Eduardo Almeida Reis
Publicação: 10/08/2014 04:00
Quanto ao fazendeiro, que insiste na produção de leite, é vicio melhor que os outros, crack, coca, nicotina e álcool, mas é vício: um mau negócio em que você trabalha com bichos abençoados. Num dos meus livros calculei o crescimento de um lote de 10 vacas mestiças, adaptadas ao meio, estabelecido o fato de que a eficiência reprodutiva do rebanho normalmente não chega aos 100% ao ano, metade machos, metade fêmeas.
No primeiro ano temos 10 vacas e 5 bezerras = 15 fêmeas. No segundo ano, 10 vacas, 5 garrotas (bezerras de sobreano) e 5 bezerras = 20 fêmeas. No terceiro ano, 10 vacas, 5 novilhas de dois anos, 5 garrotas e 5 bezerras = 25 fêmeas. No quarto ano, 15 vacas, 5 novilhas, 7 garrotas e 7,5 bezerras = 32,5 fêmeas. No quinto ano, 20 vacas, 5 novilhas, 7,5 garrotas e 10 bezerras = 42,5 fêmeas.
A partir do sexto ano, ainda com as 10 primeiras vacas perfeitamente “operacionais”, o negócio se transforma numa loucura: são 25 vacas, 7,5 novilhas, 10 garrotas e 12,5 bezerras = 55 fêmeas. Sete anos, mesmo na roça, passam muito depressa. É claro que você vendeu fêmeas refugadas e perdeu fêmeas acidentadas, picadas de cobras, coisas que acontecem. É claro, também, que lápis e papel aceitam qualquer coisa, mas que a vaca é um bicho abençoado, é. Se você começar com 30 vaquinhas, terá 165 no mesmo período.
O que atrapalha é o leite. Se fosse possível inventar uma pecuária leiteira com vacas adaptadas ao meio, sem vender leite, estaríamos diante de um dos melhores negócios do mundo. E tem mais uma coisa: no primeiro ano, nasceram 5 machinhos, mais 5 no segundo ano e 5 no terceiro, quando você já tinha 5 bois para vender ao açougueiro. Quanto às 7,5 bezerras que pintaram no pedaço impresso, paciência: a exemplo do lápis e do papel, o computador aceita quase tudo.
Rebanho adaptado ao meio, criado com um mínimo de cuidados, tem um crescimento extraordinário: a partir do sétimo ano tem vaca e bezerra que não acaba mais. Diante disso, não chega a causar espanto que tanta gente se vicie no negócio leiteiro.
Sonhos
Sem ser onirócrita, peço licença para exercitar a onirocrisia, que é a arte, a técnica de interpretar e analisar os sonhos, mesmo os maus sonhos chamados pesadelos. E o pacientíssimo leitor, que me conhece faz tempo, sabe que não sou de deixar para amanhã as palavras que aprendo hoje, caso de onirocrisia e onirócrita.
Deu-se que dormi mal à beça e à bessa, quatro horas depois de ter comido pouquíssimo e não ter bebido mais que água mineral sem gás. Como explicar a sucessão de pesadelos? Sonhos bons são ótimos, ao contrário dos sonhos maus, que me deixam encucado. Lembro-me dos dois últimos da tal noite maldormida.
Sem exercitar a onirologia, não me custa recordar ao leitor do Estado de Minas que a primeira edição de A Interpretação dos Sonhos, em 1899, o mais importante trabalho de Freud, que lhe rendeu exatos 209 dólares, só se esgotou depois de oito anos. Edição de escassos 600 exemplares, sobre um assunto que o autor dizia: “Uma inspiração como esta só vem uma vez na vida”. Vendeu menos que o meu Bumerangue, romancinho da melhor supimpitude.
O mundo é uma bola
10 de agosto de 258: Lourenço de Huesca (225-258), um dos setes primeiros diáconos (guardiães dos tesouros da igreja cristã sediada em Roma) foi martirizado. O cargo de diácono era de grande responsabilidade e consistia no cuidado com os bens eclesiais e na distribuição de esmolas aos pobres. No ano 257, o imperador romano Valeriano decretou a perseguição aos cristãos, detendo e decapitando no ano seguinte o papa Sisto II. Lourenço foi grelhado, canonizado e hoje é nome de município sul-mineiro, terra do excelente Eugênio Ferraz.
Em 1500, depois de dobrar o Cabo da Boa esperança, Diogo Dias encontrou uma ilha à qual deu o nome de São Lourenço, hoje Madagáscar. Em 1965 nasceu Eduardo Henrique Accioly Campos, candidato à presidência da República Federativa do Brasil.
Ruminanças
“Saco não é palavra-ônibus, mas a Copa das Copas foi um saco na opinião meditada do Alvinho, grande jornalista e pescador” (R. Manso Neto).