Para onde vão os mortos? Os espíritos podem voltar e perambular pela Terra? Há seres sobrenaturais dos quais devemos nos proteger? Não é de hoje que o homem lida com essas perguntas. Quando o assunto é o desenvolvimento de civilizações, não há como separar o nascimento das sociedades complexas das histórias de deuses, espíritos e entidades que ainda enfeitiçam a imaginação popular.
Nos fragmentos da tábua de bronze, estão descritos cinco períodos de 12 meses. Ali, vê-se que o primeiro mês do ano celta era o Samon, ou Samonios, uma palavra que os estudiosos acreditam estar ligada ao verão. “Na segunda metade desse mês, há a inscrição Trinux Samon, algo como três noites de Samon, que provavelmente marcava um festival de três dias. Não sabemos a qual mês seria equivalente no nosso calendário, mas acreditamos que deva ser entre julho e novembro”, diz Bondioli.
Irlanda Por volta do século 8, na Irlanda, a história do Halloween ganha outro capítulo, escrito por monges católicos que passaram a reunir histórias da cultura oral europeia. Entre elas, estava uma festividade comemorada no início de novembro, a Samhain. Há uma relação entre Samon e Samhain? “Talvez”, diz Bondioli. “Mas temos que entender que não é uma relação direta. Há uma distância espacial e temporal. Além disso, o Samhain começa a ser escrito por volta do século 8, mas os manuscritos que nós temos acesso são do século 12. Então, veja que complicação”, observa o historiador.
Nos manuscritos, pesquisadores encontraram conjuntos de textos, chamados ciclos, que retratam histórias relacionadas entre si. A citação ao 1º de Samhain é recorrente, mostrando que a data era vista como um momento propício para acontecimentos sobrenaturais. Naquele dia, o deus Dagda encontrava e mantinha relações sexuais com a deusa Morrigan, ligada à morte e à guerra. Era também quando os sídhes (montanhas e colinas com reinos paralelos e criaturas mágicas) se tornam mais acessíveis.
“Havia uma ligação forte com energias espirituais, mas não de reverência aos mortos. O Samhain também mantinha uma ligação com a luz e a escuridão, mas a ideia principal era de limiaridade, o entre momentos, o que não é aqui nem ali. A noite anterior ao Samhain, que seria o 31 de outubro, não era o ano velho nem o ano novo. Não está ligado à luz, mas também não há escuridão”, explica Bondioli, completando que os celtas acreditavam que, nesse momento, as barreiras com o mundo espiritual se enfraqueciam. “Portanto, era possível transitar entre os mundos, o nosso e o sídhe.”
RITUAIS Segundo o artigo Halloween: an evolving american consumption ritual, do pesquisador Russell Belk, professor de marketing da Schulich School of Business, no Canadá, a celebração do Samhain consistia em uma sequência de rituais, inclusive sacrifícios humanos, conduzidos por druidas, sacerdotes da Idade do Ferro na Bretanha e na França. No estudo, publicado na revista especializada Advances in Consumer Research, Belk conta que para os antigos europeus, naquela noite, os espíritos dos mortos voltavam às casas em que haviam vivido. Além deles, bruxas e duendes mal-intencionados vagavam pela Terra.
Ele cita que alguns dos pontos marcantes do Halloween moderno, como a tradição de se fantasiar, aparecem nesse momento: aldeões vestiam peles de bichos abatidos para invocar espíritos de animais sagrados. Por ser uma festividade relacionada à colheita, havia forte influência da comida. Banquetes eram preparados para os fantasmas dos ancestrais, que, após a festa, eram conduzidos para fora do vilarejo pelos moradores fantasiados. É possível, também, que mendigos passassem nas casas pedindo restos da produção.
Em 1950, vestígios encontrados pelo antropólogo Ralph Linton indicaram que um dos costumes para a festividade incluía uma procissão de mascarados que percorria as cidadelas pedindo contribuições para uma entidade druídica chamada Muck Olla.
CATOLICISMO Para chegar aos dias de hoje, essas tradições contariam um pouco mais tarde com a ajuda da Igreja Católica. A Santa Sé, que se tornara dominante em todo o continente, percebeu que era mais eficaz adaptar e assumir feriados pagãos do que se opor a eles. Assim, no ano de 835, o papa Gregório IV designou o 1º de novembro, data de comemoração do Samhain, como o All Hallows, ou Dia de Todos os Santos. Como a festa de origem celta, a data católica reverenciava os mortos, mas apenas aqueles considerados santos e mártires.
A Igreja também se apropriou da tradição de se fantasiar ao encorajar os fiéis a se vestirem como seus santos preferidos. Apesar do esforço, a tentativa de anular o Samhain não foi bem-sucedido, o que resultou na criação, em 1006, pelo papa João XIX, do Dia de Finados, comemorado em 2 de novembro. A data começava a ser comemorada na noite de 31 de outubro, chamada de Hallows Eve (Noite dos Santos), que se tornaria depois Halloween.
A festa demoraria alguns séculos para cair no gosto norte-americano. Isso ocorreu em 1840, com a chegada dos imigrantes irlandeses aos Estados Unidos. Com o tempo, algumas tradições desapareceram completamente e outras, como a tradição de crianças modificarem abóboras, permaneceram até hoje.
Uma das questões mais interessantes é como uma festividade tão antiga conseguiu se manter forte e tradicional ao longo de milênios. “Ela se mantém assim porque a sociedade, a tradição e a comemoração estão sendo constantemente reformuladas. O Halloween, na forma comercial que vemos hoje, é fruto do capitalismo do século 20. Qual criança ou adulto associaria suas balas e pirulitos com uma celebração de passagem de ano?”, indaga Bondioli. “Talvez, essa seja a verdadeira força do Halloween: sua capacidade de ser reinventado e ser adaptado tão bem à sociedade que o comemora”, acredita o historiador. Como será a festa daqui dois séculos? Essa é uma pergunta ainda sem resposta. “Considerada a perspectiva histórica, ele tem tudo para ser muito diferente do que vemos atualmente.”
Claro e escuro
Gravado em bronze, o Calendário de Coligny é a única peça que retrata o calendário celta antigo. Ele era lunissolar, isto é, com os meses contados de acordo com as fases da Lua, que possui um ciclo de 28 dias. Entretanto, também se adequava, à sua maneira, com o movimento do Sol. “A importância dessa característica é que, considerando as fases da Lua, os meses eram separados em duas metades: uma metade clara (lua crescente a cheia) e outra escura (lua minguante e nova). Da mesma forma, o ano era dividido em uma parte clara (meses de verão) e uma escura ( meses de inverno)”, detalha o historiador Nelson Bondioli.
Palavra de especialista
Lídice Meyer,
antropóloga da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Importação cultural
Essa é uma festividade que veio importada para o Brasil e que não tem relação com nossa cultura. É uma espécie de intromissão cultural. Existem alguns movimentos tradicionais brasileiros que tentam substituir a festividade que, hoje, tem uma face mais mercadológica que folclórica. Os movimentos brasileiros não tentam substituir, ma sim abrasileirar a festa. Só que isso não tem fundamento. E existe uma resistência grande dos evangélicos à essa comemoração. Nos Estados Unidos, isso não é evidente porque a celebração é tão folclórica que a relação com o maligno se apaga. As crianças brincam com diversões proporcionadas até mesmo pelas igrejas.
FONTE: Estado de Minas.
Pão de queijo: iguaria criada no século 18 tem data comemorativa
![Photo: Divulgação, License: Divulgação Pão de queijo - Forno de Minas](https://i0.wp.com/www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.261893.1408281980!/image/image.jpg_gen/derivatives/landscape_714/image.jpg)
Falar de Minas sem falar de pão de queijo é tarefa quase impossível. Tradicional na mesa dos mineiros, acompanhado de café quentinho e água na boca, o item ganhou até um dia para chamar de seu: 17 de agosto.
A tradição começou no século 18, pelo fato de Minas Gerais não ser um grande produtor de trigo. A receita a base de polvilho doce, leite e ovos se popularizou e virou o pão dos mineiros. “Tornou-se cultural, como se fosse o arroz com feijão. A presença do pão de queijo era obrigatória, fazia parte do menu”, afirma o chef de cozinha e professor do curso de Gastronomia do Centro Universitário Una, Edson Puati.
O chef e dono do restaurante Xapuri, Flávio Trombino, aprendeu a receita com a mãe, dona Nelsa. “Minha mãe é paulista e aprendeu a receita quando veio morar em Minas, ao pés da Serra da Canastra, em Lagoa da Prata”, conta. “O pão de queijo está para a cozinha mineira assim como o acarajé está para a baiana”, compara.
Ao longo dos anos, novas formas de comer pão de queijo apareceram. Para o professor Edson Puati, uma das grandes vantagens é a diversidade. “Pão de queijo com mandioca, com beterraba, batata doce… As possibilidades são infinitas a partir da base do polvilho”.
Até os alemães deleitaram-se com a especialidade do Estado durante a Feira do Livro de Frankfurt, no ano passado. O sabor mineiro foi levado pelo chef Ari Kespers, que dá sua receita, logo abaixo, assim como o chef Eduardo Avelar. “É como comer uma cultura”, afirma Avelar, colunista do Hoje em Dia.
Faturamento de dar água na boca
Na data em que se celebra o Dia do Pão de Queijo, Forno de Minas e Pif Paf, duas tradicionais marcas alimentícias mineiras, comemoram um faturamento de dar água na boca. Entre 2012 e 2013, as empresas registraram altas de 38,3% e 25%, respectivamente, exclusivamente no que diz respeito à venda da iguaria que é símbolo de Minas Gerais. Para este ano, apesar de a economia patinar, a previsão é de continuar crescendo, com elevações de 35% e 25%, na mesma base de comparação.
Para atingir o crescimento, a Forno de Minas investiu R$ 40 milhões em ações de atração do cliente e maquinário para a fábrica. O aporte foi realizado entre o início de 2013 e junho de 2014.
A empresa fabrica 1,8 tonelada de pães de queijo congelados por mês e comercializa o produto em todo o país. Oito por cento da produção é exportada para Chile, Uruguai, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. “Agora, estamos prospectando a Colômbia”, afirma o diretor Comercial da companhia, Vicente Camiloti.
Ele explica que a companhia possui 26 tipos diferentes do produto, destinados a mercados diversos, como escolas, lanchonetes, residencial, entre outros. “O pão de queijo é um item democrático. Você entra em uma lanchonete muito humilde e lá está ele. Entra em um estabelecimento mais requintado e também o encontra”, diz. O produto responde por mais de 80% do faturamento da empresa.
Pif Paf
Para atrair uma gama maior do público, a Pif Paf lançou, no ano passado, o pão de queijo sem lactose. “Muitas pessoas que têm intolerância à substância, ou que fazem dietas de restrição, agora podem consumir. Com isso, cativamos um público grande”, afirma o diretor comercial da empresa, Edvaldo Campos.
Hoje, o pão de queijo representa cerca de um terço do consumo das massas comercializadas pela marca. Entre elas, lasanha, pizza, escondidinho e penne ao molho. Além de atender ao mercado local, a Pif Paf exporta para Ásia, Europa e América do Norte.
Além do presunto com muçarela
O sucesso do “pão mineiro” é tanto que a franquia Pão de Queijaria, inaugurada há pouco mais de um ano em Belo Horizonte, resolveu apostar no prato como carro-chefe do negócio e incrementar a mistura de polvilho e queijo com 14 opções de recheio.
“O público gostou muito da ideia, achou diferente, porque estava acostumado a rechear apenas com presunto e muçarela. Pão de queijo igual ao daqui as pessoas nunca viram”, afirma o proprietário Rogério Araújo.
FONTE: Hoje Em Dia.
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“Little Chalet” terá capacidade para receber 150 clientes e decoração ao estilo das montanhas, como a unidade em São Paulo (foto) |
Uma das mais tradicionais casas noturnas de Belo Horizonte ganhará em breve uma unidade em terras norte-americanas. Presente há 35 anos na capital e 14 em São Paulo, o Clube Chalezinho expandirá seus negócios para o exterior com um empreendimento em Miami, Flórida. Em um investimento de US$ 2 milhões, a primeira loja do grupo fora do Brasil tem inauguração prevista para outubro deste ano. A nova unidade marca o início de uma expansão do grupo nos Estados Unidos, projeto que prevê outras lojas da rede em 2016.
Batizada de “Little Chalet”, a casa será localizada no condado de Palm Beach, a 50 minutos de Miami. A casa foi projetada pelo arquiteto Alfredo Leon e segue o mesmo conceito das lojas no Brasil, estilo suíço, piano bar, fondues e pratos da culinária europeia, mas com adaptações ao paladar local.
“Encantar o cliente é o maior objetivo do Chalezinho que busca a perfeição para oferecer o melhor aos novos e exigentes clientes americanos. Nosso objetivo é em médio prazo ter alguns novos Chalezinhos pelos Estados Unidos”, afirma Ricky Marcellini, um dos sócios do empreendimento.
Quinze dias depois de adquirir uma casa de 1920 em ruínas, na Rua Capitão Procópio, 18, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte, o engenheiro José Liberato, de 53 anos, recebeu, em 2004, um documento da prefeitura autorizando o antigo dono a demolir o imóvel e vender o terreno para uma construtora. “Salvei a casa”, comemora até hoje o morador. Ele conta que fez uma pesquisa histórica para reformar o imóvel e preservar o estilo eclético. Depois, elaborou um memorial para pedir o tombamento da propriedade ao Conselho Municipal do Patrimônio. Conseguiu. A exemplo do engenheiro, outros moradores do bairro, considerado um dos mais tradicionais da capital mineira pela sua importância histórica, cultural e arquitetônica, unem forças na luta contra a verticalização e pela manutenção de seu ar de interior.
O tombamento não é consenso entre os donos de imóveis afetados, mas, na quarta-feira, o grupo que o defende teve uma boa notícia. Durante reunião organizada pelo Movimento Salve Santa Tereza, o representante da Diretoria de Patrimônio Histórico da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Carlos Henrique Bicalho, anunciou que cerca de 120 bens de interesse histórico, cultural e arquitetônico do bairro, mapeados em 1998, serão tombados.
Desde 19 de novembro, o Movimento Salve Santa Tereza, criado para defender a Área de Diretrizes Especiais (ADE) do bairro e mobilizar sua população para atuar institucionalmente para esse fim, vem batalhando pela preservação dos imóveis antigos. Um abaixo-assinado pedindo a proteção do conjunto urbano e arquitetônico foi entregue à Fundação Municipal de Cultura, que abriu processo de tombamento. Reunião na quarta-feira no antigo Bar Odeon, na Praça Duque de Caxias, buscou esclarecer como será a iniciativa.
Segundo a arquiteta Karina Carneiro, integrante do movimento pela preservação do bairro, o Mercado Distrital de Santa Tereza, onde há projeto para a construção de uma escola profissionalizante, ainda não faz parte da lista de bens em processo de tombamento. “O mercado ainda não tinha aparecido como equipamento de referencial simbólico para o bairro. Ele não figurava nas pesquisas que eram feitas com os moradores, mas durante a reunião, constatamos a necessidade de incluí-lo na mancha de proteção”, afirmou Carlos Henrique Bicalho, representante da Fundação Municipal de Cultura. Segundo ele, “é importante que os instrumentos da ADE, que já atende o bairro em termos de proteção, e do tombamento atuem juntos para fechar o ciclo da preservação de Santa Tereza”.
O processo de tombamento dos imóveis do bairro deve ser concluído em três meses, pois o inventário ainda está sendo feito. Depois, o trabalho será apreciado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município.
Quem é contra
A professora Silvana Magalhães preserva a construção, mas defende liberdade de proprietários
Moradores de casas antigas do Bairro Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, não têm opinião unânime quando o assunto é tombar seus imóveis como patrimônio histórico. Em reunião quarta-feira com a Diretoria de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura, eles foram esclarecidos sobre os benefícios da operação. Mesmo assim, proprietários como a professora Silvana Magalhães, de 54, que vive em uma casa do início do século passado na Rua Eurita, não se convenceram. Ela é contra o tombamento da construção – que foi restaurada e chama a atenção pela beleza –, por considerar que o dono perde liberdade de dispor sobre a propriedade. “A casa foi dos pais do meu marido e a gente já cuida muito bem dela. Mas, com o tombamento, perdemos autonomia sobre uma coisa que é nossa. Nada que é obrigatório é bom”, disse
‘O pessoal canta errado a letra’, diz neta da autora do ‘Parabéns a Você’
Eliana defende detalhes da letra original da música criada pela avó.
Concurso que escolheu versão brasileira em 1942 reuniu cinco mil letras.
![Neta autora Parabéns a Você Jacareí Homem de Mello (Foto: Márcio Rodrigues/G1) Neta autora Parabéns a Você Jacareí Homem de Mello (Foto: Márcio Rodrigues/G1)](https://i0.wp.com/s2.glbimg.com/mGmpNw0-owx9dp4BW0uBMnMoq-4=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/03/06/parabens_abre.jpg)
Não peça para a comerciante Eliana Homem de Mello Prado, de 54 anos, puxar o coro do “Parabéns a você” em algum aniversário. Moradora de Jacareí (SP), a neta de Bertha Homem de Mello – autora da versão brasileira da canção – não canta a música, criada há 70 anos, em respeito à avó falecida em 16 de agosto 1999 “porque todo mundo canta a letra errado”.
Nesta data querida
Muita felicidade
Muitos anos de vida”
Segundo ela, dois dos versos da canção original são alterados nas festas de aniversário pelo país. Em vez de “Parabéns pra você” deveria ser cantado “Parabéns a você”; e o verso “Muita Felicidade” é constantemente alterado para o plural “Muitas felicidades”.
“Minha avó ficava louca da vida quando ouvia o cantar da letra errado, porque ela sempre foi muito vaidosa. Então, eu não me permito cantar do jeito errado. No trecho da música ‘é pique’ eu começo a cantar, mas antes eu não canto”, brinca.
Arrecadação de direito autoral
A música continua sendo uma das mais executadas em todo o país, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão responsável pelo recolhimento de direitos autorais. Por ser uma canção que tem autoria, o “Parabéns a Você” recolhe dinheiro dos direitos autorais sempre que é executada publicamente ou usada em filmes, novelas e programas de rádio e TV, assim como quando é gravada.
Segundo dados do Ecad, o “Parabéns a Você” está há quatro anos consecutivos entre as duas primeiras músicas mais executadas nos segmentos Música Ao Vivo e Salão de Festas. O órgão, porém, não divulga o número de execuções e nem os valores arrecadados anualmente. O repasse à família, que preferiu manter o valor em sigilo, é feito mensalmente.
Atualmente, a família recebe 16,66% de tudo que é arrecadado pelo Ecad pelas execuções da canção no Brasil. Os 83,4% restantes são divididos igualmente entre a editora Warner Chappell – detentora da música original – e os herdeiros das autoras americanas.
![Autora Parabéns a Você ao lado da filha Jacareí (Foto: Arquivo Pessoal) Autora Parabéns a Você ao lado da filha Jacareí (Foto: Arquivo Pessoal)](https://i0.wp.com/s2.glbimg.com/DvXZ4PeQGWNh2kV_N67n93zExxo=/300x225/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/03/06/parabens_materia_1.jpg)
da minha avó’, conta neta.
Em razão do sucesso da letra, Lorice Homem de Mello, a filha de Bertha Homem de Mello, mãe de Eliana, que tem deficiência auditiva e visual, conta com a ajuda de três cuidadores. “Minha mãe era o xodó da minha avó e graças a Deus esse legado que ela deixou, também no aspecto financeiro, tem sido revertido totalmente para cuidar da minha mãe”, assegurou. A mãe de Eliana vive até hoje na casa onde a autora morou por mais de quatro décadas em Jacareí.
Para Eliana, a composição é um legado que Bertha deixou para a família. “É algo importantíssimo. É impossível ir a algum aniversário e não lembrar da minha avó. É marcante. É o orgulho de toda família e especialmente da minha mãe. Quando meus filhos contam que a bisavó foi quem escreveu a letra, a maioria das pessoas não acredita”, afirma.
Coautor?
Em uma reportagem da TV Globo de 23 de março de 1997 é possível ver realmente que Bertha Homem de Mello gostava que a letra fosse cantada de forma correta.
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Mas durante mais de três décadas a autora da versão nacional ficou sem receber metade dos direitos autorais. Isso porque em 1978 o produtor musical Jorge Gambier firmou um contrato com Bertha Celeste por acrescentar mais quatro frases na canção.
A quadra criada por Gambier, que continuava o tradicional “Parabéns”, seguia a mesma melodia e tinha os seguintes versos: “A você muito amor / E saúde também / Muita sorte e amigos / Parabéns, parabéns”. Segundo a família, Jorge disse à época que produziu um disco infantil na década de 1970 e queria gravar a canção, mas como a letra era curta ele pediu autorização à editora para completá-la e foi informado que deveria firmar um acordo com a então autora da música.
A situação só foi resolvida no final de 2009, quando um advogado contratado pela família de Bertha conseguiu que a editora Warner retirasse Gambier como coautor. Na época houve um “ajuste de crédito” dado à família pelo tempo que os direitos ficaram divididos. Desde então, a herdeira de Bertha recebe a parte que lhe cabe, que é de (os 16,66%).
Como ‘nasceu’ o Parabéns
A música mais cantada em todo o mundo foi criada nos Estados Unidos em 1875 pelas irmãs Mildred e Patrícia Hill, professoras primárias da cidade de Louisville, no estado de Kentucky. Elas compuseram uma pequena quadra chamada “Morning to al” (Bom dia para todos) para cantar com os alunos pela manhã, antes do início das aulas.
![Disco Feliz Aniversário, que lançou o Parabéns a Você no Brasil. Autora é de Pindamonhangaba (Foto: Márcio Rodrigues/G1) Disco Feliz Aniversário, que lançou o Parabéns a Você no Brasil. Autora é de Pindamonhangaba (Foto: Márcio Rodrigues/G1)](https://i0.wp.com/s2.glbimg.com/u0JW9QOf3uxn6-dBnVmEIW5rlXI=/300x225/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/03/19/parabens_disco.jpg)
Brasil.
Após cinco décadas, em 1924, uma editora de música norte-americana lançou o livro de partituras “Celebration Songs” e “pegou emprestada” a melodia das irmãs para criar uma música que seria cantada em festas de aniversários. Assim, nasceu o “Happy Birthday To You” (Feliz Aniversário para Você).
A letra original era composta de um verso apenas, em que havia a repetição por quatro vezes do “happy birthday to you”, sendo acrescentando o nome do aniversariante na terceira repetição no lugar do “to you”. A popularização mundial da música ocorreu em 1933, quando uma peça teatral da Broadway utilizou a canção.
Concurso no Brasil
Em 1942, o cantor Almirante, pseudônimo de Henrique Fóreis Domingues, que apresentava um programa na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, resolveu promover um concurso para escolher uma letra em português da canção.
A música da compositora, que era farmacêutica e poetisa em Pindamonhangaba, também no Vale do Paraíba, foi escolhida entre cerca de cinco mil letras por uma comissão julgadora formada pelos membros da Academia Brasileira de Letras. Dentre os avaliadores estava Cassiano Ricardo, poeta de São José dos Campos.
“Ela contava que soube do concurso e estava pensando em escrever a letra, aí um dia o rapaz que trabalhava perto do sítio disse que iria para a cidade e se ela queria alguma coisa. Daí ela escreveu o ‘Parabéns’ em cinco minutos e deu para ele colocar no Correio”, relembra a neta. Bertha também tem poesias publicadas e já teve uma canção gravada pelo músico Rolando Boldrin. Ela morreu aos 97 anos e está sepultada em sua cidade natal.
FONTE: G1.
Reduto da boemia de Belo Horizonte será tombado
Processo de tombamento se iniciou e já está sendo feita a atualização do inventário dos imóveis do bairro Santa Tereza, na região leste da capital. Proprietários podem contar com isenção de IPTU
![Tomb 1](https://universobh.wordpress.com/wp-content/uploads/2014/03/tomb-1.jpg?w=540&h=360)
O tradicional bairro de Santa Tereza em Belo Horizonte possui vários símbolos. A música, marcada pelo surgimento do Clube da Esquina, no final da década de 1960; a boemia, representada pelos diversos bares e restaurantes; o ar interiorano; e, agora, o carnaval, impulsionado pelos blocos de rua, que ressurgiram em BH, tendo o bairro como um dos berços. Entretanto, na medida em que a capital mineira cresce, aumentam também as especulações imobiliárias e o temor de que tais traços – que marcam há anos o bairro – sejam engolidos pelo avanço da metrópole. Esse é um dos motivos pelo qual o processo de tombamento do bairro foi retomado e a previsão é que ele se concretize ainda este ano.
Apesar de a palavra “tombamento” remeter, em tese, a algo benéfico e saudável, os moradores do bairro querem mais explicações sobre o processo. “Temos percebido que há muitas dúvidas sobre como será feito, quais imóveis serão tombados e o que isso implicaria aos proprietários”, diz Karine Carneiro, integrante do Movimento Salve Santa Tereza. Na última quarta-feira, dia 12, durante assembleia dos moradores, ficou decidido a realização de um novo encontro – ainda sem data definida – com arquitetos e urbanistas, além de representante da prefeitura de BH (PBH) para esclarecer o assunto.
Quem está tocando o processo de tombamento é a Fundação Municipal de Cultura (FMC), por meio da diretoria de patrimônio. “A proteção por tombamento é uma medida complementar à proteção já estabelecida pela Área de Diretrizes Especiais do Santa Tereza, atuando especificamente como um instrumento para a preservação da memória da ocupação do bairro por meio da proteção das edificações”, afirma Leônidas José de Oliveira, presidente da FMC.
Ele explica que, atualmente, a Diretoria de Patrimônio Cultural da PBH está atualizando o inventário das edificações de interesse cultural. A previsão é que a lista seja apreciada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, em uma reunião aberta ao público. “A expectativa é que até abril o estudo seja finalizado e encaminhado para análise do conselho”, completa Leônidas.
Clima de interior
Para entender os motivos que levaram o bairro a conservar certa “aura” de cidade do interior, mesmo sendo vizinha da região central, é preciso voltar ao passado. Até a primeira metade do século XX, Santa Tereza, apesar de estar bem próximo à avenida do Contorno, era considerada distante do centro da cidade. “Na década de 1950, o bairro já presenciava a construção dos primeiros edifícios residenciais de pequeno porte. Mas, ainda assim, até meados dos anos 1970, o bairro carecia de infraestrutura básica, além de sofrer com as constantes inundações causadas pelas chuvas nas regiões lindeiras ao vale do Ribeirão Arrudas”, explica Leônidas Oliveira, presidente da FMC.
Portanto, durante um bom tempo, o bairro não se mostrava como uma região atraente aos empreendimentos de maior porte. O trânsito, principal problema das grandes cidades, não representava um entrave, já que o bairro não era – e ainda não é – um local de passagem. Consequência disso? Baixa densidade populacional, menos prédios e a conservação de imóveis do início do século XX.
Só a partir da década de 1980 que o bairro se tornou “interessante” para os empreendimentos imobiliários. “As mudanças no padrão de ocupação permaneceram ao longo dos anos 1990, quando o bairro se tornou, pela primeira vez, objeto de grandes obras, como a construção, em 1992, do viaduto que passa sobre a avenida dos Andradas, ligando Santa Tereza a Santa Efigênia e a construção da estação de metrô, inaugurada no ano seguinte”, lembra Leônidas.
Ainda na década de 1990, época da elaboração do Plano Diretor da Cidade, os moradores do bairro se mobilizaram, preocupados com uma possível descaracterização da região. Nessa época surgiu o Movimento Salve Santa Tereza. Outras entidades apoiaram o movimento, que culminou com a aprovação do artigo 83 da Lei 7166/96, que transformou o bairro em uma Área de Diretrizes Especiais (ADE). Tal iniciativa preservou os traços marcantes do Santa Tereza, sobretudo dos novos prédios, que não mais poderiam ultrapassar nove metros de altura.
Principais características do tombamento
- O tombamento não interfere em nada em relação à propriedade do imóvel tombado, que pode ser vendido, alugado ou modificado, desde que sejam mantidas as características físicas que motivaram a proteção e os parâmetros estabelecidos pela legislação urbanística
- Os proprietários de imóveis tombados contam com mecanismos de incentivo à preservação da edificação, como a isenção de IPTU para os bens em bom estado de conservação
- Os proprietários podem solicitar recursos para restauração da propriedade, em caso de necessidade, apoiados nas leis de incentivo à cultura. É preciso cadastrar no Programa Adote um Bem Cultural
- Por meio da Transferência do Direito de Construir, o proprietário do imóvel tombado pode vender o potencial construtivo não utilizado no local. Por exemplo, se num terreno em que se poderia ocupar 300 m² existe uma casa tombada com 100 m² de área líquida, seria possível transferir os 200 m² não utilizados, observados os critérios específicos previstos pela legislação urbanística
FONTE: Estado de Minas.
Festa da cerveja anima milhares de pessoas no Bairro Santa Tereza
Com tanta gente e veículos, houve congestionamento no trânsito da Mármore e outras vias públicas próximas a Praça Duque de Caxias
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Festa contou com muito chope, cerveja, salsichão, joelho de porco, doces e outras delícias da culinária germânica |
Willkommen, Belo Horizonte! As boas-vindas em alemão com sotaque mineiro foram dadas no domingo ensolarado a milhares de pessoas na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste, que participaram da Oktoberfest, tradicional festividade com muito chope, cerveja, salsichão, joelho de porco, doces e outras delícias da culinária germânica. Sob o sol quente, a comemoração muito comum na Europa e também no Sul do Brasil, principalmente em Blumenau (SC), juntou gente de todas as idades– de bebês a adultos de óculos escuros para proteger da claridade e, lógico, de alguns graus etílicos acima do normal. Com tanta gente e veículos, houve congestionamento no trânsito da Mármore e outras vias públicas próximas à praça.
Vestindo camisas e chapéus que trouxeram de lembrança de Santa Catarina, o casal Carlos Renato Tavares dos Reis, bancário, e Cristiana Lázara Pereira dos Reis, consultora, residente no vizinho Bairro Sagrada Família, preferiu ir de táxi para aproveitar cada momento, sem problemas. “Moramos em Santa Tereza durante três anos e gostamos muito deste lugar”, contou Carlos Renato com um copo na mão que trazia a logomarca da festa. “Guardadas as devidas proporções, esta Oktoberfest não fica nada a dever à realizada em Blumenau. Está muito animada”, acrescentou o bancário que já trabalhou em Joinvile (SC).
Logo na entrada da praça, os visitantes, que se divertiram das 12h às 20h, encontravam um arco colorido e bem sugestivo com a frase: “Bem-vindos à Oktoberfest BH – uma reverência à cultura alemã”. Devido ao forte calor, as mulheres abriram as sombrinhas e tiraram o leque da bolsa. As mais jovens, sentaram em grupo nas partes gramadas da praça, de latinha de cerveja em punho e shortinhos desfiados. Já os garotões, tatuados ou não, exibiram o peitoral e caíram de boca nos quitutes. Muitos até fizeram fila para se inscrever e participar do campeonato de chope a metro. Para a garotada, tinha cenário para tirar fotos e martelo de força.
Casa Rolla e Hamilton do Funcionários podem ser fechadas e marcar fim de grupo que já vestiu muitos belo-horizontinos
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Fachada das duas unidades que restaram na Av.Getúlio Vargas: no passado, grupo chegou a abrir 30 pontos na capital mineira |
Por trás da placa que anuncia o aluguel do imóvel 471 da Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, há um grande mistério: qual será o futuro da Casa Rolla, inaugurada em 1930 e especializada em tecidos, e da Hamilton, criada na década de 1950 e referência em moda masculina? As duas lojas, fundadas pela família Rolla, viveram anos dourados no comércio da capital. Juntas, ocuparam 30 endereços e empregaram mais de 1 mil pessoas. Atualmente, os dois estabelecimentos têm apenas uma unidade cada. Elas dividem espaço: justamente o imóvel 471 da Getúlio Vargas, que pode ser alugado a qualquer momento.
Trata-se de um edifício de seis andares e 2.780 metros quadrados. “Foi construído para ser a sede do grupo, abrigando as lojas (Rolla e Hamilton), a diretoria, a contabilidade etc.”, recorda Gerson Gontijo, diretor do Sindicato dos Empregados no Comércio da Grande BH. Ele trabalhou como decorador das duas lojas por 46 anos e, agora, também se pergunta o que será das empresas. Isso porque a família vendeu o imóvel a um grupo de investidores. Os novos donos contrataram uma imobiliária para locar a construção – o preço médio do metro quadrado é R$ 65.
Levando-se em conta a metragem do local, o aluguel do condomínio pode chegar a R$ 180,7 mil. Há quem diga que o prédio foi vendido para quitar dívida com um banco privado. Procurado três vezes pela reportagem, o empresário Jorge Rolla preferiu não comentar o assunto: “Não tenho nada para falar”. Entre os funcionários, o clima é de apreensão. Ao longo dos últimos anos, todas as lojas Rolla e Hamilton, com exceção das que funcionam no edifício-sede, foram fechadas. A última, uma unidade da Hamilton, baixou as portas há dois meses – o ponto de vendas funcionava na esquina da Rua Alagoas e Avenida Cristóvão Colombo, na Savassi.
“Estamos trabalhando normalmente, mas sem saber o que vai ocorrer conosco”, disse um funcionário lotado no imóvel 471 e que prefere o anonimato. Ele torce para que novos ventos soprem a favor do grupo, como ocorreu em 1930, quando os irmãos Joaquim e João Rolla (tio e pai de Jorge) montaram o Mundo das Meias. O estabelecimento, em 1953, foi rebatizado de Casa Rolla. A unidade, que funcionava na Rua São Paulo, no Centro da capital, era o maior ponto de venda do município especializado no ramo de tecidos para vestuário, decoração, cama e mesa.
Clientes antigos dizem que João Rolla atendia os consumidores com vestimenta impecável. Dizem mais: que ele tinha veia empreendedora. Foi um dos fundadores, em junho de 1960, do Clube de Diretores Lojistas, entidade que deu origem à Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). O irmão, Joaquim, também foi visionário: ele é responsável por importantes obras no Brasil. Em BH, por exemplo, Joaquim encomendou a Oscar Niemeyer (1907-2012) o projeto do Edifício JK, onde moram cerca de 5 mil pessoas.
Outra obra que merece destaque é o Cassino Quitandinha, o maior da América Latina naquela época. Construído em Petrópolis (RJ), em 1941, o local hoje abriga o Hotel Palácio Quitandinha. O empreendedorismo da família Rolla refletiu no crescimento da marca na capital mineira, onde algumas filiais foram inauguradas no Centro.
Gravata e sala privativa deixaram de ser lei em alguns escritórios de advocacia da cidade. Jovens profissionais estão protagonizando rachas em sociedades tradicionais e abrindo as próprias firmas com propostas menos formais do que nos antigos empregos.
“Tem muito a ver com ser jovem. As cisões vêm turbinadas por esse pessoal”, resume Guilherme Amaral, 31. Há menos de dois anos, ele e outros 69 advogados saíram da antiga banca, o Felsberg e Associados, e abriram o próprio escritório, na avenida Paulista. O AidarSBZ fica a poucos quarteirões do Felsberg, onde Amaral entrou como estagiário e ficou por dez anos.
As duas empresas atuam em áreas semelhantes do direito, atendendo grandes empresas. Mas, no novo endereço, os sócios criaram horários mais flexíveis, passaram a permitir o “home office” e aboliram a maior parte das salas fechadas para dar lugar a bancadas coletivas, que reúnem tanto estagiários quanto sócios.
Novos advogados![](https://i0.wp.com/f.i.uol.com.br/fotografia/2013/03/01/248912-970x600-1.jpeg)
“Você consegue fazer um trabalho sério sem ser sisudo e sem exigir um monte de regras”, conta Amaral numa sexta, antes de participar da happy hour que começaria ali mesmo no escritório, com direito a bingo e cerveja.
A ruptura, diz, foi pacífica. O sócio e fundador de sua antiga firma, Thomas Felsberg, 69, concorda. “Temos valores consolidados e havia advogados com ideias próprias, que não se encaixavam na cultura do escritório.”
Na hora de contratar novos profissionais, Amaral aposta na diversidade, “do advogado mais malandro ao CDF”. “Tenho cliente que não precisa de inglês. Vou perder o funcionário porque ele não sabe o idioma?”, indaga. “Tem escritório que exige até mestrado para alguém subir na carreira.”
O advogado Rubens Vidigal Neto, 33, também aderiu às baias coletivas quando montou seu escritório na Consolação, região central, há menos de três anos. “Ninguém precisa bater na minha sala para falar comigo. Dá ideia de pertencimento ao lugar”, diz o sócio do Perlman Vidigal, especializado em áreas como mercado de capitais.
Ali, muitas questões são decididas em comitês com integrantes de todas as categorias de advogados, não só sócios. Horários também são mais flexíveis. “Existe uma cultura de se trabalhar até altas horas, mas a gente gosta de curtir a vida em outros aspectos.”
A ideia de abrir o próprio empreendimento, diz, foi “financeiramente positiva”, mas ele ressalta que a atitude pode ter seus riscos. “Tenho colegas que fizeram movimentos parecidos, mas num momento em que não tinham um histórico profissional sólido. O resultado não foi positivo.”
Os advogados não revelam valores, mas a consultora Anna Luiza Boranga, que há mais de 20 anos trabalha na reestruturação de sociedades de advogados, estima que podem girar em torno de R$ 50 mil mensais os ganhos de quem deixa uma banca consolidada para abrir o próprio escritório.
JEANS E VIDEOGAME
Além de horários mais flexíveis, os escritórios “jovens” também adotaram visual mais informal. “Às vezes, o cliente tem uma barreira para se abrir com um advogado ‘coxinha'”, justifica Juliano Cornacchia, 32, que em 2005 saiu de um banco de investimentos e hoje é um dos sócios do PMKA.
No escritório, que fica no Alto de Pinheiros, zona oeste, o terno foi pendurado e os advogados trabalham de jeans. “É a linguagem dos nossos clientes do mercado financeiro”, diz Cornacchia. “A gente quis ficar mais parecido com eles do que com os nossos concorrentes”, completa ele, que usa a sala de videogame do escritório “para descompressão”.
A mudança nos escritórios é mais visível entre os que lidam com clientes como bancos e grandes empresas. Mais globalizadas e mais ricas que as bancas de outras áreas do direito, elas foram pioneiras em reformar suas sociedades, até então ligadas à figura do dono e com estruturas familiares.
Mas, mesmo depois de “modernizarem” seus setores, ainda enfrentam o risco de rupturas e da fuga de jovens advogados. “É bastante traumático. Além do advogado, o escritório pode perder os clientes que vão com o profissional”, diz Anna Luiza Boranga.
Segundo a consultora, a faixa etária tem peso no movimento de cisões. “É o imediatismo da geração Y. O advogado quer uma carreira rápida, em que ganha bem e não quer trabalhar 20 horas por dia por vários anos.”
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O advogado Rodrigo Vella, 36, não vê influência da geração nos rompimentos. “[As cisões] não acontecem no resto do mundo. Acontece aqui porque os escritórios não estão preparados para gerenciar os advogados.” Ele argumenta que falta plano de carreira e política de retenção nas firmas.
Quando abriu o Vella Pugliese Buosi e Guidoni, na Vila Olímpia (zona oeste), em 2006, ele diz ter se preocupado em desenhar o modelo de carreira e de divisão do lucro antes de colocá-lo em prática. “Cada um sabe como vai subir [de nível], sem depender do humor dos sócios e sem querer montar um escritório próprio.”
Em setembro, uma dessas cisões gerou barulho no mercado, quando advogados saídos de dois grandes escritórios, o Machado Meyer e o Souza Cescon, juntaram-se para criar o Stocche, Forbes, Padis, Filizzola e Clápis, no Cidade Jardim, zona oeste.
Para Guilherme Malouf, 36, que ficou no Machado Meyer, apesar das “novidades” dos escritórios recentes, a vantagem da sua banca é ser uma “vitrine”. “Aqui eu tenho a segurança de que terei acesso aos maiores clientes”, afirma ele, que diz não se incomodar com as muitas regras impostas. “Para mim, elas são a libertação, porque dão mais previsibilidade.”
Luiz Felipe Costa, 32, um dos sócios da banca originada com a cisão, enxerga diferente. “Eu via possibilidade de crescer no lugar antigo. Mas, no atual, tenho amizade, além de alinhamento de faixa etária e de interesses”, diz ele. “Ninguém chama ninguém de doutor e o uso de terno não é obrigatório.”
FONTES: UOL e Folha.
Foi divulgada essa semana uma Escritura Pública de União Poliafetiva que, de acordo com a tabeliã de notas e protestos da cidade de Tupã, interior de São Paulo, Cláudia do Nascimento Rodrigues, pode ser considerada a primeira que trata sobre uniões poliafetivas no Brasil. Ela, tabeliã responsável pelo caso, explica que os três indivíduos: duas mulheres e um homem, viviam em união estável e desejavam declarar essa situação publicamente para a garantia de seus direitos.
Os três procuraram diversos tabeliães que se recusaram a lavrar a declaração de convivência pública. Quando eles entraram em contato comigo, eu fui averiguar se existia algum impedimento legal e verifiquei que não havia. Eu não poderia me recusar a lavrar a declaração. O tabelião tem a função pública de dar garantia jurídica ao conhecimento de fato, afirma.
Ela conta também que se sentiu bastante a vontade para tornar pública essa união envolvendo três pessoas, já que havia um desejo comum entre as partes, se tratava de pessoas capazes, sem envolvimento de nenhum menor e sem litígio. Internamente não havia dúvida de que as três pessoas consideravam viver como entidade familiar e desejavam garantir alguns direitos. Minha dúvida é com as questões externas à relação. Não há legislação que trate sobre o assunto. A aceitação envolve a maturação do direito. Nesse caso, foi preciso atribuir o direito a partir de um fato concreto. Será que haverá algum questionamento? reflete.
Para a vice-presidente do Instituto Brasileiro de Família, IBDFAM, Maria Berenice Dias, é preciso reconhecer os diversos tipos de relacionamentos que fazem parte da nossa sociedade atual. Temos que respeitar a natureza privada dos relacionamentos e aprender a viver nessa sociedade plural reconhecendo os diferentes desejos, explica.
Maria Berenice não vê problemas em se assegurar direitos e obrigações a uma relação contínua e duradoura, só por que ela envolve a união de três pessoas. O princípio da monogamia não está na constituição, é um viés cultural. O código civil proíbe apenas casamento entre pessoas casadas, o que não é o caso. Essas pessoas trabalham, contribuem e, por isso, devem ter seus direitos garantidos. A justiça não pode chancelar a injustiça, completa.
A escritura
Os declarantes, diante da lacuna legal no reconhecimento desse modelo de união afetiva múltipla e simultânea, intentam estabelecer as regras para garantia de seus direitos e deveres, pretendendo vê-las reconhecidas e respeitadas social, econômica e juridicamente, em caso de questionamentos ou litígios surgidos entre si ou com terceiros, tendo por base os princípios constitucionais da liberdade, dignidade e igualdade. A frase retirada da Escritura Pública Declaratória de União Poliafetiva resume bem o desejo das partes em tornar pública uma relação que consideram familiar e de união estável. A partir dessa premissa, a escritura trata sobre os direitos e deveres dos conviventes, sobre as relações patrimoniais bem como dispõe sobre a dissolução da união poliafetiva e sobre os efeitos jurídicos desse tipo de união.
A partir da união estável, a escritura estabelece um regime patrimonial de comunhão parcial, análogo ao regime da comunhão parcial de bens estabelecido nos artigos 1.658 a1.666 do Código Civil Brasileiro. Nesse caso, eles decidiram que um dos conviventes exercerá a administração dos bens. Dentre os direitos e deveres dos conviventes está a assistência material e emocional eventualmente para o bem estar individual e comum; o dever da lealdade e manutenção da harmonia na convivência entre os três.