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PT diz que Vaccari solicitou seu afastamento da tesouraria do partido

Em nota, presidente do partido confirma a decisão, mas mantém discurso de confiança na inocência de Vaccari

O MPF e a PF observaram também uma depósitos não identificados e fracionados em contas de parentes do tesoureiro, como sua filha e sua mulher, Giselda. A mulher do tesoureiro recebeu R$ 322 mil de 2008 a 2014. A filha de Vaccari, Nayara Lima Vaccari, aumentou seu patrimônio de R$ 240 mil para R$ 1 milhão entre 2008 e 2013, mesmo tendo como única fonte de renda um “pequeno valor” de bolsa de estudos de medicina.

 GERALDO BUBNIAK/AGB/ESTADAO CONTEUDO

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O presidente do PT, Rui Falcão, informou nesta quarta-feira, em nota, que o tesoureiro João Vaccari Neto, preso na manhã desta quarta-feira pela Polícia Federal, “solicitou seu afastamento” do cargo “por questões de ordem práticas e legais”. Apesar do afastamento, a nota assinada por Rui mantém o discurso de “confiança na inocência de João Vaccari Neto”, apontado por investigações da PF como operador de propina do PT no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.

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“Reafirmamos nossa confiança na inocência de João Vaccari Neto, não só pela sua conduta à frente da Secretaria Nacional de Finanças e Planejamento, mas também porque, sob a égide do Estado Democrático de Direito, prevalece o princípio fundamental de que todos são inocentes até prova em contrário”, afirma Rui.
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O presidente do partido classifica ainda como “injustificada” e “desnecessária” a prisão de Vaccari e informa que os advogados do tesoureiro estão apresentando um pedido de habeas corpus.
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A decisão foi divulgada poucas horas depois de terminado o encontro que selou o destino do tesoureiro, entre Falcão e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após o acerto com Lula, a nota foi redigida em uma reunião entre Rui Falcão, o secretário de Comunicação José Américo Dias e o secretário-geral do partido, Romênio Pereira.
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Tesoureiro do PT na cadeia
Vaccari Neto operava esquema de corrupção na Petrobras e usava gráfica para receber propina, diz a Polícia Federal. Em reunião de emergência, cúpula do partido decide afastá-lo do cargo

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Preso em São Paulo no início da manhã, Vaccari foi levado à tarde para Curitiba (PR), onde passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal<br />
 (Antônio More/Gazeta do Povo)

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O tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto, foi preso na manhã de ontem, em São Paulo, pela Polícia Federal, e deve prestar depoimento hoje na 12ª etapa da Operação Lava-Jato – que apura um esquema de corrupção na Petrobras. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), em seu pedido de prisão preventiva, as doações feitas ao PT durante as eleições do ano passado, possivelmente, estão contaminadas pelo esquema criminoso. A força-tarefa da Lava-Jato mostra que “ao menos parte das doações de 2014 das empresas investigadas na operação seriam, na realidade, pagamento de vantagem indevida”.
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Além de Vaccari, outro alvo da nova fase da investigação é Marice Correia de Lima, cunhada do tesoureiro, que teria emprestado sua conta bancária para movimentação de propina pagas em razão de contratos com a estatal. A PF fez busca e apreensão na casa dela, onde foram encontrados documentos, entre eles correspondências que indicam que ela está em viagem há duas semanas. Em razão disso, Marice já é considerada foragida. A mulher do tesoureiro, Giselda Rousie de Lima, foi alvo de mandado de condução coercitiva e levada para  prestar depoimento.
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A prisão de Vaccari – que falou à CPI da Petrobras, na semana passada, irritando os parlamentares com respostas evasivas –, foi decretada pelo juiz Sérgio Moro, que preside as investigações. Ele já é réu no processo da Lava-Jato, mas, de acordo com Moro, a prisão foi necessária em razão da permanência dele no cargo de tesoureiro do PT. Em seu depoimento aos deputados, Vaccari reafirmou que não deixaria o cargo por ser inocente, apesar de integrantes do partido defenderem a necessidade de seu afastamento. O que acabou ocorrendo 11 horas depois da sua prisão, com o anúncio da decisão da cúpula do partido, que convocou reunião de emergência logo após ser surpreendida com a detenção do tesoureiro.
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“Em tal posição de poder e de influência política, (Vaccari) poderá persistir na prática de crime ou mesmo perturbar as investigações e a instrução da ação penal”, justificou Moro em sua decisão. De acordo com o juiz, Vaccari vinha atuando como “operador” do esquema, assim como o doleiro Alberto Youssef .Uma das motivações da prisão é a empresa Gráfica e Editora Atitude, que prestou serviços para a Presidência e pertencente aos sindicatos dos Bancários e dos Metalúrgicos de São Paulo, ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). De acordo com a investigação, a entidade recebeu R$ 1,5 milhão da empresa Setal, de instalações marítimas, para transformar propina em doação oficial de campanha. O problema é que a Atitude não prestou serviço algum. Por isso, o Ministério Público suspeita de lavagem de dinheiro.
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O MPF e a PF observaram também uma depósitos não identificados e fracionados em contas de parentes do tesoureiro, como sua filha e sua mulher, Giselda. A mulher do tesoureiro recebeu R$ 322 mil de 2008 a 2014. A filha de Vaccari, Nayara Lima Vaccari, aumentou seu patrimônio de R$ 240 mil para R$ 1 milhão entre 2008 e 2013, mesmo tendo como única fonte de renda um “pequeno valor” de bolsa de estudos de medicina.
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DELAÇÃO De acordo com o MPF, são as delações premiadas de Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, e de Augusto Mendonça, executivo da Setal, que sustentam a suspeita de uso de propina na eleição de 2014. “Leite afirmou que Vaccari solicitou propina para o PT por meio de doações oficiais da Camargo Corrêa. Atente-se que a empreiteira de fato doou na campanha de 2014 cerca de R$ 35 milhões ao PT, não podendo ser descartada a hipótese que tal doação se referia ao pagamento de propina”, afirmam os procuradores.
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Moro deu seu aval aos procuradores e afirmou: “O mundo do crime não pode contaminar o sistema político-partidário”. E foi mais longe: “Quem responde por tão graves crimes, que incluem a utilização da posição de tesoureiro do partido político para angariar recursos criminosos e corromper o sistema político, oferece um risco à ordem pública”.
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Preso por volta das 6h em sua casa, em São Paulo, Vaccari deixou a sede da PF na capital paulista no início da tarde e foi levado para Curitiba (PR), onde tramita o processo da Lava-Jato. O tesoureiro aparentava tranquilidade, mas optou pelo silêncio. À PF, disse apenas que acredita que sua cunhada Marice está viajando para o Panamá ou Costa Rica.
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FONTE: Estado de Minas.