Resultado de uma história que começou no Império, trecho de 12 quilômetros de largura por 142 quilômetros de extensão foi adquirido pelo governo mineiro em 1910, abrindo uma saída para o litoral baiano
Parte da cidade histórica de Caravelas, suas praias, mangues e comunidades de pescadores estão na faixa que teria passado ao domínio mineiro durante liquidação de instituição financeira
Caravelas (BA) – Minas Gerais tem mar? Não apenas os livros de geografia, como o próprio senso comum afirmam, categoricamente: “Não”. Mas a história pode reservar uma outra resposta a essa pergunta, aparentemente sem nexo. Um pedaço de terra na Bahia, com 142 quilômetros de extensão por 12 quilômetros de largura , pode ser patrimônio mineiro – a abertura do estado para o Atlântico – desde 1910. Trata-se de um trecho que começa na divisa dos municípios de Serra dos Aimorés (MG) e Mucuri (BA) e termina no mar, em um filete de chão que inclui parte da cidade histórica de Caravelas e seus dois distritos: Ponta de Areia e Barra de Caravelas.
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O assunto é polêmico e tem início com a história da Baiminas, a ferrovia que ligou Ponta de Areia (BA) a Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Inaugurada em 1881, a estrada de ferro seria desativada em 1966. Para incentivar a construção da linha pela iniciativa privada, dom Pedro II (1825-1891) concedeu à Companhia de Estrada de Ferro Bahia e Minas seis quilômetros de terras devolutas em cada uma das margens dos trilhos.
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A empresa enfrentou dificuldade financeira no fim daquela década e hipotecou as terras ao Banco de Crédito Real do Brasil. Em 1908, já proclamada a República, a instituição financeira executou a dívida. Dois anos depois, quando foi a vez de o banco entrar em liquidação forçada, o governo de Minas adquiriu as terras em escritura de cessão de crédito e transferência de direito. O pagamento foi por meio de títulos da dívida pública.
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Por algum motivo, contudo, Minas jamais explorou as terras. O assunto permaneceu no esquecimento por quase quatro décadas. Apenas em 1948, o então advogado-geral do estado, Darcy Bessone, alertou o governador Milton Campos (1900-1972) sobre o possível mar de Minas. Dias depois, o então secretário de Finanças, Magalhães Pinto, fez o mesmo.
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“Senhor governador, tenho a honra de submeter à elevada consideração de Vossa Excelência o presente processo relativo ao domínio do estado sobre terras marginais da estrada de ferro Bahia-Minas, no qual se encontra cópia do parecer emitido pelo doutor advogado-geral do estado, pedindo a Vossa Excelência deliberar sobre a orientação que se deva imprimir ao caso”, escreveu Magalhães Pinto na época.
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O chefe do Executivo determinou ao advogado-geral que encaminhasse um expediente ao seu congênere na Bahia. A ordem foi cumprida em 1949: “Tenho a honra de submeter à elevada consideração de Vossa Excelência os inclusos documentos relativos a terras marginais da Bahia-Minas, de propriedade deste estado (Minas). (…) Como vê Vossa Excelência, exclui-se do domínio desse estado (Bahia), ao qual não se contesta, todavia, o poder jurisdicional resultante dos limites que o separam do território mineiro”.
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O assunto veio a público na década de 1970, em matéria da revista O Cruzeiro, assinada pelo então repórter Fernando Brant (1946-2015), que viria a se tornar o principal compositor de músicas interpretadas por Milton Nascimento. Em seu texto, Brant informava que o ofício encaminhado pelo advogado-geral de Minas aguardava resposta do colega baiano havia, então, quase 25 anos. Procurado pelo Estado de Minas, o governo baiano informou que procuraria o documento para emitir uma resposta. Porém, não se manifestou até o fechamento desta edição.
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Mas se os questionamentos sobre a saída mineira para o mar foram em vão, a viagem de Brant para apurar a matéria teve muito mais proveito do que apenas a reportagem publicada em O Cruzeiro. A partir dela, veio a inspiração para que o compositor escrevesse a canção Ponta de Areia, cujos versos iniciais ocupam o alto desta página.
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A música agrada aos ouvidos do pescador Manoel da Silva, de 45 anos. Mas ele é taxativo quanto à sua naturalidade: baiano. “Nasci em Caravelas e moro em Ponta de Areia. Aqui vai ser sempre Bahia. Contudo, sou é Flamengo”, brinca o homem.
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Apesar da convicção do pescador baiano, Brant entendeu de maneira diferente: “É apenas um fiapo no mapa, mas é o quanto basta para Minas. Um fio de linha, uma modesta e tímida maneira de se chegar ao mar. O direito real é aclarado pelos documentos; falta a posse de fato para que o mineiro possa um dia dizer, debaixo das amendoeiras de Grauçá e Aracaré: ‘Olha aí o nosso mar’”.
A reportagem de Fernando Brant em O Cruzeiro: inspiração que foi além do texto
De ponto final a ponto de partida
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Todos os anos, uma legião de turistas chega a Caravelas, no Sul da Bahia, e a seus distritos mais famosos: Ponta de Areia e Barra de Caravelas. Entre esses visitantes está uma multidão de mineiros. Além da charmosa arquitetura de origem portuguesa no Centro Histórico da sede do município, fundado em 1503, os povoados são ponto de partida para quem deseja seguir em embarcações para o arquipélago de Abrolhos, famoso pelas piscinas naturais e pelos avistamentos de baleias jubarte.
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Morador de Belo Horizonte, o baiano Jacy Muniz de Almeida, de 92 anos, conhece Caravelas e seus distritos como poucos. “Trabalhei na Baiminas por 20 anos. Fui o chefe da estação daqui. Vivo em BH desde 1981, mas sempre venho passear aqui. Caravelas, Ponta de Areia e Barra de Caravelas são da Bahia”, atesta o ex-ferroviário, enquanto descansa em um dos bancos da praça em frente à Igreja de Santo Antônio, padroeiro de Caravelas.
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O rio homônimo fica a poucos metros do templo. Boa parte da margem é tomada por um mangue que garante aos moradores de Ponta de Areia, sobretudo, farta alimentação, com frutos do mar como caranguejos. O pescador Manoel da Silva sempre está à procura de alguns. “É no rio e no mar que garanto a alimentação da família. Tenho dois garotos e uma moça”, conta o baiano convicto, que sequer sonha se converter à mineiridade.
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FONTE: Estado de Minas.
“Com a ajuda do Céu, eu venci um império enorme. Mas minha vida era muito curta para alcançar a conquista do mundo. Essa tarefa é deixada para você” – disse Temudjin (1162-1227), ou mais conhecido como Gêngis Khan (o Khan dos Khans). Impiedoso e violento, ele conquistou o maior império que um só homem já dominou durante o século XIII. Em seus 65 anos de vida, o líder nascido na Mongólia construiu o maior império em extensão, da costa do Oceano Pacífico ao Mar Cáspio. Seus descendentes chegaram à Europa e ao Golfo Pérsico.
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“É a carreira militar mais fulminante da história. É como se um chefe de uma tribo indígena brasileira conquistasse hoje a América do Sul”, afirma Mario Bruno Sproviero, professor de Língua, Literatura e Cultura Chinesas da Universidade de São Paulo (USP). A comparação faz todo sentido. Além de dispersos geograficamente, os mongóis não possuíam leis escritas, na verdade não tinham sequer escrita. Não conheciam a agricultura e seus modos eram pouco civilizados, mesmo para os padrões da época.
![National Palace Museum in Taipei - Domínio Público. National Palace Museum in Taipei - Domínio Público.](https://i0.wp.com/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/05/04/643800/20150504153815211820u.jpg)
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Mas nem só o terror construiu o império de Gêngis Khan. Ele foi um líder carismático, com profundo senso de justiça. Atos de bravura conquistavam seu coração e os guerreiros mais valentes, mesmo entre os inimigos, eram recompensados com posições de comando em suas tropas. Foi o primeiro líder a instituir a meritocracia na escolha dos seus generais, alto funcionários e conselheiros. Por outro lado, os traidores eram castigados com a morte. O líder era grato aos amigos e respeitava a religião alheia, incorporando cristãos, budistas e muçulmanos em seus quadros.
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Valorizava o conhecimento a seu modo: entre os prisioneiros, aqueles que tinham profissões ou alguma habilidade eram enviados para Caracorum, fortaleza militar que servia de capital para os mongóis. Preferia a recuar a ter grandes perdas em uma batalha, não dormia em palácios – apenas em tendas e vivia no modo simples mongol, ganhando muita admiração e lealdade do soldado comum.
![Bill Toroli - Mural of seige warfare, Genghis Khan Exhibit, Tech Museum San Jose, 2010 (CC) Bill Toroli - Mural of seige warfare, Genghis Khan Exhibit, Tech Museum San Jose, 2010 (CC)](https://i0.wp.com/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/05/04/643800/20150504153947367660o.jpg)
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O Legado Mongol
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A “Pax Mongolica” – enquanto perdurou – garantiu a expansão do comércio entre o oriente e a Europa, como a “Estrada da Seda” e abertura das antigas rotas da Antiguidade. A restauração das rotas de comércio trouxe para o oriente muitos mercadores europeus e embaixadores ocidentais. Com efeito, a “Pax Mongolica” foi um dos mais importantes mecanismos que movimentou o renascimento comercial da Europa Medieval.
![CC BY-SA 3.0 CC BY-SA 3.0](https://i0.wp.com/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/05/04/643800/20150504154139857213a.gif)
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Na cultura, o maior legado de Gengis Khan foi a propagação do “Yassak”, ou código de leis e de moral dos mongóis por toda a Ásia e parte da Europa. Fazem parte do “Yassak” normas morais, como amar ao próximo, não roubar, não cometer adultério e não mentir; normas educacionais, como honrar o justo e o inocente, respeitar os sábios; éticas, como não trair ninguém, poupar os idosos e os pobres; normas religiosas, que obrigavam todos os mongóis a honrar todas as religiões. Apesar da simplicidade das leis, a punição pela a maior parte dos delitos na época era a morte. E os mongóis desse período tinham uma incrível criatividade para as penas de morte…
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FONTE: Percurso Pré-vestibular e Enem.