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O produtor Argenor Siqueira, de Ravena. “Alguns parentes e vizinhos que são amigos vão ter de ir embora” |
Os 12 mil pés de bananas que dobram o morro da fazenda do produtor rural Argenor Siqueira, de 63 anos, são herança das primeiras formas de produção da região de Casa de Pedra, em Ravena, distrito de Caeté, na Grande BH. Foi o tataravô dele, João Pinduca, um português que chegou ali trazendo mão de obra escrava, quem começou as atividades. Daquela época em diante, a família foi crescendo e dividindo as terras até formar o povoado que leva nome da casa grande que não existe mais. A vida vida simples, típica da roça, vai mudar com a chegada do Rodoanel Metropolitano Norte, que se encontrará com a BR-381 poucos quilômetros depois das terras do senhor Argenor. “A gente já sente um aperto no coração de saber que alguns parentes e vizinhos que são nossos amigos vão ter de ir embora, porque a casa deles está no caminho da rodovia”, conta o fazendeiro. A abertura da via que promete desviar o tráfego do Anel Rodoviário de BH, poupando muitas vítimas de acidentes e trazendo desenvolvimento, divide opiniões de quem mora ao longo do futuro trajeto.
As estacas fincadas na comunidade de Casa de Pedra já vão tirar um sobrinho e um dentista de BH que são vizinhos imediatos do fazendeiro. “As estacas estão lá, bem perto da estradinha de terra, no rumo da casa do meu vizinho, que é dentista”, diz Argenor. Apesar do susto inicial, há a expectativa de uma melhoria nas condições financeiras. “A gente não sabe em qual parte do terreno vai ser aberta a estrada, mas ficamos preocupados com barulho, movimento demais e com crimes”, afirma o produtor. “Mas tem muita gente por aqui pensando em abrir um bar, um restaurante ou uma venda perto do Rodoanel para melhorar um pouco as condições”, acrescenta.
O uso cada vez mais intenso da Lagoa Várzea das Flores como balneário tem mudado as características de “roça pacata” entre Betim e Contagem, onde cresceu o lavrador Geraldo Elias da Costa, de 50. “Vem gente demais para cá. Carros e cavalos ficam estacionados na beira do lago, a gente escuta som alto demais que atravessa até os morros e entra dentro da casa das pessoas que vivem aqui”, conta. Ao saber que parte da mata ciliar que envolve a Várzea das Flores será retirada e que o Rodoanel trará um fluxo estimado em 70 mil veículos, o lavrador se lamenta. “A gente vai desconhecendo o lugar. Vai deixando de ser o que a gente conhecia”, opina. Naquelas terras, onde hoje o trabalhador rural “bate pastos” (capina) e faz pequenas manutenções numa fazenda, Geraldo aprendeu a pescar com os amigos, montava cavalos para ir a vendas e visitar vizinhos. “A gente tem muitas lembranças que vão indo embora, mas que não têm mais volta”, diz.
Transformações Para a auxiliar administrativa Lucinda Maria de Souza, de 48 anos, que vive em Contagem e costuma visitar a irmã no Bairro Colonial, no outro lado da cidade, a construção do Rodoanel pode facilitar seu transporte. “A gente ganha uma forma mais direta de chegar onde precisa, sem ter de passar dentro das ruas dos bairros, principalmente se tiver ônibus”, afirma. Mas, ao olhar adiante, na Avenida das Palmeiras, que segundo o projeto se tornará parte da rodovia, a mulher avistou a sobrinha, Ana Tomás, de 11, empinando uma pipa enquanto corria pelas ruas sem se preocupar com o tráfego quase insignificante. “O que pode acontecer é mudar muito para as crianças. Não vai dar mais para deixar criança pequena solta em beira de rodovia”, prevê.
Para o consultor Paulo Eduardo Borges, doutorando em análise ambiental pela UFMG, o Rodoanel trará benefícios imediatos para a produção econômica, industrial e se tornará uma forma de escoamento produtivo e acesso para cidades como Betim – onde estão instaladas grandes empresas, como Fiat e Petrobras. Mas ele alerta para a necessidade de ações no transporte público.
FONTE: Estado de Minas.
Publicado por Cavaleiro em Notícias em geral Tags:belo horizonte, betim, caeté, capital, contagem, desafogar, desapropriações, grande bh, neves, ravena, rodoanel, Sabará, túneis, trânsito, trecho, vespasiano
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No belo distrito de Vila de Cocais, em Barão de Cocais, o Sítio da Pedra Pintada em inscrições rupestres datadas de até 10 mil anos. Paga-se R$ 8 para entrar |
Duas estrelas do turismo de Minas Gerais, os santuários de Nossa Senhora da Piedade e o do Caraça, demarcam um território. Ambos relativamente próximos da capital, é como se fossem dois totens, um norte, outro sul (ou leste e oeste, não importa), que dão limites a um pedaço de terra. De um a outro, no asfalto ou na terra, não são nem 70 quilômetros, distância curta na aparência. Mas suficiente para acolher um mar de montanhas, que por sua vez abriga grandes atrações ligadas à cultura, história, gastronomia artesanato e natureza. Esse “território” – que tem ainda a mineração como atividade relevante – é formado pelos municípios de Caeté, Barão de cocais, Santa Bárbara e Catas Altas, distritos e zonas rurais.
Também o chamativo casario colonial e belíssimos monumentos, principalmente igrejas (algumas tricentenárias) que nasceram, cresceram e se formaram sob os auspícios de uma era, o Ciclo do Ouro. Metal que – direta ou indiretamente – inundou esses templos de luxo e ostentação sem pedir permissão a Deus, mas que na maioria deles resultou em lugares lindíssimos.
Este circuito turístico, batizado recentemente de Entre serras: da Piedade ao Caraça, bem que poderia ter um codinome, algo como A montanha mágica, não fosse o fato de ser várias. A intenção do Entre Serras é jogar luz sobre este pedaço de terra que, muitas vezes, fica ofuscado pela presença marcante da Piedade e do Caraça. Um baú cheio de riquezas turísticas pronto para ser usado e carimbado com um “made in Minas Gerais.” No pacote, é óbvio, vão os santuários do Caraça e da Piedade, que são de um charme incontestável, independentemente da fé que o visitante professe.
E assim como a rota da Estrada Real, na qual o Entre serras: da Piedade ao Caraça está inserido, trata-se de um conjunto de atrações que não precisa ser descoberto ou visitado de uma vez só. Ou de uma “vezada só”, como dizem muitos mineiros. É para ser degustado lentamente, a exemplo dos vinhos de jabuticada da região, da comida no fogão a lenha ou da rosca da rainha, iguaria que leva goiabada e é um dos muitos itens de um cardápio riquíssimo. Este último, o cardápio, fruto da tradição e de pesquisas que foram fundo na história em busca de suas origens e receitas originais.
Serra do luar
Catas Altas, a 120 quilômetros de Belo Horizonte, recebe neste sábado à noite, dia 28, na Praça Monsenhor Mendes, uma edição especial do projeto Minas ao Luar. A cidade abrigará o espetáculo, mas o evento, gratuito, é fruto da união das quatro cidades do Entre Serras e terá barraquinhas com comidas típicas e artesanato de cada município. Às 20h, antes de a banda Flor de Abacate subir ao palco para interpretar composições próprias e de autores como Pixinguinha e Tom Jobim, os cocaienses do projeto Jovens Luthier – orquestra de viola caipira – vão abrir a programação.
Na pele do lobo
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O neogótico Santuário do Caraça coloca suas instalações à disposição dos hóspedes |
O Caraça, que surgiu na segunda metade 18, também atende pelo nome de Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça, uma das maiores de Minas Gerais, ou Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens. A palavra caraça tem algumas explicações, mas a mais consistente dá conta que o nome vem de formação rochosa da Cordilheira do Espinhaço, bem próxima ao santuário, que tem a forma de um rosto grande. Certamente um rosto simpático, já que atrai cerca de 60 mil turistas por ano (cinco mil por mês).
Do total de visitantes, quase 18 mil se hospedam numa das duas pousadas do local. A hospedagem não é necessariamente barata (ver Serviço, na página 7) e os quartos, mesmo com uma limpeza exemplar, são espartanos e dotados de pouca mobília – o que, aliás, se espera de um lugar com vocação espiritual. Mas é bom realçar que a hospedagem é com pensão completa (café da manhã, almoço e jantar), o que, além de diluir a grana paga com a diária, é muito vantajoso, visto que a cidade mais próxima, Santa Bárbara, fica a 30 quilômetros.
Centenário O grande número de visitantes é atraído por passeios em trilhas, cachoeiras, tanques, piscinas naturais e antigas construções, além de picos e grutas que só podem ser visitados com guias. Uma delas é a Gruta do Centenário, uma das maiores de Minas Gerais. A construção peculiar do Caraça – que tem, por exemplo, a primeira igreja neogótica do Estado – mais o clima tranquilo do restante de suas instalações (biblioteca, museu, etc.), pesam na decisão de viagem.
Desde o começo do século passado, o Caraça foi um seminário e formou vários personagens da história recente do Brasil. A atividade foi encerrada em 1968, depois que um incêndio destruiu parte de suas instalações.
Todas as noites, os hóspedes se preparam para esperar os famosos lobos-guarás (Chrysocyon brachyurus) que surgem em busca de alimento certo: uma bacia, daquelas grandes, cheia de carne, oferecida pelos padres. Na verdade, é sempre uma mesma família de lobos (macho, fêmea e um ou dois filhotes) que aparece, atraída pelo cheiro dos nacos. O hábito foi iniciado há muitos anos. Sabe-se que formam uma família porque os guarás são territorialistas, ou seja, num grande espaço, há apenas uma delas.
Como não seguem regras britânicas, os lobos não têm horário para dar as caras e focinhos. É sempre à noite, porém pode ser a qualquer hora. Resta ao hóspede torcer para que não seja de madrugada. Os lobos, talvez conscientes de que são protagonistas, mostram certa precaução, mas não se importam muito com a plateia que os observa jantar. Resta lembrar que há noites em que eles nem aparecem. Mas a pipoca distribuída pelos padres é certa.
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São 300 anos de história. O lugar atrai milhares de turistas e peregrinos todos os anos |
Mesmo que esteja a cerca de 50 quilômetros de Belo Horizonte, a Serra a Piedade, no município de Caeté pode ser vista, em dias de céu limpo, de vários pontos da capital. Lá, a 1.746 metros de altitude, está o Santuário Nossa Senhora da Piedade, santa que é a padroeira de Minas Gerais. A história do lugar começou com a chegada, no começo do século 18, de dois fidalgos portugueses: Antônio da Silva Bracarena e Irmão Lourenço (este, fundador do Caraça), que mandaram construir uma pequena capela em homenagem à santa, que mais tarde seria ampliada para receber número cada vez maior de fiéis. Na ermida do santuário está a imagem de Nossa Senhora da Piedade, esculpida em madeira de cedro e atribuída ao mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Aberto todos os dias da semana, das 7h às 18h, o santuário oferece também hospedagem, no espaço Casa dos Peregrinos Dom Silvério (diária com pensão completa a R$ 130 por pessoa). Boa opção para quem quer aproveitar mais a estada e conhecer as várias atrações do lugar, que não são poucas. Além da capela, o visitante pode conhecer a Igreja Nova das Romarias, o espaço do calvário, percorrer a Via-Sacra (percursos longo e curto), a Cripta São José da Boa Morte e o Mirante Santo Onofre. As fontes de água que brotam na serra e a diversificada fauna e flora também encantam.
De olho nas estrelas
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