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Crise agrava trapaças nos serviços de festas e eventos

Descumprimento de contratos para celebração de casamentos, formaturas e aniversários cresce na Grande BH, com registro de 41 reclamações contra empresas somente neste ano

Parentes e amigos dos noivos Raquel e Daniel improvisaram a comemoração, com bolo comprado em padaria e champanhe servido em copo descartável (Arquivo pessoal)Parentes e amigos dos noivos Raquel e Daniel improvisaram a comemoração, com bolo comprado em padaria e champanhe servido em copo descartável

 

Depois de planejar toda a cerimônia, escolher padrinhos, cerimonial, vestido, retirar e incluir parentes e amigos das listas de convidados, e arrumar a festa dos sonhos, o “felizes para sempre” nem sempre é garantia para o dia dos noivos. Tem crescido em Belo Horizonte o número de empresas contratadas para prestar serviços em casamentos que estão deixando a desejar nas condições previstas em contrato. Os bufês – parte fundamental da celebração – ganham mais destaques quando o assunto é reclamação e, de acordo com Procon de Belo Horizonte, as queixas vão desde a cobrança indevida até o calote no “grande dia.”

Somente neste ano, o órgão de defesa do consumidor já registrou 41 reclamações contra empresas de eventos na capital e, com a crise econômica, que tem levado muitas empresas a fechar as portas, a tendência é que surja um número bem maior daqui pra frente. No último sábado, os noivos Raquel Ramos Santana Melo, de 31 anos, e Daniel Carreiro Miranda, 28, sentiram na pele essa frustração. Em fevereiro deste ano, eles contrataram o buffet D’Paula, de Contagem, na Grande BH, para a fazer a festa de casamento deles, no dia 23 de julho, às 16h, no Sítio Paraíso da Mapa, em Vespasiano.
A empresa contratada cobrou pelo serviço o valor de R$ 7 mil, contemplando doces, bebidas e salgados para servir 150 pessoas, mas não o serviço não apareceu. Segundo os noivos, os fornecedores garantiram até o último minuto que as comidas estavam chegando e algum tempo depois pararam de atender os telefones celulares. Diante do prejuízo financeiro e moral, o casal vai registrar boletim de ocorrência e acionar a Justiça contra a empresa.
A noiva, Raquel, conta que o buffet D’Paula está registrado como Dpaula Rocha Recepções e Eventos em nome de Gustavo de Paula Barcellos. Ela diz que tudo havia sido confirmado por ela e pelo cerimonial na véspera do casamento. Em uma das ligações feitas ao proprietário antes do desligamento dos aparelhos celulares, Barcellos chegou a dizer que os salgados haviam estragado e que mandaria, em substituição, itens de comida de boteco para o evento.
A espera continuou e nada apareceu. A festa só não foi totalmente estragada por causa da solidariedade de parentes e amigos, que improvisaram o resto da comemoração e, inclusive, a champanhe foi servido em copos descartáveis e o bolo foi comprado em padaria. Os estudantes Renata Santos, 24, e Matheus Ferreira, 25, que se casaram no mesmo dia e horário em Contagem, ficaram sem festa por causa do mesmo buffet.
A noiva conta que pagou cerca de R$ 20 mil por mobília e fornecimento de salgados, comida de boteco e jantar, além de um barman para fazer drinks na hora. No lugar do serviço contratado, recebeu alimentos insuficientes, carne congelada, jiló e limão estragados. “Ele não mandou vasilhame, não tinha água nem gás para fazer a carne, não dava mesmo. Os garçons queriam ir embora porque ele não tinha pago ninguém. Meu pai teve que pagar também a mobília, que queriam levar de volta por causa do cano”, conta Renata, que decidiu cancelar a festa e, ontem, registrou boletim de ocorrência.

PROVAS VITAIS
Em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, de acordo com o advogado Adriano Cotta Barros, buffets também têm acumulado queixas feitas por consumidores insatisfeitos. Ele afirma que, recentemente, cerimoniais que oferecem pacote de decoração e bufê foram motivo de desespero de noivos. “Um deles, o bufê Cardoso Eventos foi julgado pela Justiça depois de, em setembro, não oferecer nem 40% do que foi acordado. A empresa foi condenada a devolver 35% dos R$ 30 mil pagos pelos noivos e R$ 10 mil pelos danos morais”, destaca, recomendando aos que passam por situações como essas a obterem o maior número possível de provas, como fotos, filmagens e outros fornecedores como testemunha.
“A crise econômica pode até ajudar nesses casos, mas o que prevalece é a falta de caráter desses empresários”, critica. Nem mesmo tradicionais empresas do setor estão imunes ao golpe. No ano passado, o Buffet Cléo Perrela fechou as portas, deixando de honrar pelo menos 10 contratos. Na época, a responsável admitiu passar por um período de dificuldades e, de acordo com coordenador do Procon do Ministério Público, Fernando Abreu, ela tem procurado pagar o que deve aos consumidores lesados.
“Mas no caso do bufê de Tereza Cavalcanti, que fechou em 2014 às vésperas de casamentos e festas, deixando pelo menos 400 pessoas desatendidas, a história foi diferente. Como eles sabiam que dariam o golpe, passaram bens em nomes de terceiros”, comenta Abreu. As vítimas, em sua maioria noivos, debutantes e formandos, à época da falência, ainda não receberam o valor investido de volta ou foram indenizadas. No site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) há mais de 250 processos envolvendo o nome do grupo.

PARA SE PROTEGER
Confira os conselhos dos órgãos de defesa do consumidor
» Procure contratar bufês por indicação de amigos ou busque aqueles cujos serviços você já presenciou em uma festa e gostou.
» Estranhe sempre os preços muito abaixo dos praticados pelo setor no mercado. Pesquise qual é a média cobrada e tente contratar aqueles que estão dentro dela.
» Antes de contratar o serviço escolhido, pesquise o nome da empresa na Justiça do Trabalho. Geralmente, um bufê que está em más condições já é alvo de processos trabalhistas.
» Confira nos órgãos de defesa do consumidor as reclamações referentes à empresa escolhida.
» Ainda que o serviço possa ficar mais caro, peça ao contratado uma garantia bancária, como se fosse um seguro.
» Ao ser vítima de um calote, procure os órgãos de defesa do consumidor que podem, na Justiça, apresentar ação e pedir o bloqueio de bens dos acusados.

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FONTE: Estado de Minas.