Antequam noveris, a laudando et vituperando abstine. Tutum silentium praemium.

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31 de agosto a 06 de setembro de 2015

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Dromomania – Na rubrica psicopatologia, dromomania é impulso incontrolável e mórbido de perambular, de viajar, especialmente de abandonar os lugares onde golpes emocionais foram sofridos. Se o dromômano é pobre se transforma em andarilho e deambula errático pelos caminhos da vida.

Pausa para curtir a última frase, que resultou da melhor supimpitude com o dromomaníaco sujo, desgrenhado, malvestido e malvisto, a deambular errático por aí.

Se têm recursos, as pessoas fazem a fortuna da indústria do turismo e me lembram o anarquista espanhol, aquele do “Hay gobierno? Soy contra!”, porque vivem dizendo “Hay avión? Me voy!” e partem no maior entusiasmo para qualquer lugar do planeta.

Metem-se na aeronave más pesada que el aire, provista de alas, cuya sustentación y avance son consecuencia de la acción de uno o varios  motores, e vão conhecer o Vietnam, o Camboja, a China, o Afeganistão para voltar dizendo que a estada foi muito divertida.

Aliás, dizem estadia, que sempre foi termo de marinha mercante significando “prazo concedido para carga e descarga do navio surto em um porto” ou estalia, do italiano stallia ‘estadia’, do latim  medieval de Ferrara (Itália) stallia provavelmente destallo ‘demora’ e, este, do frâncico stall  idem.

Mas o pessoal moderno está abusando e a tendência é piorar, como temos visto no governo da incompetenta. A situação é tão grave que sucumbiram até os 29 fios de cabelo que o ministro Mercadante cultivava no alto da quenga. Hoje, não chegam a dúzia e meia. Salva-o a recente descoberta dos japoneses: plantar cabelos com células-tronco. São milhões de fios em poucos meses.


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Sogrinhas – Tenho 19 livros publicados, gosto de três ou quatro, especialmente de um romance que trata do relacionamento sexual de genro e sogra, fato verídico que me foi contado pelo genro, velho e querido amigo, num passeio a cavalo que fizemos na minha fazendinha mineira. Tive a impressão de que ele precisava contar o segredo a alguém e fiquei lisonjeado por ter sido o escolhido.  Releitura recente deixou-me perplexo: como explicar que um escritor limitado possa ter escrito livro tão bom?

“Isto é o que fazem todos os escritores, severíssimos com os defeitos alheios e benigníssimos com os próprios, como pais enfim” disse o padre Vieira sem me atingir, porque sou severíssimo com os meus muitos defeitos. Mas o romance resultou supimpa, devo admitir.

Mãe do marido em relação à mulher deste ou mãe da mulher em relação ao marido, sogra vem do latim vulgar socra,ae, do latim clássico socrus,us, que significava “sogra; avó do marido ou da mulher”.

Não tem sido comum, nos últimos anos, que genros e noras gostem de suas sogras. Ouçamos a opinião de Vieira, nascido em lar humilde na Rua do Cônego, perto da Sé, em Lisboa, primogênito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana, cuja mãe era filha de uma mulata, e de Maria de Azevedo, lisboeta.

Cristóvão foi por dois anos escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614 para assumir o cargo de escrivão em Salvador, Bahia, mandando vir sua família em 1618. Vieira ingressou na Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623 e morreu em Salvador em 1697 com 89 anos.

Passo a palavra ao admirável Ivan Lins, Ivan Monteiro de Barros Lins, saudoso amigo, jornalista, professor, pensador, ensaísta e conferencista nascido em Belo Horizonte no ano de 1904, morto no Rio em 1975, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de Aspectos do Padre Antônio Vieira.

“Um ponto, porém, da moral de Vieira, que podia ser muito verdadeiro em seu tempo, mas não o é mais em nossos dias, é o atinente às sogras…

Conta o Evangelista São Lucas que a sogra de São Pedro, em cuja casa ele morava, estava ‘tão enferma e prostrada de umas gravíssimas febres, que nem para receber ao Senhor se pôde levantar. Socrus autem Simonis tenebatur magnis febribus. Quem haverá que não repare e note aqui muito a pouca providência de São Pedro, antes o demasiado descuido e negligência de atender ao remédio de sua casa e à necessidade de seus domésticos e parentes? A sogra de Pedro em casa ardendo em febres e sem cura, padecendo dores e sem alívio, atada tanto tempo a um leito, sem saúde, sem sequer melhoria? Não é este aquele mesmo Pedro, que passando pelas ruas e pelas praças, só com a sua sombra curava todos os enfermos? Como logo abusa de tal modo do seu poder, que curando a todos, só aos seus domésticos não cura? Tantos milagres para as casas dos outros, e para a sua casa nenhum milagre?”

“Pois se São Pedro passando pelas ruas sarava os enfermos estranhos, bastando só que os tocasse com a sua sombra, a enferma que tinha dentro de casa, tocando-lhe tão de perto no parentesco, por que não a curava?”

A explicação que, para tão grave anomalia, encontra Vieira é deixar São Pedro a sua sogra enferma “só por ser sogra…” E explica: “Uma sogra talvez é melhor deixar doente, que sã: porque doente a mesma doença a tem quieta a um canto da casa, e sã, rara é a que se não contente com menos que com todos os quatro cantos dela…


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Cultura – Brilhante e urgente a ideia de acabar com o Ministério da Cultura, iniciativa dos próprios funcionários alegando falta de verbas. Que se pode esperar de um Ministério que tem, como titular da pasta, um cavalheiro que usa brinco na orelha? Um ministro que se deixou benzer por um índio acreano da tribo ashininka? Um ministro que, bento pelo ashininka, nomeou o doutor Francisco Bosco presidente da Funarte, Fundação Nacional de Artes, órgão responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo.

Batizado Francisco de Castro Mucci (Rio de Janeiro, 1976), adotou o nome Francisco Bosco por ser filho do cantor, violonista e compositor mineiro João Bosco de Freitas Mucci (Ponte Nova, 1946). Bela demonstração de amor filial – aproveitando a ensancha para se beneficiar do nome e da fama do cantor, violonista e compositor.

No texto em que se despediu do Globo, depois de cinco anos de colunas semanais, para assumir a presidência da Funarte, o Dr. Francisco de Castro Mucci, codinome Francisco Bosco, afirmou: “Daqui a três meses vão se completar cinco anos desde que estreei como colunista deste caderno, no bojo de sua reinvenção, concebida pela então editora Isabel De Luca. A reformulação teve um sentido de desprovincianização eaggiornamento de ideias. Foram chamadas figuras eminentes da cultura brasileira para as colunas da página 2”.

Existe maior exemplo de empáfia, de presunção, de imodéstia? O cavalheiro é chamado para fazer uma coluna semanal e diz que foi lembrado porque a editora do caderno convidou “figuras eminentes”. Triste país.


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Orgulho –
A administração pública brasileira tem sido infeliz com os machos da espécie – Jânio, Jango, Sarney, Collor, Lula – mas pode orgulhar-se das mulheres extraordinárias que têm ajudado a conduzir a nação: Rosane Brandão Malta Collor de Mello, Dilma Vana Rousseff, Marisa Letícia Rocco Casa Lula da Silva, Erenice Guerra, Gleisi Helena Hoffman, Rosemary Nóvoa de Noronha, Roseana Sarney e tantas outras reservas morais e intelectuais de um país grande e bobo.

Dilma Vana vive repetindo que estamos numa travessia. Realmente, na travessia do mar de bosta aprontado pelo seu desgoverno.


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Repeteco – No episódio “Comunidade Evangélica Jesus, a verdade que marca”, é deliciosa a repetição dos fatos que levam pessoas fragilizadas a embarcar nas canoas da picaretagem. Fragilizadas emocionalmente, sim, mas também de uma idiotia congênita.

A imprensa optou pelo substantivo feminino seita para falar da Comunidade Evangélica Jesus, que teve seis dos seus líderes presos pela Polícia Federal na manhã do último dia 17 de agosto em Minas, Bahia e São Paulo.

Seita é tudo que a gente chama de seita: partido, escola filosófica, variedade de tendências religiosas dentro do judaísmo, sistema que se afasta da opinião geral, conjunto das pessoas que seguem esse sistema, dissidentes de uma religião, bando, facção, teoria de um mestre com inúmeros seguidores etc.

No episódio do dia 17 de agosto acho que a mídia recorreu à rubrica sociologia: sociedade cujos membros se agregam voluntariamente e que se mantém à parte do mundo. Ainda aí a definição é falha, porque o fragilizado, ilaqueado em sua boa-fé, que se confunde com a debilidade mental, não se agrega voluntariamente aos picaretas: é cooptado por eles, entrega todos os seus bens e é mantido em condições análogas às da escravidão.

Nas Serras do RJ, final da década de 60, houve episódio divertidíssimo no município de Petrópolis, região de sítios e casas de campo dos bambambãs, um dos maiores PIBs desta choldra que tem hino, bandeira e constituição cidadã.

Apareceu um pastor maluco anunciando o fim do mundo para dali a três ou quatro meses, reuniu todos os sitiantes das imediações numa casa velha de 200 anos, caindo aos pedaços, sede da fazenda original, e os convenceu a vender suas coisas. Se o mundo acabaria em 90 dias, não fazia sentido ter jipe velho, vacas, bois de carro, arados, grades, móveis, roupas, calçados e outras bobagens. Como também não adiantava continuar plantando.

Vendidos os bens, dinheiro transformado em alimentos, lá ficaram todos rezando nas ruínas do casarão secular esperando o dia do fim do mundo. A comida acabou. Sobrou um galo transformado em canja rala para dezenas de fiéis. Que acabaram conhecendo, mesmo, o anunciado fim do mundo, no dia em que alguém denunciou os fatos e o pastor à PM de Petrópolis.

Duas viaturas de bom tamanho, apinhadas de PMs, baixaram no terreiro do casarão e foi uma pancadaria de criar bicho, que a PM, quando autorizada, sabe bater. Durante meses havia crentes fugindo pelos altos das serras e o pastor acabou engaiolado.

Nessa época comprei a fazenda vizinha, tomei conhecimento da história e assisti à reconstrução das vidas daqueles pobres-diabos plantando, colhendo, comprando móveis, roupas, calçados, ferramentas, bois de carro.


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Estética – Por quaisquer critérios que adotemos, o brasileiro é um povo feio: vemos na tevê. Os repórteres são escolhidos por sua boa aparência, mas os entrevistados são quase todos de uma feiúra de lascar. Matérias feitas ao vivo e em cores dos saguões da Câmara e do Senado deram para incluir, como pano de fundo, um bando de papagaios de pirata, idiotas exibindo cartazes de apoio ou desapoio a determinados projetos. Gente feia catada a laço, mediante pagamento de meia dúzia de reais, para mostrar os cartazes atrás do jornalista que noticia os fatos: espetáculo deprimente. Resta perguntar por que os diretores das tevês não filmam seus jornalistas tendo como pano de fundo as paredes dos saguões? Com aquele monte de papagaios de pirata a filmagem pega mal.

Entrevistas nas ruas centrais, nas “comunidades”, nos parlamentos, em qualquer lugar, só nos mostram gente feia. Recente episódio filmado na Câmara Municipal de Mauá da Serra, PR, envolvendo os salários dos vereadores, mostrou-nos um lote de edis de uma feiúra sem cômpar no mundo civilizado. E o meu corretor de textos acaba de sublinhar cômpar em vermelho, mostrando que é corretor analfabeto, pois até o gato lá de casa, se houvesse, saberia que o adjetivo de dois gêneros é bom latim e significa “igual ou semelhante; que está a par de outro”.

Gato lá de casa é sintagma que serve para uma porção de assuntos, até para falar dos animais domésticos de estimação, gatos, cachorros, leitões  & outros, fenômeno comum no mundo inteiro. E sintagma é unidade linguística composta de um núcleo (p.ex., um verbo, um nome, um adjetivo etc.) e de outros termos que a ele se unem, formando uma locução que entrará na formação da oração.

Em seu ótimo livro Sonhos rebobinados, reunindo crônicas publicadas na imprensa, o mineiro Humberto Werneck diz que nunca teve apreço pelos animais e cita frase do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980): “Quem ama excessivamente os animais, ama contra os homens”.

Se me fosse dado palpitar, diria que o único animal amável é o cavalo. Gatos, cachorros, leitões, cacatuas, jabutis, periquitos… sei não.


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Perspectivas – Admiráveis as perspectivas abertas pela OAB-MG e pelo Conselho Federal da OAB com a contratação da dupla Victor & Leo para o terceiro Congresso Nacional de Direito Sindical, marcado para os dias 10 e 11 de setembro em Nova Lima, MG.

Os irmãos Vitor Chaves Zapalá Pimentel e Leonardo Chaves Zapalá Pimentel, que formam a dupla Victor & Leo, nasceram em Ponte Nova e foram criados em Abre Campo, cidades da Zona da Mata de Minas. São produtores, cantores, compositores, arranjadores e músicos, mas não se limitam ao sertanejo vulgar porque seu estilo mescla folk, pop, romantismo e sertanejo.

É inadmissível a realização de um congresso nacional jurídico sem uma dupla sertaneja. Sendo pop, folk e romântica, melhor ainda, pelas perspectivas que abre para os advogados regularmente inscritos na Ordem em todo o Brasil.

O leitor conhece o verbo reciprocar, em nosso idioma desde 1572. E puro latim e os advogados curtem um latinzinho. Reciprocando, a partir de agora todos os shows de música popular realizados no Brasil – sertaneja, pop, folk, romântica, funk, funk ostentação, rap e os mais gêneros que você queira acrescentar – deve incluir pelo menos uma palestra jurídica de 50 minutos, regiamente remunerada, sobre assuntos relacionados com os interesses da galera: constitucionalismo, tráfico de entorpecentes, Código Penal, Código de Processo Penal e quejandos. E tem mais uma coisa: um carro zero quilômetro deverá ser sorteado ao final de cada evento.


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Implicância – Dirceus, Vaccaris, Fernandos, Lulas – tantos políticos graúdos merecendo cadeia pelo resto de suas vidas – e as redes de tevê perseguindo moça de 22 aninhos, prefeita de Bom Jardim, MA, pelo crime de ter roubado pouco, mesmo porque seria difícil tunga de vulto em município paupérrimo, um dos piores IDHs do Brasil, onde moram cerca de 40 mil bom-qualquer-coisa. Cidade próxima de Buriticupu, o que diz tudo. “Cidade das madeiras” é habitada por 80 mil felizes buriticupusenses.

Pelejei para encontrar o gentílico dos nascidos ou residentes em Bom Jardim, MG, e não encontrei. Deve ser bom-jardinense. Em compensação, aprendi o adjetivo gentílimo, extremamente gentil, que falta ao jornalismo televisivo ao tratar da prefeita Lidiane Leite (PP-MA), que fugiu da cidade acusada de desviar recursos das escolas municipais.

Foram presos Beto Rocha, seu marido, e Antônio Cesarino, ex-secretário de Agricultura, afastado da pasta desde o ano passado por denúncias de corrupção.

Como prefeita, Lidiane compartilhava fotos pelo Instagram em que aparecia segurando taças de champanhe em micaretas, posando com um personal trainer ou com amigos em um jet ski: “Antes de ser prefeita eu era pobre, tinha uma Land Rover. Agora estou numa SW4. Devia era comprar um carro mais luxuoso porque graças a Deus o dinheiro está sobrando. Eu compro o que eu quiser, gasto sim como eu quero. Não estou nem aí para o que acham. Beijinho no ombro para os recalcados”.

Vejo na internet que uma SW4 é Toyota e pode ser comprada em 36 prestações de RS$ 1.520,00 + 60% de entrada, com IPVA grátis. Portanto, é carro modesto diante do Lamborghini Aventador LP 700-4 do senador Fernando Collor, veículo que não deve circular com desembaraço pelas estradas do entorno de Bom Jardim, MA. Mesmo no asfalto de Brasília, DF, o Aventador é pura semostração de um cavalheiro que teve mulher, cunhados, sobrinhos e sogros da aristocracia de Canapi, AL, que já se chamou Cavalo Morto.

Nem pombajira dá jeito em Cavalo Morto. E pombajira, como sabe o leitor, na umbanda popular e na quimbanda é Exu-fêmea, enquanto na umbanda esotérica é cabeça de falange (subdivisão) da linha de Iemanjá.

 

FONTE: Jornal da ImprenÇa.