Laudando et vituperando abstine: tutum silentium praemium.

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Por filho americano, brasileiras viajam a Miami para dar à luz

Agência oferece assistência em português para grávidas; Constituição dos EUA garante cidadania automática a crianças nascidas no país.

Paulistana quis que seu primeiro filho tivesse a cidadania americana e melhores oportunidades no futuro (Foto: Arquivo pessoal/BBC)Paulistana quis que seu primeiro filho tivesse a cidadania americana e melhores oportunidades no futuro

Quando voltou de sua última viagem a Miami, a empresária paulistana Bianka Zad trouxe mais do que malas cheias. Ela carregava no colo um bebê recém-nascido.

Ao dar à luz na Flórida, Zad quis que seu primeiro filho tivesse a cidadania americana e melhores oportunidades no futuro.

“Mesmo antes de saber que estava grávida, eu já queria fazer o parto lá”, conta Zad, de 37 anos.

A Constituição americana garante a cidadania automática a todas as crianças nascidas no país, inclusive se forem filhas de turistas ou imigrantes ilegais.

A empresária viajou a Miami com um visto de turista na trigésima segunda semana de gravidez e se hospedou no apartamento que comprou há quatro anos para passar férias.

Zad deu à luz em 22 de maio e voltou ao Brasil dois meses depois. Seu filho, Enrico, desembarcou em São Paulo com dois passaportes – o brasileiro e o americano.

 Médico criou empresa especializada em fazer partos de brasileiras nos Estados Unidos  (Foto: Arquivo Pessoal)Médico criou empresa especializada em fazer partos de brasileiras nos Estados Unidos

Para tirar o americano, ela teve de registrar o nascimento num cartório e levar o filho a um centro do governo. O processo todo, diz Zad, levou 20 minutos, e o passaporte chegou pelo correio em 20 dias.

Ela afirma que não sofreu qualquer constrangimento nem teve de prestar qualquer esclarecimento às autoridades.

Conseguir o documento brasileiro exigiu que ela fosse ao consulado e comprovasse sua nacionalidade.

‘Ser mamãe em Miami’
Para tirar os planos do papel, a empresária contratou os serviços de uma agência especializada em partos de brasileiras na cidade, a “Ser mamãe em Miami”.

O médico brasileiro Wladimir Lorentz, 46 anos, diz que resolveu fundar a agência com um sócio após descobrir serviços semelhantes para turistas russas.

Lorentz, que trabalha como pediatra em Miami há 17 anos, começou a atender turistas brasileiras em setembro e, há duas semanas, lançou um novo site com os serviços.

Desde então, ele diz ter sido procurado por quatro brasileiras interessadas.

Não há leis que proíbam grávidas de viajar de avião, embora as companhias aéreas costumem exigir atestados médicos de passageiras em estado avançado de gravidez.

Lorentz recomenda que elas consultem um obstetra antes de embarcar e façam a viagem antes de completar sete meses de gestação.

Sua agência oferece três pacotes de partos. O natural sai por US$ 9.840 (cerca de R$ 37.800); a cesárea, US$ 11.390 (R$ 43.700); e o múltiplo (gêmeos ou mais), US$ 14.730 (R$ 56.600).

Todos os planos incluem atendimento pré e pós-natal, até três dias de “internação hospitalar em suíte VIP” e exames básicos para a mãe e o bebê.

“Uma grávida em São Paulo que comece o trabalho de parto na hora do rush corre o risco de dar à luz no meio do trânsito ou acabar num hospital ruim”, ele diz à BBC Brasil. “Aqui não tem esse perigo”.

O diferencial de sua agência, diz Lorentz, é o atendimento em português. Seu sócio, o obstetra Ernesto Cárdenas, nasceu na Colômbia e também compreende a língua.

Para contratar os serviços, o médico diz que a grávida pode viajar com um visto de turista, já que o documento também vale para quem recebe cuidados médicos nos Estados Unidos.

Ele diz que seu principal desafio é convencer os brasileiros de que o serviço é legal.

‘Bebês âncoras’
Ter um filho americano não dá aos pais o direito de morar no país, explica a advogada brasileira Juliana Pechincha, que atende em Nova York. Ela diz que os filhos só podem pleitear que os pais se tornem residentes ao completar 21 anos.

Mesmo assim, milhares de mães estrangeiras têm viajado aos Estados Unidos para dar à luz no país. A prática gerou uma polêmica na campanha à eleição presidencial de 2016.

O pré-candidato republicano Donald Trump tem defendido acabar com a concessão automática de cidadania a filhos de estrangeiros.

Ao comentar a posição de Trump, o também pré-candidato republicano Jeb Bush defendeu a regra atual, mas provocou a ira de muitos imigrantes ao se referir às crianças como “bebês âncoras”.

Considerada pejorativa, a expressão se refere à crença de que ter um filho nos Estados Unidos torna a deportação dos pais mais difícil.

Bush afirmou que se referia a “casos específicos de fraudes” – cometidas, segundo ele, principalmente por asiáticos – que viajavam aos Estados Unidos para ter filhos e “tirar proveito de um conceito nobre”.

O pediatra brasileiro Wladimir Lorentz diz que a crítica não se aplica a seus serviços.

“Seguimos rigorosamente a legislação e todos os nossos profissionais são certificados. Nossa atividade gera receitas e empregos para o país”, afirma.

 Irene Kim foi a Miami para comprar enxoval e acabou dando à luz nos Estados Unidos  (Foto: Arquivo Pessoal)Irene Kim foi a Miami para comprar enxoval e acabou dando à luz nos Estados Unidos

Turismo do enxoval
Hoje no nono mês de gravidez, a advogada e contadora paulistana Irene Kim, de 33 anos, chegou a Miami em julho para fazer o enxoval do seu primeiro filho.

Durante as compras, Kim diz que se sentiu mal e soube que corria o risco de ter uma coagulação se viajasse de avião antes do nascimento.

Ela então decidiu fazer o parto na cidade e, ao descobrir que o filho ganharia a cidadania americana, passou a considerar migrar legalmente para os Estados Unidos nos próximos anos.

“Aqui a educação é gratuita, enquanto no Brasil uma educação de qualidade consome grande parte da renda familiar”, justifica.

Outra razão para se mudar, diz Kim, é a insegurança no país.

A empresária Bianka Zad também se prepara para se migrar legalmente para os Estados Unidos com o marido e o filho Enrico, nascido em Miami.

Ela diz ter colocado à venda terrenos e a casa em que a família mora em Aphaville, condomínio de luxo em São Paulo, para se mudar em 2018.

“O Brasil é um país que não tem a ordem que vemos aqui na América”, ela diz.

“Quando você vai e conhece a América, você se apaixona”.

 

FONTE: G1.


ATENÇÃO, PETISTAS, NÃO É PUBLICAÇÃO DA VEJA: é (outra) da CARTA CAPITAL…

Esquerda brasileira se une contra ajuste fiscal e por reformas populares

MTST
Um grupo que reúne as principais organizações políticas de esquerda do Brasil, lideradas por MTST e MST, decidiu se unir em torno de uma Frente pelas Reformas Populares.
Depois da eleição de Dilma e dos sinais práticos que o governo tem dado em favor dos interesses do mercado financeiro e do agronegócio, é consenso entre os diversos movimentos sociais que há uma necessidade latente de se construir uma ampla unidade dos setores progressistas, que de maneira independente, pressione o governo no sentido de fazer avançar os direitos sociais e ao mesmo tempo barrar retrocessos.
Um destaque importante foi a inclusão como um dos eixos principais o combate à repressão às lutas sociais e ao genocídio da juventude negra, pobre e periférica, prática essa institucionalizada pela lógica de uma política de segurança pública bélica e racista.
Além de MTST e MST, assinam o documento organizações ligadas à Igrejas, centrais sindicais, Psol, movimento negro, movimento de mulheres e até mesmo agrupamentos mais próximos e ligados ao PT.
Leia a íntegra da declaração:
 
DECLARAÇÃO DA FRENTE PELAS REFORMAS POPULARES
São Paulo, 22 de janeiro de 2015
As organizações sociais e políticas que assinam esta declaração entendem que é urgente e necessária a construção de uma frente  que coloque em pauta o tema das Reformas Populares no Brasil.
Esta frente terá o objetivo de concretizar uma ampla unidade para construir mobilizações que façam avançar a conquista de direitos sociais e bandeiras históricas da classe trabalhadora. Buscará também fazer a disputa de consciência e opinião na sociedade. Por sua própria natureza será uma frente com independência total em relação aos governos.
Neste momento, a proposta de ação da frente se organizará em torno de 4 grandes eixos:
1) Luta pelas Reformas Populares;
2) Enfrentamento das pautas da direita na sociedade, no Congresso, no Judiciário e nos Governos;
3) Contra os ataques aos direitos trabalhistas, previdenciários e investimentos sociais;
4) Contra a repressão às lutas sociais e o genocídio da juventude negra, pobre e periférica.
Num cenário de demissões, tentativas de redução salarial e cortes de direitos é preciso colocar em pauta o enfrentamento da política de ajuste fiscal do Governo Federal, dos Governos Estaduais e Prefeituras. Defendemos a imediata revogação das MPs 664 e 665/14, que representam ataques ao seguro-desemprego e pensões.
Chamamos também para a necessidade de enfrentar o aumento de tarifas de serviços e concessões públicas, como o transporte urbano, a energia elétrica e a água. Não aceitaremos que os trabalhadores paguem pela crise.
Neste sentido, a Frente adotará os seguintes encaminhamentos:
– Construir conjuntamente o dia de lutas de 28/1 chamado pelas centrais sindicais;
– Apoiar e construir lutas em relação ao ajuste fiscal e ataque a direitos sociais, o aumento das tarifas do transporte, a falta d’água, a criminalização das lutas sociais e o genocídio da juventude nas periferias;
– Realizar mobilizações em torno do mote “Devolve Gilmar” visando imediato julgamento pelo STF da Ação da OAB contra o financiamento empresarial de campanhas eleitorais;
– Apoiar as Jornadas pela Reforma Urbana e pela Reforma Agrária, em março;
– Organizar um Dia Nacional de Lutas unificado, com indicativo entre março e maio.
– Realizar um Seminário Nacional para avançar na plataforma e construção da Frente, com indicativo para 7/3.
 
Assinam:
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
Central de Movimentos Populares (CMP)
União Nacional dos Estudantes (UNE)
Coletivo Juntos
Coletivo Rua
Fora do Eixo
Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
União da Juventude Socialista (UJS)
Uneafro
Unegro
União Brasileira de Mulheres  (UBM)
Igreja Povo de Deus em Movimento
Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras)
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade
Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia
Movimento Nós da Sul
Movimento Popular por Moradia (MPM)
Coletivo Arrua
Juventude Socialismo e Liberdade (JSOL)
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)
Fórum Ecumênico ACT Aliança Brasil (FEACT)
Articulação Igrejas e Movimentos Populares

FONTE: Carta Capital.


Ataque condenado

Petistas

O ataque na noite de sexta-feira à sede da Editora Abril, que edita a revista Veja, por causa da capa que acusa a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de saberem do suposto esquema de corrupção na Petrobras foi repudiado por associações de imprensa. Em nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) disse que “repudia veementemente os ataques”. 

A Abert diz acompanhar com “preocupação” episódios como o que acometeu a revista – a fachada do prédio da revista na Marginal Pinheiros, em São Paulo, foi pichada com frases como “Veja mente” e “Fora Veja” e manifestantes também jogaram lixo na entrada. A entidade diz considerar grave qualquer “ato de intimidação à liberdade de imprensa” e citou a Declaração de Chapultepec, da qual o Brasil é signatário, segundo a qual “a imprensa livre é “condição fundamental para que as sociedades resolvam os seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade”. 
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também condenou a manifestação contra a Veja e disse que o passado recente do país é “rico de exemplos do que sempre acontece quando a imprensa é impedida de cumprir sua missão”. Para a entidade, a revista cumpriu seu papel de informar os leitores sobre um tema de interesse público. A ABI considerou inconstitucional a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, de impedir a divulgação de publicidade da revista, por entender que ela ajuda ao candidato do PSDB, Aécio Neves. “A intervenção do TSE, além de extemporânea, fere a liberdade de imprensa, agride o Estado de Direito e conspurca os princípios que regem a atividade econômica em nosso país”, afirma em nota.
Já o jornalista presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), José Roberto de Toledo, usou sua página no Facebook para criticar o ato. “O punhado de irresponsáveis que jogou lixo e pichou a fachada da Abril parece ser jovem demais para entender o dano potencial de sua imbecilidade”, afirmou. Em entrevista ao site da revista Veja, o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, Alberto Rollo, disse que os ataques não combinam com o exercício da democracia. 
As pichações foram em resposta à reportagem de capa da edição, que foi publicada antecipadamente na quinta-feira, creditando ao depoimento do doleiro Alberto Youssef à Justiça do Paraná a informação de que Dilma e Lula sabiam das supostas irregularidades na Petrobras. Panfletos com a capa da edição estão sendo distribuídos por cabos eleitorais do PSDB em Minas Gerais.

 

FONTE: Estado de Minas.


Morre no Recife, aos 87 anos, o escritor Ariano Suassuna

 

Ele sofreu um AVC na noite de segunda-feira e passou por cirurgia.

Nascido na Paraíba, ele vivia no Recife desde 1942.

JULHO NEGRO PARA A CULTURA… TAMBÉM NOS DEIXARAM RUBEM ALVES E JOÃO UBALDO

Os integrantes da Academia Brasileira de Letras receberam a notícia da morte do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, de 87 anos, durante a sessão desta quarta-feira, 23, quando homenageavam o também acadêmico João Ubaldo Ribeiro, que morreu na última sexta-feira (18). Eles ficaram muito abalados, pois perderam três membros em 20 dias – o poeta Ivan Junqueira morreu no dia 3.

“Três mortes em 20 dias é algo que eu acho que nunca aconteceu aqui. Ele vinha pouco à academia por não morar no Rio. É uma perda para as letras brasileiras e para o teatro mundial. Sendo ele internacional, será pranteado em todo lugar do mundo. Já vi peças dele na Alemanha”, disse o presidente da casa, Geraldo Holanda Cavalvanti.

O Real Hospital Português, onde Suassuna estava internado desde segunda-feira, 21, divulgou nota informando que o falecimento ocorreu às 17h15. O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana. De acordo com o hospital, a família ainda não informou os detalhes do funeral.

 

Em março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)Em março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o Festival de Teatro de Curitiba

Morreu no Recife, nesta quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna, aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico. Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. “O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana”.

O velório do corpo do escritor começa ainda esta noite, no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, que decretou luto oficial de três dias. A partir das 23h, será aberto o acesso do público ao local. O enterro está previsto para a tarde de quinta-feira (24), no cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife.

Internamentos
Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita.

Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.

Na noite de segunda-feira (21), Ariano Suassuna deu entrada no hospital e foi operado após o diagnóstico do AVC. A cirurgia foi para a colocação de dois drenos, na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça, o quadro dele se agravou, devido a “queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada”, conforme foi informado em boletim.

Na aula-espetáculo, Ariano mistura causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestin a (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco)Na aula-espetáculo que ministrou no Festival de Inverno de Garanhuns, na semana passada, mais uma vez Ariano misturou causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestina; o grupo Arraial foi o convidado para os números de música e dança

Ativo até o fim
Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. “No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra”, disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.

Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada.  Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.

No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.

Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.

Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)
Com montagem d’O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira

Obra
A primeira peça do escritor, “Uma mulher vestida de sol”, ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, “O Auto da Compadecida”, em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.

O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de “A pedra do reino”.

Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.

Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.

FONTE: G1 e Hoje Em Dia.


Ubaldo

Do lado do povoCom Viva o povo brasileiro, João Ubaldo Ribeiro escreveu a saga da formação brasileira a partir do olhar das pessoas comuns

 

Morre aos 73 anos o escritor João Ubaldo Ribeiro, autor de Sargento Getúlio. Romancista baiano teve obras adaptadas para o teatro, cinema e televisão.

O escritor João Ubaldo Ribeiro, autor do épico Viva o povo brasileiro, morreu na madrugada de ontem, de embolia pulmonar, aos 73 anos. Ele estava em sua casa, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, quando se sentiu mal por volta das 3h. Baiano de Itaparica, era um dos mais celebrados escritores brasileiros, imortal da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1993, onde ocupava a cadeira de número 34. O corpo foi velado, como manda a tradição, na sede da ABL. O enterro deverá ser realizado hoje, às 10h, no mausoléu da academia, no Cemitério de São João Batista, em Botafogo. A família espera a chegada da filha do escritor, Manuela, que mora na Alemanha.

Nascido em 23 de janeiro de 1941, com apenas dois meses João Ubaldo foi com a família para Sergipe, onde viveu até os 11 anos. Em Aracaju, onde os Ribeiro passaram a morar, seu pai, Manoel, trabalhou como professor e advogado. Muitos anos depois, após ter morado por um período no Rio de Janeiro e em Lisboa, ele voltaria a viver em Itaparica, onde permaneceu por sete anos. Adorava a ilha, que lhe serviu de inspiração para muitos textos e onde era querido por todos os moradores. 

Nas andanças da família, já de volta à Bahia, foi matriculado no Colégio Sofia Costa Pinto e depois transferido para o Colégio da Bahia, também conhecido como Colégio Central. Foi ali que conheceu e se tornou amigo do cineasta Glauber Rocha, com quem chegou a editar revistas culturais na juventude, além de participar do movimento estudantil. Foram muito ligados até a morte de Glauber, em 1981.

Formado em direito pela Universidade Federal da Bahia, João Ubaldo Ribeiro não chegou a exercer a profissão. A literatura o conquistou desde cedo. Seu primeiro livro, Setembro não tem sentido, foi escrito quando tinha 21 anos e já dava mostras, pela densidade do texto, do que viria em seguida. O primeiro nome que escolheu para o romance de estreia foi A semana da pátria, mas um editor o convenceu a mudá-lo. O mesmo ocorreria com outro livro, Vencecavalo e o outro povo, de 1974, que pela vontade do autor se chamaria A guerra dos paranaguás. 

Entre as atividades que exerceu antes de dedicar-se exclusivamente à literatura, foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e jornalista. Foi repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do Jornal da Bahia, e editor-chefe da Tribuna da Bahia. Velhos colegas de profissão até hoje falam da sua brilhante passagem pela imprensa baiana. Ultimamente, publicava crônica semanal em jornais do Rio e de São Paulo, além de colaborar com o Jornal de Letras, de Portugal, o Times Literary Suppplement, da Inglaterra, e o Frankfurter Rundschau, da Alemanha. 

Ainda no início da carreira de ficcionista, João Ubaldo foi um dos jovens autores brasileiros a participar do International writing, programa da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Em 1964, o escritor fez mestrado em ciência política na Universidade da Carolina do Sul, curso que está na base do único ensaio que publicou, Política: quem manda, por que manda, como manda, de 1981. O romancista também morou em Berlim entre 1990 e 1991, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio. Sobre a sua experiência na Alemanha, deixou um delicioso livro de crônicas, Um brasileiro em Berlim. 

A consagração veio em 1971 com a publicação do romance Sargento Getúlio, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti como autor estreante. Traduzido para várias línguas, a novela, de acordo com a crítica, “sintetizava o melhor de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa”. O livro foi levado ao cinema por Hermano Pena, em 1983, com Lima Duarte no papel principal. Atualmente, Sargento Getúlio circula o Brasil em adaptação para o palco do Grupo de Teatro NU, da Bahia.

As obras de Ubaldo sempre foram vistas com interesse por diretores de teatro, cinema e televisão. O romance O sorriso do lagarto, de 1989, foi adaptado para minissérie da TV Globo, no início da década de 1990, com Tony Ramos, Maitê Proença e José Lewgoy no elenco. O apimentado romance A casa dos budas ditosos ganhou uma elogiada adaptação para o teatro em 2003, em monólogo de Fernanda Torres, com direção de Domingos de Oliveira. O espetáculo deu à artista o Prêmio Shell de melhor atriz naquele ano.

Épico popular 

Seu livro de maior repercussão entre os leitores e a crítica foi o romance Viva o povo brasileiro, que Ubaldo começou a escrever em 1982, com o título provisório de Alto lá, meu general. Lançado em 1984, daria ao autor outro Jabuti, além de traduções em vários idiomas. Romance caudaloso, conduzido com ritmo épico e humor, Viva o povo brasileiro cruza dados históricos com elementos da cultura popular, propondo outro olhar sobre a formação do brasileiro. João Ubaldo construiria com seu livro uma obra de forte peso político – pela visão popular e a contrapelo da história oficial –, realizada com sofisticado tratamento da linguagem. 

Nesta época, na companhia do colombiano Gabriel García Márquez e do argentino Jorge Luis Borges, João Ubaldo foi um dos convidados para participar de uma série de filmes sobre a América Latina, produzidos por uma rede de televisão do Canadá. Três anos depois do lançamento de Viva o povo brasileiro, o livro foi escolhido como tema do samba-enredo da Escola de Samba Império da Tijuca. 

No encerramento de seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1994, ele disse com emoção: “Tendo sido criado em Sergipe até os 11 anos, não posso deixar de ser meio sergipano; tendo nascido em Itaparica, sou baiano. Agradeço, abraço e peço a bênção ao povo da Bahia e de Sergipe. Imagino que agora, lá na ilha, algum itaparicano levanta um copo em minha lembrança, e lá, em Aracaju, tão doce e amável na minha infância, algum amigo antigo fala em mim com orgulho conterrâneo”. 

Em 2008, o escritor foi escolhido para receber o Prêmio Camões, o mais importante para autores de língua portuguesa. João Ubaldo Ribeiro foi casado com Maria Beatriz Moreira Caldas, com quem teve dois filhos, Emílio e Manuela. Em 1980, se casou com Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, com quem teve dois filhos, o ator Bento Ribeiro e Francisca. 



“Minha geração se vai. Companheiro de tantas viagens, conversas, risos. Um personagem. Foi se encontrar com Glauber, 
a quem venerava, com Jorge Amado, que idolatrava, com Zélia, com Scliar. Assim como ele disse, décadas atrás, em um hotel de Colônia, aos gritos: ‘Que falta você faz, Glauber’, digo agora, ‘Que falta você faz João Ubaldo’.”

. Ignácio de Loyola Brandão, escritor e jornalista


“Foi uma surpresa, um choque para a academia. Ele estava muito bem disposto, em um momento de plena produção literária. É uma grande perda para as letras. Ele renovou a literatura brasileira. Com a publicação de Viva o povo brasileiro ele inaugurou uma nova etapa do nosso romance.”

. Geraldo Holanda Cavalcanti, presidente da Academia Brasileira de Letras


“João Ubaldo foi um escritor revolucionário. Trouxe nova dicção para a literatura focada nos personagens populares do Brasil. Fez da ilha de Itaparica um resumo do Brasil. Após ciclo de grandes romances, João Ubaldo se destaca por crônicas primorosas, extremamente criativas. Textos que são deliciosos pelo modo como tratam, de forma desabusada e satírica, os problemas brasileiros.”

. Miguel Sanches Neto, romancista e crítico

FONTE: Estado de Minas.


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Festa histórica vivida nas últimas semanas por Belo Horizonte, que nunca havia recebido tantos turistas, acabou em pleno Mineirão com o maior vexame da Seleção

Torcedores foram do céu ao inferno. Depois de 27 dias de esperança pelo hexacampeonato, a alegria virou apreensão e foi engolida por uma decepção sem fim no início da noite

Alemanha massacra, faz 7, impõe ao Brasil o maior vexame da história e avança à final

Vergonha
Nas capas de jornais estrangeiros, humilhação, fracasso e vexame foram algumas das palavras para descrever o desempenho da seleção brasileira.

 

Envolventes, alemães entraram para a história ao aplicar a maior derrota do Brasil

Jefferson Bernardes/Vipcomm



Estava tudo preparado para uma grande festa em verde-amarelo. Mas o que se viu foi um autêntico show da Alemanha. Com um futebol envolvente, de toque de bola de extrema qualidade, os alemães entraram para a história ao aplicar a maior derrota do futebol brasileiro. Com uma goleada de 7 a 1, nesta terça-feira, diante de mais de 51 mil torcedores, a seleção germânica se classificou para a final da Copa do Mundo. Toni Kroos (2), Schürrle (2), Müller, Khedira e Klose balançaram as redes. Oscar fez o gol solitário do Brasil.

A Seleção Brasileira foi presa fácil para a Alemanha, que deixou o campo aplaudidíssima pela atuação impecável. Os germânicos se dirigiram aos torcedores depois da partida, retribuindo o apoio. Mas o Mineirão, em peso, reconheceu a atuação fantástica de uma geração que vem brilhando nos gramados desde a Copa de 2006, quando foi montada.

A Alemanha se classificou para disputar mais uma final de Copa do Mundo, a oitava. E chega muito forte e com moral para enfrentar o ganhador de Holanda x Argentina, que se enfrentam nesta quarta-feira, em São Paulo. A Seleção Brasileira terá que erguer a cabeça para ao menos encerrar de forma digna a participação. Resta aos comandados de Felipão brigar pelo terceiro lugar, sábado, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. A grande decisão será no domingo que vem, no Maracanã.



O jogo histórico

A torcida cumpriu o papel, veio ao Mineirão imbuída em apoiar a Seleção Brasileira do começo ao fim. Ainda mais com a confirmação da entrada de Bernard, titular na vaga de Neymar, o que levou os mineiros, principalmente os atleticanos, a gritar ainda mais em favor do time de Felipão e cia. Do outro lado, uma Alemanha ávida em estragar a festa que estava preparada para explodir depois do clássico.

O Brasil até tentou se impor no começo, obrigando Neuer a trabalhar. Mas o que se viu foi uma autêntica tragédia no Mineirão. A Alemanha, bem ao seu estilo, tocou bola com a mesma tranquilidade e eficiência de sempre. Com deslocamentos rápidos pela direita, sempre nas costas de Marcelo, que se mandou ao ataque e deixava um corredor atrás. O time germânico viu que tomaria conta facilmente do meio-campo e ganhou confiança.

Logo aos 11min, o prenúncio de que não seria uma tarde/noite boa para o Brasil. Em cobrança de escanteio de Toni Kroos, pela direita, a defesa vacilou feio e a bola se ofereceu para Muller, que não perdoou e mandou para as redes de Julio Cesar: 1 a 0. O lance não abalou a torcida, que continuou empurrando. Mas os jogadores, não. A Seleção se perdeu completamente e cedeu muito espaço aos alemãs. Era tudo o que o adversário queria.

O que se viu em seguida foi algo impensável. A Seleção Brasileira tomou um show de bola, um passeio em pleno Mineirão. Os alemães foram para cima, tocando bola e aproveitando as brechas entre o meio-campo e a defesa. E os gols foram saindo, transformando o apoio em vaias e revolta da torcida. Em menos de 20min, o Brasil tomou cinco gols! Destaque para Klose, que fez 2 a 0 e se tornou o maior artilheiro da história das Copas. Ele balançou as redes 16 vezes no total, deixando para trás Ronaldo Fenômeno.

Toni Kroos, um dos destaques do primeiro tempo, mandou a bola duas vezes para as redes de Julio Cesar, aos 24 e 25min.Logo depois, para desespero da torcida no Mineirão, Khedira completou no canto direito, depois de nova troca de passes perfeita dos alemães: 5 a 0. O suficiente para muitos torcedores abandonarem as cadeiras, com um misto de revolta e perplexidade.

Orquestra alemã

Sob vaias, os comandados de Felipão voltaram para o segundo tempo com mudanças. Paulinho e Ramires substituíram Fernandinho e Hulk, respectivamente, ambos inoperantes em campo tanto na destruição como na criação das jogadas. O Brasil até mostrou outro espírito – lutando mais que mostrando futebol. Os poucos torcedores que tiveram a iniciativa de apoiar o time se manifestaram. Neuer trabalhou muito em um verdadeiro bombardeio, demonstrando firmeza impecável.

Com Bernard bem aberto pela esquerda, o Brasil passou a incomodar. Só que os atacantes não estavam em uma tarde feliz. Tanto que Fred, apático como em jogos anteriores, fez com que a torcida perdesse a paciência. O centroavante, ídolo dos cruzeirenses, passou a ser perseguido em campo. Os alemães, em número reduzido, eram ouvidos com os tradicionais cânticos. E ainda teve tempo para o sexto, em uma histórica goleada germânica. Aos 23, Shcürrle, que entrara no lugar de Klose – aplaudidíssimo -, completou cruzamento de Lahm, pela direita: 6 a 0.

A torcida passou a aplaudir de pé as jogadas da Alemanha. Os papéis se inverteram, com gritos de ‘Olé’ a cada troca de passes germânicos. O Brasil ainda levou mais um e aumentou a humilhação. Aos 33, Schürrle recebeu na área e chutou forte. A bola tocou no travessão e Julio Cesar nem viu por onde passou: 7 a 0. Mas em vez de vaias, aplausos. Como uma autêntica orquestra filarmônica alemã. O Brasil ainda descontou com Oscar, aos 44min, mas a reação dos torcedores foi de ironia: ‘Eu acredito’, gritaram das cadeiras. Fim de jogo: 7 a 1.



BRASIL 1 X 7 ALEMANHA

Brasil
Julio Cesar; Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho (Paulinho), Fernandinho e Oscar; Hulk (Ramires) e Fred (Willian)
Técnico: Luiz Felipe Scolari
Alemanha
Neuer; Lahm, Boateng, Hummels (Mertesacker) e Howedes; Schweinsteiger, Khedira (Draxler) e Toni Kroos; Ozil, Klose (Schürrle) e Muller

Estádio: Mineirão
Data: terça-feira, 8 de julho
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Auxiliares: Marvin Torrentera (MEX) e Marcos Quintero (MEX)
Gols: Muller 11, Klose, 22, Toni Kroos, 23 e 24, Khedira, 28min do primeiro tempo; Schürrle, 23 e 33min; Oscar, 44 do segundo tempo
Público: 58.151 torcedores
Cartões amarelos: Dante (BRA)

Belo Horizonte nunca recebeu tantos turistas, nunca viu tantos estrangeiros e nunca foi palco de uma festa tão grandiosa desde o início da Copa do Mundo. Mas ontem toda essa grandeza contrastou com uma decepção também nunca vista na cidade: maior vexame da história da Seleção Brasileira em pleno Mineirão. A goleada de 7 a 1 da Alemanha desabou como tragédia sobre a torcida verde-amarela. Mais do que calar a cidade, o massacre em campo deixou a torcida brasileira perplexa. A Savassi, maior ponto de concentração de torcedores durante a Copa, viu muita decepção, brigas e prisões no fim da partida do Mineirão. Enquanto os torcedores iam embora decepcionados e esvaziavam a Savassi, houve mais confusão e agressões no fim da noite. O Mundial da alegria acabava de forma constrangedora e revoltante para os brasileiros. 

Há 27 dias, o clima era outro. Os quatro quarteirões fechados da Praça Diogo de Vasconcelos haviam se tornado um ponto natural de encontro de vários idiomas. Tudo era festa. Mas ontem, ainda no primeiro tempo, torcedores deixaram a Savassi e o Mineirão antes mesmo do fim da partida. “Eu sabia da ‘Neymardependência’, mas não imaginava que fosse tão grande. O time do Brasil sentiu muito a saída do seu craque. Não acredito que vi, na Copa do meu país, no jogo da minha cidade, um placar tão vergonhoso”, desabafou o engenheiro civil João Pedro Lanna, de 35 anos, natural de Belo Horizonte. 

O ambulante Antônio Jorge da Silva, de 45, ficou revoltado: “Que papelão! Eu gastei muito. Comprei bebida para estse e o próximo jogo. E agora a festa acabou. Mas eles vão voltar para casa com dinheiro no bolso. E eu fico no prejuízo”. 

A enfermeira Ana Cláudia Vieira, de 26, também moradora da capital, achou os jogadores brasileiros desequilibrados. “Mais do que triste, estou com vergonha. Sou apaixonada por futebol, assisto muitos jogos e por isso mesmo não consigo acreditar”, disse. “BH ficou marcada para sempre. O Maracanaço (derrota para o Uruguai na Copa de 1950) não é nada perto desse vexame”, completou o funcionário público Anderson Flores, de 32, de Formiga, no Centro-Oeste de Minas.
“A culpa é minha”Técnico diz que foi o pior dia de sua vida, mas não se arrepende das escolhas que fez no time


“É uma derrota catastrófica, horrível, mas temos de aprender com isso. 12, 13, 14 jogadores dessa equipe vão estar na copa de 2018”

 

“Acho que foi o pior dia da minha vida.” Assim o técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari, definiu a terça-feira em que sua equipe foi goleada por 7 a 1 pela Alemanha, no Mineirão, pela semifinal da Copa do Mundo. O maior vexame da história da Seleção Brasileira, segundo o treinador, nasceu em 10 minutos, quando o adversário marcou quatro gols. Palavras como descontrole, desorganização, pane, branco, desastre, catástrofe, pânico e transtorno foram repetidas por Felipão durante a coletiva.

“Deu um pane depois do primeiro gol e, com a qualidade dessa equipe, eles aproveitaram, e não tínhamos condições de reagir”, definiu o treinador brasileiro. “Peço desculpas pelo resultado negativo, por não chegar à final. Fizemos e tentamos o que tínhamos condições e o que achamos que era o nosso melhor.”

Felipão disse que não se arrependeu da escalação de Bernard, em vez de três volantes, como chegou a treinar. “Com a volta de Oscar, Hulk e Bernard, poderíamos fazer o setor do meio. Estava tudo organizado até o primeiro gol. Aí entramos em pânico e as coisas foram dando certo para eles. É uma escolha que o técnico faz e tem que arcar com as consequências”, avaliou. E ele assumiu a responsabilidade pelo resultado: “Pode até ser dividido por todo o grupo, porque os jogadores querem isso, mas a escolha da parte tática, a forma de jogar sou eu. Então, o resultado e o responsável fui eu”. Segundo Scolari, nem a presença de Neymar evitaria a derrota: “Ele é atacante e não teria como defender as jogadas trabalhadas que aconteceram ali”.

Felipão reconheceu que ficará marcado na história do futebol brasileiro não apenas como o técnico que conquistou o penta em 2002, mas também por ter sofrido a maior derrota de todos os tempos. “É um risco que sabia quando assumi o cargo. Tenho de assimilar e seguir em frente. Se for pensar em toda a minha carreira, acho que foi o pior dia da minha vida, mas continua a vida”, definiu.

Para Felipão, a derrota para a Alemanha não demonstra que o futebol brasileiro esteja ultrapassado taticamente. “Até o primeiro gol, fizemos um jogo idêntico e até melhor que a Alemanha. Houve descontrole. Não é normal, mas acontece. Não estamos atrasados. Perdemos um jogo para uma grande equipe”, justificou.

EM 2018 Ao mesmo tempo, o treinador admitiu que a goleada deixa lições para a equipe. “É uma derrota catastrófica, horrível, mas temos de aprender com isso. Doze, 13, 14 jogadores dessa equipe vão estar na Copa em 2018”, afirmou Scolari, que, de imediato, vai tentar reanimar o grupo para a disputa do terceiro lugar, sábado, em Brasília, contra o perdedor de Holanda x Argentina, a outra semifinal que será disputada hoje, no Itaquerão. “A qualidade da Alemanha foi muito grande. Não é normal, mesmo que jogue mais 10 jogos. Temos de saber como vamos assimilar a derrota.”

Até alemão lamenta goleada
Incrédulo com o placar no Mineirão, torcedor da Seleção da Alemanha diz que o Brasil não merecia uma derrota como a de ontem.
Descendentes de germânicos comemoram

Sem ingressos para o Mineirão, os turistas Jonas Doil, Txai Meye, Felle Faehre, Sebastian Altenharp (de chapéu), Kajtek Skotridiv e Tobias Doil torceram pela Alemanha num bar do Bairro Anchieta


“O Brasil não merecia esse fim”. Assim reagiu o alemão Sebastian Altenharp, de 25 anos, que assistia ao jogo entre as seleções brasileira e da Alemanha no Bar Café do Carmo, no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul da capital. O torcedor se mostrava incrédulo com a goleada histórica. “Minha aposta era 1 a 0. Claro que a gente queria ganhar do Brasil, mas esperava que fosse de outra forma, não desse jeito”, afirmou.

Sem conseguir ingresso para a partida no Mineirão, vendido a R$ 2 mil no mercado paralelo, Sebastian decidiu ir para o bar com amigos. Até o terceiro gol, os seis torcedores vibravam – eram os únicos alemães no meio da multidão de camisas verde-amarelas. Eles levantavam a bandeira e gritavam: “Finale, finale.” Depois do quarto gol, Sebastian deixou de comemorar em consideração aos brasileiros.

“A gente tem muito respeito pelo Brasil, que nos recebeu tão bem”, explicou o alemão em nome de seus amigos, que também evitaram celebrar efusivamente a goleada. Um brasileiro chegou a abordar o grupo para dizer que a Alemanha não estava ganhando a Copa, era o Brasil que a perdia. Sem confusão, as duas torcidas mantiveram o clima respeitoso.

Hino Durante o jogo, praticamente não havia alemães torcendo nos bares e restaurantes da capital. Não faltou apoio ao time vencedor por parte de brasileiros de origem germânica e simpatizantes da Seleção Alemã. Num reduto da colônia germânica, o restaurante Neckartal, no Bairro Santo Antônio, os descendentes comemoraram cada gol como se fosse o primeiro. Cantaram o Hino da Alemanha e zombavam sempre que brasileiros se aproximavam do gol de Neuer. Quando o Brasil marcou, ninguém se manifestou.

“Meu bisavô era alemão. A última vez que torci para o Brasil foi em 1994”, afirmou o analista de sistemas Thiago Canuto, de 33. Para ele, a vitória da Alemanha foi uma resposta à final da Copa do Mundo de 2002, quando o Brasil derrotou os germânicos com dois gols de Ronaldo e se tornou pentacampeão. “Hoje, o Klose passou o Ronaldo em número de gols”, comemorou Thiago. 

No Restaurante Haus München, Fabiana Villani, Vitor Isidoro e Márcio Godoi se passavam por legítimos germânicos. “Desde 2002 torço para a Alemanha”, contou Vitor, que conseguiu “converter” os amigos. “Cheguei a ir para a porta do hotel da Seleção Alemã e tentar uma reserva para me hospedar lá, mas não consegui”, lamentou.

 

 

Surpresa e revolta
Maior palco de confraternização de torcedores em BH, Savassi viu o sonho do hexa ruir em poucos minutos, quando a festa foi engolida pela decepção e pela violência

Queima da bandeira depois do quinto gol da Alemanha, ainda no primeiro tempo, deu início a tumulto e confronto generalizado entre torcedores e policiais militares


Maior ponto de concentração de torcedores na Copa do Mundo, com 35 mil pessoas em dias de jogo do Brasil, a Savassi foi do céu ao inferno ontem. O clima de grande alegria em verde e amarelo do início do dia foi cedendo lugar à apreensão e por fim, à perplexidade de milhares de torcedores em meio a tumulto e prisões.

O primeiro tempo nem tinha acabado quando o casal de aposentados Francisco Lanna, de 76 anos, e Maria Lanna, de 66 anos, recolheu o banquinho de plástico que tinha levado para a Savassi. Assim como a grande maioria dos torcedores brasileiros, eles estavam atônitos com o que acontecia com a Seleção comandada por Felipão. “A defesa falhou, o Júlio César também. Mesmo se o Neymar jogasse, não ia fazer a menor diferença”, tentou explicar Francisco. Maria não quis continuar assistindo ao jogo e por isso fez questão de voltar para casa. “Se forpara sofrer, que a gente sofra em casa, pelo menos. O sorriso agora fica amarelo, mas de constrangimento”, declarou.

O estudante Felipe de Moraes, de 19 anos, também não aguentou ver o vexame e lamentou principalmente pela bela festa que os brasileiros estavam fazendo. “Eu estava participando de tudo, na Savassi ou na Fan Fest. E acabar assim, nessa goleada inexplicável. O jeito é beber para afogar as mágoas”, justificou.

Quem também reclamou da derrota foram os ambulantes. Como muita gente acabou indo embora já aos 30 minutos da partida, quando estava 5 a 0 para a Alemanha, o movimento chegou a diminuir e alguns vendedores até fizeram promoção para atrair a clientela. “Eu costumava vender o latão por R$ 5 e agora estou fazendo três por R$ 10. Não tem muito clima para festa”, comentou José Feliciano dos Santos.

A colega Maria Ferraz, que foi para a Savassi todos os dias de jogos, disse que normalmente vende 20 caixas de cerveja e que a expectativa para ontem era de apenas nove caixas. 

ESTRANGEIROS
 DECEPCIONADOS


Até os estrangeiros ficaram decepcionados com a derrota brasileira. As amigas australianas Darci Morton, de 16, e Samara Ralston, de 17, que fazem intercâmbio em uma escola em Sete Lagoas aproveitaram praticamente todos os dias na Savassi e confessam que apesar de estarem acompanhando o Mundial, não ligam muito para futebol. “Na Austrália, o esporte não é muito popular e só agora que estamos no Brasil é que a gente começou a gostar um pouco mais. Mas as festas por conta da Copa são bem mais legais que os jogos”, disse Samara. 
Já Darci, que torcia muito pelo Brasil, revelou estar preocupada em saber se a eliminação comprometeria os eventos. “Os brasileiros são muito animados, acolhedores, então tomara que no fim de semana a gente consiga aproveitar do mesmo jeito”, frisou.

Já os argentinos Martin Torres, de 31 anos, e Luciano Ali, de 33, vieram de Buenos Aires em uma caravana de 50 amigos em um Bar Móvel e estavam ansiosos por uma final  Brasil x Argentina. Os dois já rodaram várias cidades brasileiras atrás de Messi e cia. e pararam em BH para tentar ir ao Mineirão e tentar comprar ingressos para a final no Maracanã. 

“Como não conseguimos entradas para Brasil x Alemanha, vamos aproveitar a festa na Savassi. Já estivemos aqui no jogo da Argentina contra o Irã e foi bem legal. Tem muita gente bonita e o povo é festeiro”, analisou Martin. Com a derrota brasileira, Luciano que estava com uma placa à procura de entradas para o último jogo da Copa do Mundo, acreditava que seria mais fácil conseguir uma entrada agora. “Era a final sonhada por todos. Mas como o Brasil perdeu, acho que muita gente vai desanimar. Pelo menos, nós estaremos lá”, declarou confiante.

 

A festa dos torcedores brasileiros durou até o início do jogo, virou incredulidade de repente e terminou em decepção. No fim, quem comemorou foi a torcida alemã

 

Um dia turbulento
Saguão do aeroporto de Confins ficou lotado de passageiros que vieram para o jogo e foram embora atônitos com a derrota.
Na Pampulha, movimento aumentou 60%


Passageiros pararam para assistir à partida

Olhares perplexos, mão na boca em sinal de espanto e o amargo sabor da derrota descendo pela garganta. A vitória da Alemanha sobre o Brasil deixou atônitos os passageiros em trânsito ou que embarcaram, na noite de ontem, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

“Foi uma decepção, uma vergonha nacional”, lamentou o gaúcho Gilmar Sossella, que estava no Mineirão desde o início da partida e decidiu sair quando o placar já estava 5 a 0 para o país europeu. “Inacreditável”, acrescentou a mulher Melania. Gilmar disse que sabia muito bem que a partida seria difícil, mas que não chegaria a esse ponto. Na opinião dele, será necessário uma reformulação na Seleção Brasileira “começando por cima”. Ele explicou que a Alemanha fez essa reforma na década passada e criou uma nova geração de jogadores de futebol. “Deu tão certo que o resultado está aí”, disse Gilmar.

Para o advogado norte-americano Robert Willoughby, que seguia com a mulher Helisângela para São Francisco, na Califórnia, o resultado do jogo foi decorrente da desestabilização do time brasileiro. Mineiro de Montes Claros, Marcos Damasceno Freire estava no voo procedente de Fortaleza quando o piloto falou do resultado de 7 a 1. “Não acreditei. Agora vou viajar para a minha cidade muito chateado.”

Entre os passageiros que assistiam ao jogo no telão do aeroporto, um torcedor se destacava por estar com o boné da Alemanha. Era o arquiteto venezuelano Juan Pablo Gross, descendente de alemães. “Estou feliz e vou torcer ainda muito pela Alemanha.” Já o casal Isaías Martins e Maria de Lourdes Alcântara Pereira, de Governador Valadares, no Leste de Minas, não perde a esperança. Os dois estavam com uma camisa onde se liam os anos em que o Brasil foi campeão da Copa (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002). “Deixamos as reticências depois de 2002, pois nunca se sabe”, disse Isaías.

Com a camisa da Alemanha, os empresários Gunter Kuhstein, de 54, e Andreas Tragner, de 30, estavam felizes e surpresos com a goleada. “Achei que o placar fosse de no máximo 2 a 0 para a Alemanha; 7 a 1 eu nunca imaginei”, disse Gunter, que seguiu para Salvador (BA) e estará na final no Maracanã, no domingo.

MOVIMENTO De manhã e início da tarde, os aeroportos da Pampulha e de Confins foram de chegadas, partidas e muito movimento. Eram torcedores querendo chegar a Belo Horizonte para torcer. Desembarcavam e seguiam direto para o Mineirão. Na Pampulha, bem perto do estádio, aviões particulares de empresários, artistas e autoridades disputaram espaço para pousar. Nos corredores, passageiros e funcionários contaram ter visto até o presidente do país africano Gabão desembarcando. Segundo a Infraero, houve um aumento de 60% de voos executivos ontem. As empresas tiveram que recusar atendimentos de última hora.

“O Aeroporto da Pampulha já foi um dos 10 maiores do Brasil em movimentação de voos executivos”, comentou o supervisor da Infraero, Nerivaldo Gomes. O órgão não informou a quantidade exata de aeronaves particulares recebidas, a maioria de origem estrangeira, mas estima-se que tenham sido mais de 100. Thiago Nacif Kasbergen é gerente de uma das empresas e disse que nunca viu tantas aeronaves particulares no aeroporto. Foram 27 de várias partes do Brasil ontem, incluindo seis helicópteros. Em dias normais, o número não passa de 15. Chamou a atenção a vinda de dois aviões da Inglaterra, uma delas o jato Falcon 7X, um dos maiores modelos de aviação executiva. Diante de tantos pedidos, alguns recusados, Thiago direcionou dois voos para o Aeroporto Carlos Prates. 

Outra empresa teve que dispensar atendimento a 17 aeronaves. O hangar atingiu a capacidade máxima com voos programados desde anteontem, assim como ocorreu nos outros dias de jogos do Brasil em Belo Horizonte. No total, foram 33 pousos. “Isso é o que faturo em todo o mês”, comemorou o coordenador de operações Guilherme Rodrigues Abrantes. Os aviões saíram lotados principalmente de São Paulo, Rio de Janeiro, interior de Minas e Nordeste, e 70% deles retornaram ontem mesmo.

Em Confins, além dos voos internacionais, aviões chegavam do Rio de Janeiro, Guarulhos, Goiânia, Rio de Janeiro e Curitiba, entre outras origens, trazendo, em sua maioria, torcedores do Brasil. É o caso dos engenheiros Lívia Fuentes, de 29 anos, e Leonardo Furtado, de 31, que se tornaram verdadeiros nômades para acompanhar todos os jogos do Brasil na Copa. O casal de São Paulo já foi a Brasília, Fortaleza, Recife, Porto Alegre e Salvador. “Nós somos pés quentes, vamos trazer a Copa”, brincava Leonardo antes do jogo.

 

 

FONTE: Estado de Minas.


O menino e o homem

Fernando Sabino, que hoje faria 90 anos, marcou um encontro definitivo com a literatura brasileira contemporânea. Sua obra está viva e seu estilo ajudou a consagrar a crônica como gênero nacional

Fernando Sabino, que hoje faria 90 anos (Arquivo EM)
Fernando Sabino, que hoje faria 90 anos

Fernando Sabino completaria hoje 90 anos. Uma idade e tanto para quem tinha como projeto de vida ser um menino e morreu, na véspera do Dia das Crianças, há nove anos. Sua obra é hoje um patrimônio da cultura brasileira, mas é sobretudo uma experiência de vida para milhões de pessoas. Poucos escritores partilharam com o público a sensação de amizade, de conversa entre iguais, de ler como quem divide um segredo. E ele sabia usar essa gentileza de muitas formas: pela aproximação ao mistério da vida que brota do banal, pela confissão de seus descaminhos de alma de forma sempre corajosa, ou, mais profundamente, como no romance O encontro marcado, mergulhando na difícil experiência humana do amadurecimento.

O escritor belo-horizontino começou cedo na literatura, tendo publicado o primeiro livro, Os grilos não cantam mais, aos 18 anos. O estreante recebe então carta elogiosa de Mário de Andrade, que passa a orientá-lo em correspondência depois reunida no livro Cartas a um jovem escritor, editado em 1982. Fernando assumiu ainda muito jovem responsabilidades convencionais, casou-se e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1944. De certa forma, parece ter pulado etapas, o que explicaria essa ambição lírica permanente pela recuperação da infância. Neste caminho, a publicação de O encontro marcado ganha significação única em sua obra. Foi seu livro mais lido, passa das 100 edições, e é a mais realizada artisticamente de suas obras.

Sabino elaborou um retrato ao mesmo tempo intenso da angústia jovem e dos costumes de uma sociedade fechada. O tema é um clássico e sua realização ainda insuperada na literatura brasileira. Pode-se compará-lo com outros romances estrangeiros, como O apanhador no campo de centeio, do norte-americano J. D. Salinger. Mas Sabino é mais maduro e profundo. Salinger, embora encante na linguagem e na evocação da fragilidade da juventude de maneira quase sublime, foge do sexo e deixa parte da vida de fora. Nosso romancista não cometeu com os jovens brasileiros descortesia de lhes recusar as demandas do corpo. O livro se abriria a leituras psicanalíticas, políticas e teológicas, sem se esgotar em nenhuma delas.

Romance de geração. Esta tem sido a definição mais presente quando se fala de O encontro marcado. É certo que o romance apresenta a atmosfera moral de uma época bem marcada pelas referências de tempo e espaço. No entanto, com seu peso autobiográfico, é livro igualmente forte na psicologia e no sentimento. Essa ambiguidade entre razão e emoção – talvez a melhor definição do momento de transição da vida em direção ao amadurecimento – explica a continuada identificação com os leitores jovens de outros tempos. Há uma experiência definitiva em literatura: a releitura. Quem busca, tempos depois, O encontro marcado certamente será capaz de sentir a vitalidade do romance. Ele permanece em contato com a alma jovem e angustiada que muita gente teima em soterrar com os valores da indiferença.

O romance foi lançado em 1956, o mesmo ano de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e de A maçã no escuro, de Clarice Lispector (que, no entanto, seria publicado alguns anos depois). Juntos, os três configurariam o triângulo da literatura brasileira do período, abrindo flancos em direção à literatura urbana, à pesquisa psicológica e à saga metafísico-regional, em seus momentos de melhor e mais madura realização. O encontro marcado acabou por se tornar tão gigantesco que se firmou como a obra máxima na bibliografia de Sabino.

A forma de superar esse maciço literário, que poderia paralisar seu autor, se deu por meio da multiplicação de formas literárias e interesses humanos e artísticos. O escritor ensaiou trabalhos no cinema, fundou a produtora Bem-Te-Vi, dividiu a carreira de empresário com Rubem Braga nas editoras do Autor e Sabiá, escreveu livros de viagens, uma série de pequenos perfis e se dedicou ao jazz, uma de suas paixões, como baterista amador. Para testar seus instrumentos, publicou versão romanceada do evangelho “segundo o humor de Jesus”, Com a graça de Deus, e uma variação literária para Dom Casmurro, de Machado de Assis, Amor de Capitu.

Da intensidade metafísica, Sabino passaria para a literatura de entretenimento. Sempre com um estilo sofisticado e simples (receita que apenas ele e Rubem Braga pareciam conhecer), ajudou a firmar a crônica como um gênero literário tipicamente nacional. Escreveu centenas de textos para jornais, entre eles o Estado de Minas, que reunidos em livro se tornariam clássicos, como O homem nu e A inglesa deslumbrada. Seu segundo romance, O grande mentecapto, que lhe custou mais de 30 anos de elaboração, se nutre em parte do humor dos escritos de circunstância, mas temperados com a sabedoria do tempo, na melhor tradição da literatura picaresca. Em 1982 lança o romance de reminiscências da infância, O menino no espelho. Seu quarto romance, Os movimentos simulados, trabalho de juventude, só seria publicado no ano de sua morte, em 2004.

Paixão correspondida

Diretor de curtas-metragens sobre escritores, Fernando Sabino sempre esteve ligado ao cinema e ao teatro e viu algumas de suas histórias levadas para as telas e os palcos

O grande mentecapto, de Oswaldo Caldeira, com Diogo Vilela e Luiz Fernando Guimarães (Arquivo/ EM<br />
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O grande mentecapto, de Oswaldo Caldeira, com Diogo Vilela e Luiz Fernando Guimarães

É com um trecho do poema ‘‘Prece de mineiro no Rio’’, lida pelo próprio Carlos Drummond de Andrade, que tem início o curta-metragem O fazendeiro do ar. Em 1972, Fernando Sabino funda, com o cineasta David Neves, a produtora Bem-te-vi. A partir daquele ano, a dupla realiza 10 curtas sobre importantes escritores brasileiros: João Guimarães Rosa, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Erico Verissimo, José Américo de Almeida, Afonso Arinos, Pedro Nava, Manuel Bandeira, além de Drummond. Os filmes foram lançados em DVD em 2006 e também estão disponíveis no YouTube.

Um dos registros mais interessantes é justamente o de Drummond. O poeta pouco fala, mas as imagens fogem de sua sisudez habitual. Uma das mais curiosas o mostra brincando de esconde-esconde no antigo Ministério da Educação, onde trabalhou como chefe de gabinete de Gustavo Capanema. “A forma escrita me causou impressão antes mesmo de saber ler”, afirma o poeta, em conversa filmada em seu gabinete.

Mas o cinema já fazia parte da vida de Sabino há muito. E não só através das adaptações cinematográficas de suas obras, algumas bem conhecidas do público. Em 1967 ele fez uma pequena participação no filme Garota de Ipanema, obra quase obscura da filmografia de Leon Hirzsman. Na narrativa, Márcia é uma garota como as muitas que povoavam o Bairro de Ipanema na década de 1960. Gostava de bossa nova e estudava na PUC. Apesar de ter namorado, não se furta a dar uma paquerada em Chico Buarque. Aliás, muitos dos nomes do elenco aparecem como eles próprios: Sabino “atua” ao lado de Rubem Braga, Ziraldo e Vinicius de Moraes, que também participou do roteiro coletivo.

No entanto, foi na década de 1980 que vieram as adaptações mais importantes de sua obra. Em um ano só, 1989, foram lançados dois filmes: Faca de dois gumes, de Murilo Salles, e O grande mentecapto, de Oswaldo Caldeira. O primeiro ganhou quatro Kikitos em Gramado, incluindo o de direção. Já o segundo levou o prêmio de público do festival gaúcho. “É o filme que mais me deu gratificação”, admite hoje Caldeira, no entanto se lembrando que comercialmente ele foi prejudicado. “Ele foi exibido na época que a Embrafilme tinha acabado, então se perdeu o controle de tudo.”

Como Sabino um mineiro radicado no Rio de Janeiro, Caldeira não conhecia o escritor e cronista pessoalmente quando lhe propôs a adaptação da história de Viramundo. “A gente se entendeu com muita facilidade. Ele me perguntou se eu queria que ele vendesse os direitos ou que participasse. Disse que queria que ele estive conosco. Contratei um roteirista, Alfredo Oroz, e eu falava muito de um para o outro. Sem se conhecerem, tinham ciúme e um certo estranhamento. Mas, depois que foram apresentados, se entenderam às mil maravilhas. E o Fernando somou muito ao processo”, continua o cineasta.

Depois desse dois longas, houve outro, já no final dos anos 1990. Dirigido por Hugo Carvana, O homem nu interpretado por Cláudio Marzo foi a segunda adaptação do conto publicado por Sabino em 1960. A primeira versão, também em formato de longa, foi dirigida em 1968 por Roberto Santos. Paulo José interpretou Sílvio Proença, o homem que devia prestação da TV e acabou passando por tarado ao ficar sem roupa no prédio em que morava.

Em 2014 chegará aos cinemas nova adaptação de um livro de Sabino. O menino no espelho, de Guilherme Fiúza, com estreia prevista para o primeiro semestre, vai levar para a tela grande a mágica história de Fernando e seu duplo, Odnanref. O livro, que reúne várias passagens da infância de Sabino, foi publicado em 1982. “As histórias são quase contos, e a que guia a narrativa é a que dá título ao livro, a de um garoto que leva para a vida o seu reflexo no espelho”, afirma o produtor André Carreira, que divide o roteiro com Fiúza e Cristiano Abud. “Nosso personagem tem 11 anos, então descartamos os contos mais infantis. Escolher quais seriam foi a decisão mais difícil”, acrescenta.

No palco

Por falar em dificuldade, o diretor Paulo César Bicalho, mesmo passadas três décadas, lembra muito bem quão complicado foi levar para o teatro a obra maior de Sabino, o romance O encontro marcado (1956). Estreou em 1982 e foi encenado por mais de um ano, ganhando apresentações também em Brasília, Rio e São Paulo. “É uma espécie de bíblia para todos daquela época. Era um livro que a gente lia apaixonadamente e, quando surgiu a possibilidade de fazer a peça, entrei em pânico. Como faria a adaptação daquele romance maravilhoso, em que tudo me parecia importante?”, relembra Bicalho.

Na primeira carta que enviou a Sabino pedindo autorização, disse que “o livro é, ao mesmo tempo, a história e o produto de uma geração que desejava desempenhar o papel de escritor!”. Bicalho admite que a primeira versão, feita às pressas, era quase o livro inteiro. “No primeiro momento, não havia critério. Mandei o texto pro Sabino morrendo de medo. Ele me disse: ‘Isso é uma compilação’. Disse que ele tinha razão e peguei um tempo maior para pensar no espetáculo. Aí, já pensando no teatro, mandei nova adaptação para ele. Ainda ficou insatisfeito, mas a mulher dele tinha gostado muito, então ele me disse que deixava por minha conta. ‘Teatro sei muito pouco. Se fosse cinema eu poderia dar palpite, mas teatro é uma coisa que vou como espectador.’”

Fato é que O encontro marcado, que tinha um elenco de 17 atores – como Arildo de Barros, Bernardo Mata Machado, João Etienne Filho e Lúcia Schettino – fez história, alcançando 60 mil espectadores. A primeira versão teve quase três horas de duração, depois enxugada para quase duas. “Na estreia, o Fernando estava com toda a turma dele. Foi quase um acontecimento, no final o público aplaudindo à beça, as palmas mais longas que já vi no teatro. Eu tentando levar o Fernando para o palco e ele não querendo ir. Depois ele disse que a história tinha ficado melhor no palco do que no livro. Pensei: ‘O Fernando enlouqueceu?’”, finaliza o diretor.

FERNANDO EM IMAGENS
Mostras no Circuito Cultural Praça da Liberdade homenageiam os 90 anos de Fernando Sabino.

O menino do espelho, filmado em Cataguases, estreia no ano que vem</p>
<p> (GUSTAVO BAXTER/divulgação)
O menino do espelho, filmado em Cataguases, estreia no ano que vem

No Centro Cultural Banco do Brasil, Praça da Liberdade (foto), a exposição é composta por imagens e textos da obra do escritor, além de tótens interativos com detalhes de diversas fases de sua carreira em áreas como cinema, música, teatro e jornalismo. A mostra pode ser vista de quarta a segunda-feira, das 9h às 21h. Até 4 de novembro.

No anexo Professor Francisco Iglesias da Biblioteca Pública Estadual, está em cartaz a exposição Nada além do essencial, com painéis sobre a obra do escritor. Na Rua da Bahia, 1.889, 2º andar, Funcionários. De segunda a sexta, das 8h às 20h; sábado, das 8h às 12h. Até 29 de novembro.

Também na região da Praça da Liberdade estão expostas as esculturas em tamanho original do quarteto formado por Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino, criadas pelo artista Leo Santana. O conjunto foi batizado de Encontro marcado.

Cavaleiro do futuro

Obra de Fernando Sabino conquista leitores entre os jovens e ganha novos olhares na academia. Lançado em 1956, o romance O encontro marcado dialoga com o século 21

Leonardo Magalhães ao lado das estátuas dos cavaleiros do apocalipse, na Biblioteca Pública Estadual, em BH<br />
 (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 15/7/13)
Leonardo Magalhães ao lado das estátuas dos cavaleiros do apocalipse, na Biblioteca Pública Estadual, em BH

ove anos depois da morte de Fernando Sabino, a obra do quarto cavaleiro do apocalipse (os outros três eram Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino) continua despertando o interesse de leitores e da academia. O poeta e professor de literatura Fabrício Marques, por exemplo, está concluindo o livro de ensaios Cartógrafos da vertigem, que começa justamente falando sobre o autor de O encontro marcado. Para ele, Sabino é um dos escritores mais importantes da sua geração.

“Meu livro começa com Fernando porque escolhi falar de BH a partir de alguns momentos importantes, como a inauguração do complexo arquitetônico da Pampulha no período que se convencionou chamar de modernidade tardia, que coincide com a saída dele da cidade”, revela.

Marques lembra que o autor belo-horizontino gostava de prosear sobre bares e locais da cidade. Em 2004, em visita a BH, Fernando Sabino traçou um roteiro. Ele foi à Savassi, à Praça da Liberdade, entrou na Rua da Bahia e, na altura da Academia Mineira de Letras, encontrou-se com o memorialista José Bento Teixeira de Salles. O amigo perguntou-lhe o que fazia ali. “Estou refazendo o caminho da saudade”, respondeu, dois meses antes de morrer.

Letícia Malard sempre se interessou pela obra de Fernando Sabino, de quem foi amiga. Publicou vários artigos sobre a obra dele em jornais e revistas. A professora emérita de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) destaca o escritor por vocação e ofício, com tendência para o jornalismo. “Esse cruzamento o fez produzir obra diversificada e com trânsito por várias espécies literárias: conto, novela, romance, crônica, relato de viagem, dicionário e literatura infantil, entre outros gêneros. Sua escrita dinâmica, descomplicada, fluente e engraçada, por tais características, é capaz de seduzir os mais diversos tipos de leitor”, garante.

BH-RIO

Letícia Malard elege O encontro marcado como o livro mais importante de Sabino. A história, que se passa em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, conta a trajetória de um homem em busca de sua identidade. “A mensagem é cristã, ao narrar as dúvidas religiosas de um jovem, suas angústias, sua filosofia de vida e, sobretudo, a luta entre o bem e o mal”, diz. A professora lembra que se trata de um romance à clef, ou seja, as personagens são calcadas em amigos do autor e nele próprio. “Sabino recria o mundo dos meninos intelectuais numa Belo Horizonte lírica e tranquila, que se preparava para receber os ventos da modernidade”, afirma.

O mineiro foi um virtuose da crônica. Sabino é imbatível nesse gênero, acredita Letícia, citando os livros A mulher do vizinho e O homem nu. “Ele sabia como contar uma história – verdadeira ou inventada, pouco importa – de modo a levar o leitor a entrar nela até mesmo como personagem, entrar para valer na leitura simples sem ser simplória, mergulhar nas águas da criatividade tal como ele mergulhou na piscina do Minas Tênis Clube, como campeão de natação que foi”, diz a professora.

O encontro marcado é o livro mais importante do autor mineiro, concordam Letícia, o jornalista Humberto Werneck e Wander Melo Miranda, professor de literatura comparada da UFMG. O livro foi lançado em 1956, quando ele tinha 33 anos. “É um romance de geração de alto nível artístico e intelectual, na linha de O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, para ficarmos apenas no contexto mineiro”, compara Wander.

Para ele, a obra de Fernando é fundamental para entender a literatura brasileira da segunda metade do século 20. “Em sua escrita se cruzam o lirismo do poeta e a concisão do jornalista, abrindo caminho para uma dicção efetivamente nova na prosa brasileira”, conclui.

entrevista

HUMBERTO WERNECK – ESCRITOR

O mestre da narrativa

 (Lilo Clareto/divulgação<br />
)

Qual é o lugar de Fernando Sabino na literatura brasileira?

O de mestre da narrativa. Poucos como ele foram capazes de resolver uma história com tão poucas e exatas palavras. O estilo econômico e veloz do romance O encontro marcado, cheio de cortes e elipses, influenciou e segue influenciando gerações – não apenas de ficcionistas, mas também de jornalistas.

A obra de Sabino tem recebido a atenção merecida por parte da crítica e da academia? Ou já começa a ser relegada ao limbo, como costuma ocorrer anos depois da morte de um autor?

Não é raro que a obra de um escritor, após a sua morte, atravesse uma hibernação, um tempo de relativo esquecimento. Foi assim até mesmo com Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. Ao cabo desse parêntese temporal, o que é de qualidade volta à tona, para ficar. Sinto que isso começa a acontecer com a obra de Fernando Sabino, nove anos depois de sua morte. Seus livros de crônicas, a começar pelo clássico O homem nu, estão sendo descobertos pelas novas gerações, assim como O encontro marcado, que, 57 anos passados de seu lançamento, caminha para a marca raríssima de 100 edições.

O que Sabino significa para a literatura mineira?

Os anos que se passaram depois da morte de Fernando Sabino, o último dos quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse, como disse Otto Lara Resende, permitem enxergar com mais nitidez todo esse famoso grupo de talentosos escritores e sua admirável amizade de vida inteira. Sabino me parece hoje como aquele que, dos quatro, foi o mais fiel à paixão adolescente pela literatura, missão que soube manter no centro da sua vida. Teve várias outras atividades, entre elas as de editor de livros e documentarista, mas nunca deixou de dar primazia a sua obra literária. O menino que publicou o primeiro conto aos 12 anos continuava vivo no velho de 80, que, já bem doente, apenas cinco meses antes de morrer, ainda arrematava e lançava mais um livro, o romance Os movimentos simulados.

Amigo é para essas coisas
O escritor belo-horizontino levou para sua vida pessoal a mesma inquietação ética que anima sua literatura, construindo ao lado dos companheiros de juventude uma das mais belas histórias de amizade do seu tempo

Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos: amizade como forma de poesia</p>
<p> (Arquivo/ EM)
Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos: amizade como forma de poesia

Fernando Sabino foi sempre um homem solar, que gostava dos amigos, das viagens, dos prazeres. Muito do que escreveu teve essa marca do compartilhamento. Paulo Mendes Campos chegou a dizer dele que era um “Kafka de eletricidade positiva”, dado a profundezas, mas com capacidade de transformar o absurdo da existência em experiência do dia a dia, em retirar lições de vida de pessoas comuns e episódios corriqueiros. Um colecionador de acasos significativos e inusitados. A imagem de um homem falante, bem-humorado, sempre forte e de bem com a vida parece se contrastar com a figura do último Fernando Sabino, reservado, recolhido em seu apartamento da Rua Canning, em Ipanema. Nos anos finais de vida, ele resgatou em três livros um pouco dessa inclinação de alma.

Como quem prepara seus papéis para pôr ordem na casa, em 2001 ele publicou Livro aberto, um acerto de contas com a memória presente em sua obra; Cartas perto do coração, com a correspondência com Clarice Lispector; e, em 2004, Os movimentos simulados. Ele autoironizava a atitude como se preparasse sua “obra póstuma antecipada”. Cada um desses livros deixava escapar certo uso da memória. Em Livro aberto, uma seleção pessoal de textos retirados da própria obra, Fernando selecionou o que queria deixar de si mesmo. Em mais de 600 páginas não se sente nunca o excesso, mas a síntese de um jeito de viver. O tempo e as agruras da vida, contudo, deixaram suas marcas na supressão de algumas passagens em que se referia à mulher, Lygia Marina. Para quem fez da vida um livro aberto de verdade, a marca da dor pode ter a forma do silêncio.

Em Cartas perto do coração o escritor recupera a correspondência com Clarice Lispector, num momento em que os dois, ainda jovens, buscavam o rumo na vida e na arte. Retomar na memória a presença de Clarice, para o maduro Sabino, é nítido esforço para reviver antigas sensações. Já com Os movimentos simulados o gesto de regressão é ainda mais radical. O livro estava preservado numa caixa, com as folhas datilografadas atadas por uma fita. O presente do passado vinha embalado por uma vitalidade e frescura da qual só são capazes os jovens. O amor corria solto. Há um momento, quando os velhos se sentem crianças, que o compromisso com a literatura e com a vida são a mesma coisa.

Mas a sensação de melancolia que brotava de Fernando Sabino em seus últimos anos teve também a marca dos homens e de suas pequenas ruindades. Alguns anos antes, em 1991, ele havia lançado o romance Zélia, uma paixão, que tinha como personagem central a ex-ministra do governo Collor Zélia Cardoso de Mello. O livro lhe rendeu críticas, inimizades e execrações. O escritor foi acusado de querer, entre outras coisas, ganhar dinheiro com sensacionalismo fácil. Anos depois seria revelado que toda a renda do livro havia sido doada em cartório a instituições de caridade. O livro, mais repudiado que lido, julgado antes pela paixão política que pelo juízo literário, afastou o escritor do mundo. Daquele momento em diante, como quem fecha uma porta, Fernando Sabino deixou de querer ser moderno para ser eterno. Sem os amigos da vida toda, passou a cuidar da própria posteridade.

Há a obra da literatura e a criação da existência. Muitos escrevem romances, mas poucos ampliam a emoção de viver no cotidiano. Ao lado de Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende, Fernando Sabino construiu uma das mais belas realizações humanas do Brasil no século passado. Amigos desde a adolescência na provinciana Belo Horizonte dos anos 1940, eles atravessariam o século com um afeto nutrido nas diferenças políticas e estéticas. Hélio era o fogo da transformação; Otto, o equilíbrio angustiado entre o catolicismo rígido e o ceticismo desencantado; e Paulo o lírico desbragado. Fernando, perto deste trio de pessoas intensas e extraordinárias, era o mais cordial e aparentemente simples.

Em meio a tantas convocações da vida e da arte, teve tempo até mesmo para ser campeão de natação, se vangloriando do recorde de 400 metros em nado de costas (a prova seria extinta e ninguém mais tiraria o título do nadador). Por isso sua retirada da cena pública foi tão significativa e sua pesquisa do passado nos últimos anos de vida tão impregnada de sentido. Depois de perder os amigos, a confiança e a gratidão que lhe era devida por várias gerações que amadureceram lendo O encontro marcado, preferiu acertar as contas com a própria alma.

Aos 90 anos, mesmo distante, ele conquistou o direito de ser menino de novo. Fernando Sabino é um dos nossos melhores amigos de infância com quem, por um desses equívocos do tempo, não tivemos a graça de conviver.

FONTE: Estado de Minas.

Nova fórmula para levar à mesa

Pirâmide alimentar é redesenhada com o objetivo de melhorar a qualidade da dieta dos brasileiros. Nutrólogo mineiro, Enio Cardillo Vieira questiona valor dado ao feijão, que deveria estar na base

Nutrólogo Enio Cardillo alerta para consumo excessivo de batata e carne  (Beto Novaes/EM/D.A Press )
Nutrólogo Enio Cardillo alerta para consumo excessivo de batata e carne

Arroz, feijão, carne e salada. O prato presente na mesa de milhões de brasileiros é alardeado por especialistas há anos como uma combinação das mais saudáveis à mesa. Mas esse cardápio tem mudado, e para pior. A população está obesa, ainda que não seja responsabilidade só do que se consome (incluem-se aí o sedentarismo, o estilo de vida, o hábito alimentar e a atividade física), e o fast food assume importância indesejável.

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No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, em 2010,  dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008/2009) indicando que o peso dos brasileiros aumentou nos últimos anos, devido à alimentação inadequada.
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O excesso de peso em homens adultos saltou de 18,5% para 50,1% – ou seja, metade dos homens já estava acima do peso – e ultrapassou o excesso em mulheres, que foi de 28,7% para 48%.  Para resgatar a importância da boa alimentação e na tentativa de aproximar a informação, a pirâmide alimentar adaptada à população brasileira publicada em 1999 foi redesenhada para o modelo atual com 2.000 quilocalorias (kcal), atendendo a recomendação energética média diária para o brasileiro estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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Assim, no desenho atual, os alimentos estão distribuídos em oito grupos e em quatro níveis, de acordo com o nutriente que mais se destaca na sua composição. Para cada grupo são estabelecidos valores energéticos, fixados em função da dieta e das quantidades dos alimentos, permitindo estabelecer os equivalentes em energia (kcal). Outra orientação é o planejamento das refeições conforme os grupos de alimentos. A alimentação deve ser composta por quatro a seis refeições diárias, distribuídas em três principais (café da manhã, almoço, jantar), com 15% a 35% das recomendações diárias de energia, e em até três lanches intermediários (manhã, tarde e noite), com 5% a 15% das recomendações diárias de energia.

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A pirâmide alimentar foi redesenhada com o objetivo de melhorar a qualidade da dieta dos brasileiros, já que ela é o instrumento mais usado no país para nortear qualitativa e quantitativamente o padrão alimentar da população. A pesquisadora Sonia Tucunduva Philippi, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, elaborou e publicou o primeiro trabalho sobre essa pirâmide adaptada e colaborou com o Ministério da Saúde no desenvolvimento do Guia alimentar brasileiro com os cálculos do número de porções e valor energético médio de cada uma delas, para todos os grupos alimentares e para uma dieta de 2.000 kcal. O trabalho foi apresentado no V Congresso Brasileiro de Nutrição Integrada (CBNI). “A refeição é um momento de prazer e as boas escolhas alimentares devem ser levadas em conta. Não basta falar, é preciso orientar, auxiliar e levar a informação para a população.”

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REGIONAL VALORIZADO

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Sonia Philippi explica que nessa mudança a preocupação foi destacar os alimentos integrais e regionais. A proposta é que sejam mais  aproveitados. “Como o hábito regional não muda rapidamente, o esforço é resgatar o bom hábito alimentar. É preciso valorizá-lo a todo momento e, por isso, é interessante torná-lo mais próximo. Então, valoriza-se, por exemplo, as frutas do Nordeste, ou o maior consumo de leite, iogurte e queijo nas regiões que têm problema de cálcio entre seus habitantes. Ou sugere-se o consumo dos doces de Minas em menor quantidade”, explica.

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Na nova pirâmide podem-se valorizar alimentos como iogurte, leite e queijo, ricos na culinária mineira e fonte de cálcio. Segundo o Ministério da Saúde, o brasileiro deve ingerir diariamente três porções de lácteos ao dia para obter a recomendação diária desse nutriente. Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas mostram que, na faixa de 10 a 19 anos, 13,8% dos mineiros tinham o índice de massa corporal (IMC) acima do recomendado. Em 2012, eram 15,1%. No Brasil, de acordo com o último Vigitel – pesquisa do Ministério da Saúde feita por inquérito telefônico –, 21,7% dos meninos e 19% das meninas estavam acima do peso em 2008/2009.

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“Quanto mais capim comemos, melhor”

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Com experiência de sobra, o nutrólogo mineiro Enio Cardillo Vieira usa com seus pacientes a pirâmide alimentar do laboratório americano Mayo, um dos mais respeitados do mundo. Em relação à brasileira redesenhada, ele destaca a inversão do carboidrato (arroz, pão, massa, batata, mandioca) com as frutas e hortaliças (legumes e verduras). “Quanto mais capim comemos, melhor. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda cinco porções de uma combinação de frutas e hortaliças. E é importante saber que uma porção é um punho cerrado ou uma mão cheia. Uma laranja, uma maçã, uma mão cheia de couve. O que não se deve é abusar do produto animal. Mas a pirâmide brasileira está correta, não tem grande novidade, a não ser nos detalhes”, diz.

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Com o carboidrato na base da pirâmide brasileira, Cardillo lembra que é preciso ter cuidado com o consumo da batata. “Ela tem o índice glicêmico elevado porque a absorção da glicose é mais rápida que qualquer outro alimento. É contraindicada para quem tem diabetes. Walter Willett, da Universidade de Harvard, desenvolveu um estudo provando que grande parte da obesidade na população é pelo consumo em excesso da batata”, aponta.

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O médico gosta da ideia de regionalização, mas faz uma ressalva: “É importante e lúcido incentivar o consumo de cupuaçu e graviola no Amazonas ou do feijão-de-corda no Nordeste. Mas não se pode perder o óbvio de vista, que o espírito da pirâmide é atender o ser humano, que é um só”.

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Em acordo está o perigo da gordura, que precisa ser consumida cada vez menos. Ela é o maior vilão da alimentação. “Os alimentos que mais contribuem com as calorias são carboidratos, carnes e laticínios, além dos doces e do óleo. A gordura é a mais calórica, tem 9 calorias por grama. Deve ser evitada. É epidemiológica por acarretar alto índice de obesidade”, alerta Cardillo.

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SUBSIDIAR

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Apesar de achar a pirâmide alimentar brasileira sensata, o nutrólogo discorda de um ponto importante. “O feijão no terceiro andar tinha de estar na base. Cereais como arroz, centeio e trigo têm deficiência de aminoácido essencial ao organismo e que precisa ser obtido da dieta. As leguminosas, como feijão, ervilha, lentilha, são ricas em lisina. Portanto, arroz com feijão é a complementação perfeita, um ajuda o outro”.

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Ele reforça que essa combinação, consagrada no Brasil, tem sua versão espalhada pelo mundo. “No México e na América Central é o milho com feijão. Na África, lentilha mais o sorgo. Em determinados países árabes, o trigo mais o grão de bico. No extremo Oriente, o arroz se junta à soja. Essa mistura é das mais saudáveis. Inclusive, o professor Dutra Oliveira, um pesquisador em nutrição, médico e professor aposentado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, autoridade máxima em nutrição no Brasil, propôs ao governo brasileiro subsidiar o arroz e o feijão. Os produtos ficariam mais baratos e o povo mais nutrido. Mas ninguém se interessou”, lamenta Cardillo.

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FONTES: Estado de Minas e Dieta e Saúde.


Portal da FAB já oferece dados sobre voos oficiais

FAB

As informações relativas aos voos em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) já estão disponíveis para consulta pública na internet. É necessário acessar o site da FAB (www.fab.mil.br), depois seguir para o item “acesso à informação” e, por fim, “registro de voos”.

No portal, o cidadão pode obter informações sobre os voos realizados em atendimento a autoridades, informa o Ministério da Defesa em nota à imprensa. Estão disponíveis dados referentes às autoridades apoiadas, trajetos, datas, horários de decolagem e pouso do voo, além do motivo da solicitação da aeronave, conforme previsto no Decreto nº 4.244, de 22 de maio de 2002. A página também veiculará o total de passageiros previstos para embarque nas aeronaves, com base na informação prestada pela autoridade solicitante do voo.

Na nota, o Ministério da Defesa informa que, por razões de segurança, as informações sobre os voos serão inseridas na página da FAB até as 18 horas do primeiro dia útil seguinte ao término da viagem. Nos casos em que a missão oficial for composta de mais de um trecho, a informação virá a público no primeiro dia útil após a conclusão do último trecho voado.

O arquivo disponível nesta segunda-feira informa as viagens concluídas entre os dias 12 e 14 de julho. Cita, por exemplo, entre as autoridades apoiadas em 13 de julho (sábado), o ministro do Desenvolvimento Agrário, com partida de Brasília rumo a Caxias do Sul (RS) e menciona como motivo “residência” e previsão de dois passageiros. Mostra, também, partida da ministra chefe da Casa Civil da Presidência da República de Brasília para Curitiba no sábado, 13, com motivo “residência”, e retorno ao DF no domingo, 14, com motivo “serviço”, além de previsão de seis passageiros em ambos os trechos. A tabela disponível cita, ainda, que “demais informações deverão ser solicitadas diretamente à autoridade apoiada”.

O Ministério da Defesa destaca que a medida atende ao disposto na Lei nº 12.527/12 (Lei de Acesso à Informação) e decorre dos entendimentos firmados no último dia 5 de julho entre os ministros da Defesa, Celso Amorim, e da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, com apoio do Comando da Aeronáutica.

FONTE: Estado de Minas.

FAB possui voos gratuitos para todos os cidadãos; saiba como usar

Avião de transporte modelo C-95A Bandeirante

  • Avião de transporte modelo C-95A Bandeirante

Não são só as principais autoridades políticas do país ou chefes militares que têm direito de voar em aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira). Qualquer cidadão civil também pode pleitear um lugar nos voos da Aeronáutica, sem custo nenhum, para todas as regiões do país, desde que haja vagas nas aeronaves.

A diferença é que, enquanto o vice-presidente da República, ministros de Estado, presidentes do Legislativo (Câmara e Senado) e do STF (Supremo Tribunal Federal), além dos comandantes das Forças Armadas, têm direito a utilizar as aeronaves para viagens exclusivas, desde que embarquem a trabalho e por motivo de segurança ou emergência médica, o cidadão comum só pode voar com a FAB em voos já programados.

Nos últimos dias, se tornaram públicos casos de autoridades que fizeram uso indevido de aviões da FAB, como o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves (PMDB).

No caso de passageiros comuns, a viagem é condicionada à disponibilidade de voos de transporte, o tipo de missão que a FAB irá cumprir e à existência de vagas livres nos aviões. Os voos não são regulares, portanto não têm datas, horários e destinos previamente definidos. Os modelos de aeronaves são diversos: o passageiro pode embarcar, por exemplo, no conforto de um jato C99, que costuma transportar autoridades, ou até em um turbo-hélice Bandeirante, com capacidade para cerca de 20 pessoas.

  • Avião de transporte da FAB modelo C99

Os interessados devem procurar o CAN (Correio Aéreo Nacional) de sua região, preencher uma ficha de inscrição, anexar cópias da identidade e do comprovante de residência e informar o trecho que deseja voar –menores devem ser inscritos pelos pais ou responsáveis legais. Após o cadastro, o CAN entra em contato com interessado quando houver voo confirmado para o trecho solicitado e vagas disponíveis.

Há trechos com viagens frequentes, sobretudo entre as principais capitais do país, mas, segundo o setor de comunicação da FAB, a principal demanda está na região Norte, por cidadãos que viagem para cidades situadas em áreas remotas e de difícil acesso, como São Gabriel da Cachoeira (AM), por exemplo. Também há muita procura na região do Pantanal.

A reportagem ligou para as 17 unidades do CAN, situadas em 14 Estados e no Distrito Federal. Os telefones foram indicados na página oficial da FAB para que os interessados possam obter informações. Na maior parte dos casos, não foi possível obter informações sobre voos. Em muitas unidades, o telefone informado não existe, a ligação não completa ou o número não pertence mais à FAB.

Em São Paulo, Campo Grande, Fortaleza, Canoas e Santa Maria (ambos no Rio Grande do Sul) foi possível obter informações sobre os voos previstos e orientações de como manifestar interesse.

Veja abaixo como foi o atendimento em cada unidade:

  • Campo Grande – não havia voos disponíveis; inscrições pessoalmente, de segunda a sexta, das 8h às 14h
  • Fortaleza – não havia voos disponíveis; inscrições pessoalmente, de segunda a sexta, das 8h às 14h
  • São Paulo – atendentes solicitaram o envio de um email para que encaminhassem a ficha de inscrição para os voos solicitados –havia voos para vários destinos
  • Canoas (RS) – havia somente um voo programado, para Santa Maria (RS)
  • Santa Maria (RS) – sem voos programados, mas com previsão de vários voos para Porto Alegre nos próximos dias
  • Florianópolis – expediente encerrado
  • Belo Horizonte – não souberam fornecer informações sobre os voos e orientaram ligar para o CAN do Rio de Janeiro
  • Belém – ninguém atendeu
  • Brasília – ninguém atendeu
  • Porto Velho – ninguém atendeu
  • Rio de Janeiro – ninguém atendeu
  • Boa Vista – ligação não completa
  • Manaus – ligação não completa
  • Natal – ligação não completa
  • Pirassununga (SP) – número informado não existe
  • Recife – número informado incorreto
  • Salvador – número informado incorreto

À reportagem, a secretaria de comunicação da FAB, situada em Brasília, disse que irá corrigir os números informados na página oficial do órgão.

HISTÓRIA…

Gastos indevidos de dinheiro público: não é de hoje…

Em 1991, uma kombi com chapa branca levou dois cachorros de Rogério Magri, então ministro do Trabalho e da Previdência Social, para o veterinário, como mostra denúncia do dia 15 de maio feita pelo jornal Folha de S.Paulo (à direita). O ministro de Fernando Collor disse que sua cadela Orca estava grávida e que precisava de cuidados, imortalizando a frase: “cachorro também é ser humano” 

Autoridades fazem uso indevido de aviões

O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta sexta-feira (5) que vai devolver R$ 32 mil aos cofres públicos devido ao uso de um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) no último dia 15 de junho, para fins particulares. Segundo a “Folha de S.Paulo”, Renan requisitou um avião modelo C-99 para ir de Maceió a Porto Seguro (BA), onde participou do casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB-AM).

Hoje, a “Folha de S.Paulo” revelou que o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, também fez uso de aeronave oficial em final de semana, o ministro saiu de Brasília na sexta-feira passada, às 6h, com destino a Fortaleza para cumprir agenda oficial na cidade de Nova Morada (CE). O compromisso acabou pela manhã, e, em vez de retornar à capital, o ministro foi direto para o Rio de Janeiro, onde não tinha compromissos oficiais.

Até o presidente do STF se aproveitou da boquinha: VEJA AQUI!

Em nota oficial, o Ministério da Previdência declarou que Garibaldi Alves tinha passagem comprada para ir ao Rio em avião comercial. O documento também afirma que o ministro voltou a Brasília em voo comercial, e não informa se Alves pretende ou não devolver o dinheiro gasto aos cofres públicos.

No entanto, segundo a nota, ele decidiu mudar o itinerário e avisou a mudança ao Comando da Aeronáutica. “Ao final da cerimônia oficial no Ceará, em vez de retornar a Brasília, ou mesmo a Natal, como lhe facultava o art. 4º do Decreto n.º 4.244/2002, a aeronave da FAB o levou diretamente ao Rio de Janeiro. ”

Garibaldi é primo do presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que também usou avião da FAB para ver o mesmo jogo da seleção no Maracanã, em que levou sete convidados de Natal para o Rio. Alves disse que ressarciu o dinheiro das passagens aos cofres públicos.

Nesta sexta-feira (5), Gabribaldi comunicou ao Palácio do Planalto que irá ressarcir os cofres públicos do valor do voo no avião da FAB.

Nas solicitações para usar as aeronaves da Força Aérea Brasileira, Renan e Henrique Alves alegaram que a viagem seria “a serviço”, de acordo com o que estabelece o decreto 4.244/2002 – que prevê atendimento apenas para situações em que haja motivo de segurança, emergência médica, serviço e deslocamentos para o local de residência permanente. A assessoria da FAB informou não dispor, até o momento, da justificativa apresentada pelo ministério para a ida de Garibaldi ao Rio de Janeiro.

FONTE: UOL.


nelson missias
Nelson Missias, ex-secretário-geral, alega desvirtuamento da missão da AMB

Denúncias de “desvirtuamento” da função da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) abriu uma crise na instituição, culminando na renúncia de 22 juízes. Os magistrados que entregaram seus cargos de direção se reuniram nesta terça-feira (4), em Brasília, onde fundaram o Movimento de Unidade da Magistratura Brasileira, com o objetivo de ouvir e priorizar as demandas dos juízes, especialmente os de primeiro grau. Segundo os juízes, a entidade “perdeu o rumo e a identidade”.

atual presidente da AMB, Nelson Calandra, é alvo de críticas da classe. Um dos líderes do movimento contrário à atual direção, o ex-secretário-geral Nelson Missias, alega que faltam ações políticas de valorização dos juízes. Ele acusa a AMB de não implantar um projeto político de valorização do magistrado brasileiro, o que teria sido prometido no início do mandato de Calandra.

“Decidimos nos afastar por uma série de fatos. Faltaram ações eficazes para ajudar a magistratura. Discordamos de uma série de encaminhamentos políticos e administrativos da direção”, disse Missias. Assim como o juiz tem independência no ato de julgar ele também tem que ter independência para tomar seus rumos”, acrescentou.

Além do lançamento de um movimento “independente”, os diretores que renunciaram entregaram a Calandra um documento oficializando a insatisfação. “Há algum tempo, o inconformismo dos signatários deste documento quanto aos rumos administrativos e políticos dessa prestigiada entidade tem sido manifestado, sem, contudo, encontrar o eco necessário. Assim, renunciam, coletivamente, dos cargos e funções que ocupam, de forma irrevogável e irretratável”, registrou o ofício.

O vice-presidente da AMB, Marcos Daros, também aderiu ao movimento. “Há uma frustração com a condução daquilo que seria um grande projeto político. Sequer tentaram implementar o projeto. Não passou de uma piada”, criticou, referindo-se ao que definiu como falta de comando na entidade e à excessiva interferência de pessoas de fora da magistratura na instituição.

A vice-presidente de Interiorização, Maria Luíza Sant’ana, que integrou a lista de renúncia, reclamou da falta de defesa pelos interesses da classe. “Deixaram de atender ‘as reivindicações dos magistrados. A AMB perdeu a identidade com o magistrado, especialmente com os juízes e juízas do interior brasileiro”.

O vice-presidente da Escola Nacional da Magistratura (ENM), Marcelo Piragibe, reclamou da falta de cuidado com o projeto de valorização do magistrado brasileiro. “Vamos buscar a unidade e a valorização da magistratura por um caminho novo para um novo tempo”.

Esvaziamento

O esvaziamento da entidade começou em outubro do ano passado, com a renúncia do diretor-tesoureiro da AMB, Átila Naves. “Renunciei ao cargo em outubro por discordar dos rumos da política financeira da entidade”, disse ele, que prenunciou o atual desfecho.

Um mês depois, em novembro de 2012, seguiu caminho semelhante o diretor da Secretaria de Direitos e Prerrogativas e atual presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj), Cláudio Dell’Orto. “Saí por conta das dificuldades na implementação de medidas em defesa dos direitos e das prerrogativas dos magistrados”, apontou Dell’Orto.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com a assessoria da AMB, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno. A assessoria informou que a cúpula da associação estava em uma reunião interna. Não houve retorno para os pedidos de entrevista.

 FONTE: Hoje Em Dia.


NHÁ CHICA – batificação

 

Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação da Causa dos Santos e representante do papa Francisco, chega para a missa campal (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação da Causa dos Santos e representante do papa Francisco, chega para a missa campal

Em uma cerimônia marcada pela emoção e determinação dos fiéis, que enfrentam o forte calor da cidade de Baependi, na tarde deste sábado, a mineira Francisca de Paul de Jesus, a Nhá Chica, foi beatificada pelo Vaticano, tornando-se a primeira negra, filha de uma ex-escrava, a receber a consagração no Brasil.

Cerca de 40 mil pessoas acompanham a missa campal, que começou às 15h, acompanhada por uma orquestra de câmara e um coral de 140 vozes que entoaram o hino especialmente composto para a ocasião pelo padre Luís Henrique Eloy e Silva, professor de sagradas escrituras na PUC Minas, em Belo Horizonte, e dom Diamantino Prata de Carvalho.

Às 15h30, o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação da Causa dos Santos e representante do papa Francisco, leu a carta apostólica que declara venerável a serva de Deus Francisca de Paula de Jesus. O dia da festa de Nhá Chica será 14 de junho, que é o dia de sua morte e o nascimento dela no Céu, para a igreja. Esta foi a primeira beatificação do pontificado do papa Francisco I.

Caminho religioso

 (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

“Nhá Chica representa a fé do povo mineiro”, disse o governado do estado, Antônio Augusto Anastasia, que acompanha a cerimônia. Nesta tarde, ele anunciou que Baependi será um dos primeiros municípios do estado a receber as intervenções para a criação do Caminho Religioso da Estrada Real (CRER), projeto do governo do estado que vai ligar o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na Região Central de Minas, ao Santuário de Aparecida, em São Paulo.

Serão 850 quilômetros englobando 86 municípios, sendo 37 na rota principal e 49 na área de abrangência. Ainda segundo Anastasia, o projeto foi dividido em duas etapas. Na primeira, foram feitos levantamentos nas áreas. A segunda etapa, que começa nos próximos meses, será a fase de estruturação do caminho religioso. Em São João del-Rei, cidade onde Nhá Chica nasceu, receberá obras de infraestrutura para receber peregrinações.

LINHA DO TEMPO DE NHÁ CHICA

» 1810 – Francisca de Paula de Jesus,
a Nhá Chica, nasce no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, que pertencia a São João del-Rei, na região do Campo das Vertentes. É batizada em 26 de abril daquele ano

» 1814-1815 –Com a mãe, Isabel e o
irmão, Teotônio, Francisca, filha de ex-escrava, muda-se para Baependi. Isabel morre em 1818

» 1863 –Nhá Chica inicia a
construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição.

» 1895 – Em 14 de junho, Nhá Chica
morre em Baependi. Ela fica quatro dias insepulta. Contam que seu corpo exalava cheiro de rosas.

» 1952 –Começa a primeira
campanha para beatificação de Nhá Chica.

» 1954 – A capela construída pela
leiga é confiada às Irmãs Franciscanas do Senhor (IFS), que mantêm a Associação Beneficente Nhá Chica.

» 1989 – Nova comissão é formada
para beatificação da leiga.

» 1991 – Nhá Chica recebe
oficialmente o título de Serva de Deus da Congregação das Causas dos Santos do Vaticano.

» 1992 – Em 14 de janeiro, é
instalada a comissão pela beatificação de Nhá Chica.

» 1993 –Em 16 de julho, tem início o
processo informativo diocesano, pelo bispo diocesano de Campanha, dom Aloísio Roque Oppermann.

» 1998 – Em 18 de junho, é feita a
exumação dos restos mortais de Nhá Chica, na presença de autoridades eclesiásticas, de integrantes do tribunal eclesiástico pela causa de beatificação e médicos-legistas.

» 2001 –Publicado o Positio,
documento que reúne todos os dados e testemunhos recolhidos na fase diocesana, que corresponde à primeira etapa do processo de beatificação.

» 2004 –Em 30 de abril, religiosos
brasileiros reunidos na 42ª Assembleia Geral de Bispos do Brasil, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), assinam documento pedindo a beatificação de Nhá Chica. Documento reuniu 204 assinaturas e foi encaminhado pela diocese de Campanha ao papa João Paulo II.

» 2010 – Em 8 de junho, no Vaticano,
comissão de cardeais dá o parecer favorável às virtudes da Serva de Deus Nhá Chica.

» 2011 –Em 14 de janeiro, o papa
Bento XVI aprova as virtudes heroicas (castidade, obediência, fé, pobreza, esperança, caridade, fortaleza, prudência, temperança, justiça e humildade) e concede o título de venerável.

» 2011 –Comissão médica da
Congregação das Causas dos Santos do Vaticano reconhece o milagre ocorrido por intercessão de Nhá Chica em favor da professora Ana Lúcia Meirelles Leite. Os sete médicos deram voto favorável: a cura não tem explicação científica.

» 2012 –Em 5 de junho, estudo do
milagre é analisado pela comissão de cardeais da Santa Sé. No dia 28, Bento XVI promulga decreto de beatificação de Nhá Chica. Cerimônia oficial é marcada para 4 de maio.

 (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
FONTE: Estado de Minas.