalzinho nojento.

Naturismo – Conjunto de ideias que preconizam o retorno à natureza como a melhor maneira de viver – ao ar livre, alimentos naturais, nudismo etc. – o naturismo tem no nudismo um dos seus aspectos mais originais.

Na internet, que nos mostra coisas muito interessantes, descubro a Pousada Naturista de Tambaba, telemóvel (83) 4141-2687. Telemóvel é regionalismo lusitano para telefone celular e Tambaba é uma praia de nudistas no litoral do Estado da Paraíba, República Federativa do Brasil. Seria português o dono da pousada?

No Google aprendo que Tambaba, do tupi-guarani, tem dois significados: “o conteúdo das conchas” e “monte de Vênus”. Tambá, no Houaiss, é monte pubiano.

Vídeo exibido na internet mostra frequentadores da Praia de Tambaba afirmando que, por lá, ninguém se preocupa com a anatomia alheia. Vai ver que todos se preocupam com o conteúdo das conchas.

Tempos atrás dei notícia da existência de uma igreja de nudistas, na região norte dos Estados Unidos. Região muito fria coberta de neve alguns meses do ano. Alojamentos e templo aquecidos, mas separados cerca de 40 metros, que os religiosos gordos, inteiramente nus, percorrem para rezar, quando não estão comendo ou dormindo. Presumo que não tenham televisores que os ponham diante das loucuras do mundo normal.

 

 

Fabinho, Genebra, Fulano, Fato e Bauru

6 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Fabinho – Um irmão do Geddel indicado para a vice-presidência da Câmara, mais que indicação foi uma ofensa ao país. Irmão do Geddel é irmão do Geddel aqui e na Arábia Saudita, ou na Malásia. Felizmente os deputados elegeram Fábio Augusto Ramalho dos Santos, mineiro nascido em Brasília, DF, amigo dos seus amigos entre os quais pode ser incluído um Philosopho pensante.

Perdi a conta das vezes em que fui convidado pelo Fabinho para me hospedar em seu apartamento brasiliense. Não aceitei porque detesto viajar, ojeriza que não consegui transmitir às filhas. Vivem embarcada nos aviões que se destinam a Israel, à Turquia, a São Petersburgo, ao Havaí e a Guarapari passando por Vitória, capital do Espírito Santo, sem prejuízo dos voos no balonismo na Capadócia. Você, caro e preclaro leitor, já voou num balão capádoce?

Ministros de Estado, deputados, senadores, governadores que gostam de cantar e tocar violão, cantam e tocam no apê do Fabinho. Jornalistas conhecidos falam dos porres que tomaram naquele apartamento, quando contemplaram as rotundidades posteriores de uma jornalista desmaiada num dos quartos, muito conhecida, profissional medíocre. Indiscretos, dizem que não gostaram das nádegas que viram.

Mais que deputado, Fabinho é uma instituição. Basta dizer que foi prefeito de Malacacheta, MG, de 1997 a 2004. Malacacheta é aluminossilicato básico de potássio monoclínico do grupo das micas, muito usado como isolante, enquanto Fabinho não é isolante, mas conciliador, festeiro. Se a filha de um amigo se forma em jornalismo ele vai ao almoço no Retiro das Pedras, perto de Belo Horizonte. Se o filho de um amigo festeja seus 18 anos em Escarpas do Lago, perto do fim do mundo, Fabinho vai. Jornal carioca fez matéria dando a entender que os jantares do deputado, em Brasília, envolvem garotas de programa. Maldade pura. Muitos dos meus amigos lá estiveram e me contariam, mas só viram ministros e senadores cantando e tocando violão.

Se eventualmente garotas de programa passaram por lá, é preciso notar que não existe salão, neste país grande e bobo, a salvo das moças que se vendem.

Depois de suportar o inacreditável deputado Waldir Maranhão (PMDB-MA), veterinário que desonra os quadros de nossa medicina-veterinária, o Brasil não merecia um irmão do Geddel. Palmas para o Fabinho!

Genebra – Genebra é aguardente de cereais em que foram infundidas bagas de zimbro, também conhecida como gim. Não confunda com o ex-senador Gim Argelo, amicíssimo da Búlgara, que está preso em Curitiba.

Mundo mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Cabral não seria uma rima nem uma solução, mas teria 3,5 milhões de dólares em ouro e diamantes escondidos num cofre próximo  da esquina da Place de Chevelu com a Rue Rousseau,  centro de Genebra, Confederação Suíça.

Tristeza é pouco para explicar o que sinto ao compor estas bem traçadas. Nunca vi de perto o doutor Sérgio Cabral Filho, mesmo tendo passado um feriadão em Mangaratiba hospedado diante da casa do então governador do Rio, ou das duas casas, como explicou a jovem que as decorou.

Fulano – Morando em Belo Horizonte, perguntei a conhecido jornalista se conhecia alguém que tivesse entrado para a política pensando em Minas e no Brasil, sem ter como objetivo primeiro e único ganhar dinheiro. O jornalista respondeu: “Fulano”, opinião que coincidia com a minha.

Trabalhador infatigável, dono de gigantesco patrimônio, amigo nosso, Fulano tinha sido eleito deputado estadual poucos meses antes de minha pergunta. Comentei o fato com santa que dividia comigo o leito belo-horizontino.

Passam-se os meses, talvez um ano ou dois, encontro Fulano numa solenidade. Conversa vai, conversa vem, o deputado me diz: “Meus negócios melhoraram muito depois que entrei para a política”. Donde se conclui…

Fato – Não é regra, como também não é exceção: muitas pessoas maluqueiam. Tanto quanto se possa acreditar no noticiário, o presidente Donald J. Trump está maluqueando ou já maluqueou.

O venezuelano Maduro, muito mais moço que Trump, faz tempo que maluqueou. Temos agora o presidente dos Estados Unidos dizendo tolices que desdiz 24 horas depois, hostilizando governantes que não deveria hostilizar, aprontando banzé que o planeta dispensa.

“Alá é grande!” berrou o terrorista egípcio que invadiu o Museu do Louvre. O gorducho que comanda a loucura norte-coreana lança mísseis e projeta bombas atômicas. “Baste a quem baste o que lhe basta/ O bastante de lhe bastar!/ A vida é breve, a alma é vasta;/ Ter é tardar” versejou Fernando Pessoa, poeta bem melhor que o nosso Temer.

Por falar em Michel e poesia vejam esta, que não é dele, sendo embora mesoclítica: “Beijar-te-ei demoradamente,/ em ócio monástico,/ busca existencial,/ ourives trabalhando joia/ definitiva./ Amar-nos-emos loucamente,/ na eternidade do momento/ na imensidão do nosso desejo/ em alcova minúscula,/ primacial./ Juntar-nos-emos em silêncio/ para dizer ao mundo/ de nosso amor proibido/ em sua espantosa beleza/ em sua imensa loucura/ em sua eterna sofreguidão./ Dir-me-ás que me amas;/ dir-te-ei que és única;/ Mentir-nos-emos gostosamente,/ Em nome de tudo/ E de mais ninguém”.

Bauru – Município paulista, Bauru tem um centro de progressão penitenciária que abriga centenas de criminosos no tal regime de progressão de pena, o regime semiaberto em que o sujeito sai para trabalhar e volta para dormir na cadeia. Daí a surpresa que me causou a notícia de que centenas de apenados “fugiram” do sistema prisional na confusão do último dia 24 de janeiro.

Se o sujeito pode (e deve) sair para trabalhar, por que fugir aproveitando a confusão do incêndio que destruiu parte do presídio?

Bauru é também o nome de um sanduíche feito de pão francês, rosbife, tomate, picles de pepino e mozarela, condimentado com orégano e sal, componentes originais oficializados por lei nº 4.314, de 24 de junho de 1998, da Câmara dos Vereadores daquela cidade.

Enchendo linguiça, vale acrescentar que Casemiro Pinto Neto, advogado e radialista bauruense, apelido Bauru, pedia sanduíches com tal preparação no início da década de 1930, no Ponto Chic do largo do Paiçandu, em São Paulo. Nunca vi Paiçandu com essa grafia, mas está no Houaiss. Paciência.

 

 

Amizade, Chinós, Aeroplanos, Topetudo e Apolíneo

2 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Amizade – O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS) vem sendo criticado pelas despesas de pouco mais de mil reais, entre passagens e hospedagem, que fez para visitar em Curitiba seu amigo Eduardo Cunha, ex-colega de Câmara e de partido. Marun promete devolver à Câmara o dinheiro gasto com a visita natalina.

Gaúcho de Porto Alegre, 56 anos, Carlos Eduardo Xavier Marun, que faz política no MS, obrou muitíssimo bem ao visitar o seu amigo. Ainda que Eduardo Cunha tenha cometido crimes, como parece que cometeu, Marun era seu amigo. A visita natalina ao preso mostra que tem caráter.

Mutatis mutandis, lembrei-me de visita que fiz a um amigo preso no Mato Grosso, município lindeiro da Bolívia. Acusação: tráfico de cocaína, crime que nunca praticou. O apelido limpa-trilhos caracterizava o bom amigo: comia todas.

Avisado da prisão, parti de Juiz de Fora, aluguei carro em Cuiabá, embarquei um amigo comum professor de Direito na universidade mato-grossense e cheguei ao tal município depois de telefonema de um amigo-irmão, coronel professor da AMAN, ao general comandante do regimento da fronteira, seu colega de turma.

Tive a sorte de encontrar o general ainda no regimento, vestido e armado para cumprir missão na fronteira. General que telefonou ao magistrado avisando de minha chegada.

Adentramos, como dizem os locutores esportivos, o edifício do fórum e o juiz não percebeu que chegamos no mesmo carro. Quando me apresentei ao magistrado, ouvi: “Veja o senhor como são as coisas. Há pouco recebi a visita do meu professor de Direito pedindo pelo preso. E agora recebo o senhor depois de telefonema no general-comandante. Vou mandar soltar o rapaz”.

Terminamos o dia no melhor bordel da cidade. Uma das profissionais, quando viu o traficante que nunca traficou, correu para o limpa-trilhos, cavalheiro alto e forte, e se atirou em seu pescoço enlaçando-o com as pernas em espetáculo inesquecível. Muito bons, naquele tempo, os bordéis mato-grossenses.

Chinós – Perucas, tinturas, penteados, apliques, implantes de cabelos sempre foram preocupações de um sem conto de cidadãos. Frank Sinatra, que foi Sinatra, usava peruca e tinha uma assessora que o acompanhava com o estoque de chinós mesmo nas viagens internacionais.

Tive e tenho vários amigos carecas e outros tantos que plantaram cabelos, alguns com sucesso. O corte dos cabelos dos presidiários, mesmo que não tenham sentenças transitadas em julgado, é providência higiênica que visa a combater os piolhos comuns em recintos muito habitados. Providência que, aqui e alhures, vem sendo criticada pelos proxenetas dos direitos humanos.

No recente episódio de tosquia da moleira do senhor Eike Fuhrken Batista da Silva impressionou-me o resultado filmado e fotografado à exaustão. Ao que tudo indica, o preso em Bangu 9 usava peruca, o que não é crime. Nos cavalheiros que, antes da tosquia, tinham algum cabelo natural no alto de suas cabeças, jamais se viu resultado como aquele.

Aeroplanos – São dois os aeroplanos norte-americanos que atendem pelo nome de Air Force One. Ambos têm dispositivos especiais que permitem reabastecimento em voo, outros que talvez evitem os mísseis lançados contra eles, emissores de sinais capazes de confundir radares, capacidade de permanecer voando mais de 50 horas consecutivas.

Informações que recolho da matéria de Roberto Godoy, no Estadão: os dois aviões estão chegando perto dos 27 anos de uso constante. Por melhor que seja sua manutenção é preciso considerar a fadiga do material, o “cansaço normal” da máquina. A White House estuda a compra de dois novos aparelhos especialmente fabricados pela Boeing. Preço de cada um: US$ 4 bilhões.

Dir-se-á que é muito dinheiro para transportar certos idiotas como Trump, Carter e Clynton, mas é preciso notar que o Airbus A319CJ, VC1A, vulgo Aerolula, oficialmente batizado Santos-Dumont, custou uma fortuna para transportar um analfabeto desonesto, sua namorada Rose e a Búlgara, trinca merecedora das antigas carroças de lixo tracionadas por muares nos subúrbios do Rio.

Quando retiradas de circulação pela chegada dos caminhões, as tais carroças foram estocadas numa certa Fazenda Modelo pertencente ao estado. Fazenda Modelo de má administração, era o que se dizia.

Nomeado pelo governador Carlos Lacerda para consertar a fazenda, o médico-veterinário Luiz Octávio Pires Leal foi cobrado sobre o destino das muitas dezenas de carroças, talvez centenas, todas caindo aos pedaços, e solucionou o problema de forma brilhante: fez uma fogueira que não deixou vestígios além da cinza que servia como adubo.

Na roça fluminense tive um vizinho que todo ano tocava fogo em seu samambaial e me dizia: “Adubo de pobre é cinza, doutor”. Sempre curti o tratamento doutor, normal no Brasil inteiro, sobretudo e principalmente para sujeitos grandes, de óculos, que fumam charutos.

Topetudo – Adjetivo e substantivo masculino, regionalismo brasileiro, topetudo é indivíduo valentão, destemido, arrogante e audacioso talqualmente Donald J. Trump, presidente dos Estados Unidos da América. Sua cabeleira, contudo, com aquele topete que já é um exagero, alcança o paroxismo do ridículo nos fiapos horizontais cuidadosamente penteados sobre as orelhas.

Apolíneo – Entre os muitos critérios que podem levar os deputados estaduais a eleger os presidentes das respectivas Assembleias deve existir a estética. Só a formosura apolínica do deputado Jorge Sayeda Picciani, 61 anos, formado em Ciências Contábeis e Estatística, explica sua reeleição para a presidência da Alerj.

 

 

Jurado, Justiça e Namorador

1 de fevereiro de 2017 Eduardo Almeida ReisBlog

Jurado – A primeira noite de Eike Fuhrken Batista da Silva em Bangu 9, no Pavilhão Bandeira Stampa construído durante o governo Sérgio Cabral, cavalheiro também engaiolado no Complexo de Gericinó, lembrou-me episódio ocorrido quando fui “cidadão jurado” no Rio.

Filho de Ernesto Stampa e Gulnar Bandeira Paranhos, o carioca Carlos Luiz Bandeira Stampa nasceu em 1917. Presidia o II Tribunal do Júri quando ocorreu a instalação solene de sua nova sede em agosto de l956, à Rua Visconde de Itaboraí nº 78, centro do Rio, no edifício histórico que atualmente abriga a Casa França-Brasil.

Pouco depois fui cidadão jurado naquele Tribunal durante um mês. Às 14 horas, engravatado,  estacionava meu carro no pátio do Tribunal para cumprimentar o magistrado, o promotor, os demais cidadãos e cidadoas jurados, os advogados de defesa e aguardar o sorteio do dia.

Ensinaram-me o truque de espalhar pelo Tribunal a notícia de que sou absolvedor contumaz. Assim, quando sorteado o meu nome, o promotor me recusava. Providência abençoada nos julgamentos que demoravam dois ou três dias.

Participei de dois julgamentos curtos, que terminaram antes das oito da noite. Neles, percebi que jurados e juradas, mesmo proibidos pelo magistrado, trocavam ideias, resmungavam comentários em voz baixa.

Mas o melhor da festa ficou para o final do mês no jantar comemorativo do encerramento dos trabalhos. Todos os jurados, o juiz, os promotores e alguns criminalistas numa churrascaria de Laranjeiras, bairro carioca. Ao final do ágape, Carlos Luiz Bandeira Stampa pediu-me que falasse “em nome do Tribunal”. Discursei, meio prosa que sempre fui. Fenômeno que ocorreu um sem conto de vezes noutras solenidades: falar em nome de alguém, a pedido desse alguém. Fenômeno que até hoje não consegui explicar. Fica o registro.

Justiça – Obrou muitíssimo bem o presidente Donald J. Trump ao demitir a senhora que exercia, interinamente, o cargo de secretária de Justiça dos EUA, equivalente a ministro da Justiça no Brasil.

Sally Quillian Yates é linda e a beleza é incompatível com o cargo que ocupava. Mais grave que isso: em agosto de 2017 Sally faz 57 aninhos. Com aquela formosura, como pode alguém beirar os 60?

Craque na escolha de ministros da Justiça é o Brasil. Não faz muito tempo tivemos um imbecil, casado, que se apaixonou por uma colega solteira, nada bonita, profissional incompetente. Criatura que interrompeu o curso de Economia para fazer fotografias, deu-se mal como fotógrafa e voltou ao curso interrompido.

Criatura que, na condição de ministra, convidou conhecido jornalista (escritor, produtor musical, compositor) para jantar em seu apartamento paulistano numa sexta-feira, só eles dois, comida feita por ela. “Oba, vou comer uma ministra” disse o jornalista aos amigos próximos.

Apartamento pequeno, vinho tinto, jantar à luz de velas e o convidado pensando: “É hoje”. Terminado o jantar, a ministra foi ao quarto e o jornalista pensou: “Vai voltar nua”. Voltou vestida trazendo um violão, assentou-se num banquinho e começou a cantar. Queria ouvir a opinião do convidado sobre sua ideia de se transformar em cantora profissional.

Na vigência do romance com o ministro da Justiça, o galã escrevia bilhetinhos infantis, idiotas, cretinos, indignos de menino do curso primário. Sobrou para o Fernando Sabino, coitado, quando falou da paixão ministerial num livro que ninguém leu e todo mundo criticou, menos aqui o degas, que leu o livro e entendeu o recado sabino.

Tivemos ministro da Justiça acusado de todos os crimes capitulados no Código Penal e solto até hoje. Tivemos ministro da Justiça que assumiu a pasta com os dentes podres, não a pasta dental, mas a pasta ministerial e inteiramente podres as estruturas mineralizadas implantadas nos alvéolos dos maxilares superior e inferior. Só passou a cuidar dos dentes depois de ministro.

Namorador – As filhas do presidente da China que se cuidem: Alexandre Pato, que despontou como craque nos campos gaúchos, vem de assinar com o Tianjin Quanjian, time chinês comandado pelo italiano Fabio Cannavaro, que vai pagar 18 milhões de euros pelo atleta do Villarreal.

Quando transferido para o Milan, Pato caiu nas graças e na cama de uma filha de Berlusconi, o todo-poderoso primeiro-ministro italiano. Desde então, em vez de botar a bola no gol adversário, prefere botar as bolas nas anfractuosidades das namoradas, atividade em que parece exceler. Contratado por três anos, Alexandre Rodrigues da Silva, o Pato, natural de Pato Branco, PR, ainda na flor dos seus 27 aninhos, não demora a engatar numa chinesa rica e poderosa.

Mark Elliot Zuckerberg, 32 aninhos, patrimônio atual de US$ 55,4 bilhões, nascido em White Plains, Nova Iorque, um dos fundadores do Facebook, ex-aluno de Harvard, já descolou a chinesa Priscilla Chan, 31 aninhos, que tem a virtude de falar inglês porque nasceu em Braintree, Massachusetts.

E dizer que há poucos anos, não mais que 50, você podia encomendar por 900 dólares uma chinesa original de fábrica, virgem, de 19 aninhos. Com a papelada e a passagem de avião não custaria mais que três mil dólares, quantia razoável por quaisquer critérios.

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FONTE: philosopho.com.br