Antequam noveris, a laudando et vituperando abstine. Tutum silentium praemium.

Revista A Granja
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Verdades verdadeiras

Nem todas as verdades são verdadeiras, são eternas, resistem ao passar dos anos. Os gregos diziam que a verdade é a concordância entre o pensamento e a realidade, ou então a própria realidade enquanto se revela ao espírito. Já na Bíblia, o termo verdade é cada vez mais relacionado com a lei, a revelação, a palavra de Deus. Em ciência política, a verdade é aquela que nos convém e continua verdadeira mesmo depois de cientificamente desmascarada, como a honestidade do PT.

O Brasil realmente trabalhador, jamais entendeu um partido que sempre foi um saco de gatos. Só agora veio a explicação: o saco de gatos era cheio de ratos. Gatos e ratos, ao contrário do que se vê nos desenhos animados, têm convivência pacífica, desde que haja alimentação abundante. Nas crises da falta de alimentos, há indivíduos, entre os gatos, que se revelam bons caçadores. Ou fundam novo partido, ou são assassinados a tiros em carros blindados.

O assassinato de três franceses da ONG Terr’Ativa, no Rio, só fez confirmar duas verdades: 1. há indivíduos irrecuperáveis; 2. gratidão é exceção. Nunca é demais recordar que um dos assassinos dos franceses foi assistido pela ONG, quando menino de rua, e era funcionário da organização havia quase dez anos. Seus auxiliares na empreitada criminosa foram recrutados entre ex-assistidos da própria Terr’Ativa. Uma terceira pergunta, desta vez incômoda, é a seguinte: será que os franceses não têm problemas de sobra em seu belo País? Será que se metem na terra dos outros de olho nos dólares, euros e reais que podem arrecadar, sem controle, a pretexto de recuperar meninos de rua?

O leitor e eu conhecemos alguns casos de gratidão, que são exceção à regra da ingratidão. Tanto assim que é comum a seguinte pergunta: “Não sei o porquê da raiva que fulano tem de mim, se nunca lhe fiz bem”. Aí é que está: a criatura, quase sempre, se vira contra o criador. E o glorioso Maranhão só faz confirmar esta verdade, ao inventar políticos que brigam com seus malas. Não adianta procurar no Houaiss e no Aurélio, que não têm: mala, em ciência política, é o cavalheiro que recolhe o dinheiro de seu líder. É substantivo de dois gêneros.

Nem sempre, pelo fato de ser verdadeira, uma verdade é boa. Tiros de fuzil capazes de transfixar corações, por exemplo, são verdades funestas. Nossa bacia leiteira tinha um filósofo, médio produtor de leite, que alugava seus avais a juros.

Se o produtor conseguia um empréstimo, digamos, a juros de 2% ao mês, o avalista era o filósofo, que cobrava mais 2%, também adiantados, ao mês, depois de certificar-se de que a vítima tinha patrimônio e receita para pagar pelos juros e para responder pela dívida. Um sujeito que tomasse, digamos, R$ 100 mil, pelo prazo de 90 dias, levava para casa R$ 88 mil, porque deixava R$ 12 mil de juros, adiantados, no banco e no avalista.

Como todo agiota, o produtor era muito respeitado. Fazia ponto na porta do banco, na rua principal da cidade, onde era consultado pelos fazendeiros de passagem. A condição de usurário não era incompatível com suas verdades verdadeiras. Uma delas: não se pode ganhar dinheiro com leite de novilha.

Aí é que está: novilha é animal em crescimento, que precisa de alimento suficiente para produzir leite e continuar crescendo, em condições de se transformar numa boa vaca: leiteira e parideira. Portanto, a receita do leite da novilha deve ser transformada em comida para que ela continue crescendo normalmente. O conselho do agiota é mais atual do que nunca, pois há notícias de novilhas de primeira cria produzindo 10 toneladas de leite, ou mais, na primeira lactação. Alguém já parou para pensar no esforço gigantesco de um animal, em crescimento, produzindo em média mais de 30 kg de leite dia, durante 305 dias?

Outra verdade do usurário, desta vez cruel, mas verdadeira:

sempre que temos um amigo afundando nos negócios, devemos ficar com muita pena, podemos fazer tudo ao nosso alcance para ajudá-lo, menos dar a mão ao que afunda. Até podemos separar um dinheirinho, que não nos faça falta, para ajudar o amigo na bolsa-comida, ou na mensalidade do colégio das crianças. Tudo, menos dar-lhe a mão, porque afundamos junto. É verdade terrível, mas verdadeira.

REVISTA A GRANJA – 701


1 Comentário(s)

  1. Semí Alvarenga

    8 de setembro de 2014 às 19:33

    Não devemos ter pena e sim compaixão.Não devemos avalizar alguém e sim dar uma pequena ajuda.Assim meu pai me ensinou.Abraços Eduardo Boa semana.

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